sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Reforma Agrária Popular

Por MST-RS

“A liberdade da terra não é assunto de lavradores. A liberdade da terra é assunto de todos quantos se alimentam dos frutos da terra” (Pedro Tierra).
Para falar em reforma agrária primeiramente consideramos que a terra é um bem universal, o que significa que ela se destina aos homens e aos povos para usufruírem dos bens necessários para viver dignamente. Na Constituição Federal de 1988, a terra esta ligada a uma missão especial. O documento elenca cinco critérios para que uma propriedade cumpra sua função social: que seja produtiva; que seus recursos naturais sejam utilizados de forma racional e adequada; que haja compromisso com a preservação do meio ambiente; e que proporcione o  bem estar dos proprietários e dos trabalhadores. 
Sendo a terra um bem dado a todos e devendo cumprir sua função de garantia do bem de todos, deve ser repartida. Como a atual estrutura fundiária é de concentração, deve haver a desapropriação dos grandes latifúndios, para fins de reforma agrária, para que eles sirvam de fonte de renda e de vida a tantas famílias, com o direito de tirar da terra seu sustento e produzir alimentos.
Em nossas lutas e mobilizações, defendemos uma reforma agrária não apenas com distribuição de terras, mas uma reforma agrária popular, que inclua a implantação de estratégias de infraestrutura social para o campo, com o fortalecimento das comunidades rurais, espaços de lazer, posto de saúde, estradas, casas, acesso as tecnologias de comunicação, de tecnologias voltadas à produção de alimentos, o direito à educação do campo e etc. Um projeto para o campo em que a produção agrícola seja diversificada, utilizando-se técnicas de produção agroecológicas, que busquem o aumento da produtividade das áreas e do trabalho, em equilíbrio com a natureza.
A industrialização no campo com desenvolvimento das agroindústrias e uma política agrícola que incentive e qualifique a agricultura camponesa oferecendo condições para que os jovens permaneçam no campo, estão entre as necessidades mais urgentes na atualidade. 
A reforma agrária popular é a continuidade da presença dos camponeses no campo. João Rodrigues Almeida, 61 anos, assentado há 25 anos, relata sua experiência:
 “A vida no assentamento é simples, cultivamos os valores essenciais da existência do assentamento, os valores da cultura, de manter uma agricultura com sementes próprias.” [...] “A sociedade precisa da proposta da agricultura sustentável da agroecologia, o melhoramento das plantas, da genética e da pesquisa para ir cultivando produtos saudáveis, investir mais na educação e melhorar a renda para os jovens”.  
Para ele, a “reforma agrária popular é o avanço que os pobres podem ter. Todo pobre que acredita e luta pode transformar a sua vida, da família e do grupo onde vive. Para mim significa minha própria existência, minha própria vida. Se eu não tivesse entrado no programa com certeza minha vida seria bem menos humana do que é hoje. Temos aqui uma riqueza de mato, e onde existe mato e água se pode preservar a vida”.
É com políticas públicas no campo que vamos enfrentar a pobreza e o êxodo rural que o agronegócio tem imposto. É através delas que se pode garantir soberania alimentar para os camponeses, que são os verdadeiros produtores de alimentos e também para os trabalhadores da cidade. A reforma agrária popular vai além da distribuição de terras. Reflete a mudança de hábitos, de costumes e da relação com a terra, a natureza e o próprio homem. Ela engloba a construção de um projeto agrário que beneficia o campo e a cidade, e que é promotor de saúde, cooperação, igualdade, dignidade e justiça social.

Questões para debate:
1) A terra é dom de Deus. Porque alguns insistem em ser donos de grandes áreas de terra deixando outros privados deste bem?
2) Você conhece algum latifúndio?
3) Qual a função da terra? Produzir alimentos ou negócios?

Agroecologia: Demanda por Alimentos de Maior Qualidade e com Segurança Alimentar

Por Rodrigo Battistella

Durante os últimos anos, temendo-se a previsão de Thomas Malthus, que no fim do século XVIII pregava que a humanidade cresceria a uma taxa geométrica e a oferta de alimentos a uma progressão aritmética, o que culminaria em uma falta crônica de alimentos e mergulharia o mundo em uma onda de fome, procurou-se aumentar a produtividade de alimentos por área com o emprego de tecnologias oriundas do uso de fertilizantes químico-minerais, agroquímicos, melhoramento de plantas e intensificação de criações.
Tal prática cumpriu seu dever inicial e as previsões catastróficas da teoria malthusiana não se cumpriram, sendo hoje a produção de alimentos compatível com a necessidade alimentar da humanidade, ainda com excedentes. Porém, o uso indiscriminado de tais tecnologias causou e vem causando grande impacto ao ambiente, refletindo isso na degradação do solo, surgimento de pragas e doenças de controle cada vez mais difíceis, sistemas produtivos cada vez mais dependentes de insumos externos, perda de soberania e segurança alimentar.
Estes problemas vêm causando na sociedade uma discussão sobre os modelos produtivos de alimentos. Desafia a pensar modelos baseados na lógica de se produzir mais por área sem observar os impactos desta prática ao meio ambiente nem a qualidade nutricional e de segurança alimentar. Além disso, é importante levar em conta a capacidade de se manter estes sistemas ao longo do tempo, pois os recursos naturais não são inesgotáveis.
Estas discussões vêm avançando e gradualmente percebe-se uma demanda da sociedade por alimentos produzidos de forma sustentável. Isso se dá num duplo sentido. Em um primeiro momento, preocupados com aspectos de qualidade e segurança alimentar e, em um segundo momento, preocupados com a degradação que estes sistemas convencionais provocam ao planeta. 
Neste contexto, aparece a alternativa da produção agroecológica, caracterizada não apenas por priorizar critérios produtivos, mas também por  respeitar as questões ambientais e ofertar alimentos seguros e nutritivos.
A produção agroecológica, adapta-se a um desenho agrícola de pequenas propriedades, com produção variada, não focada em uma única cultura, e desta forma encontra na agricultura familiar um amplo espaço para expansão. Transforma-se em alternativa de grande valia para a agregação de valor e manutenção deste tipo de produção, uma vez que este segmento da agricultura não é competitivo quanto à produção de monocultivos.
De acordo com o senso agropecuário de 2006, o país conta com 4,93 milhões de hectares destinados à produção de orgânicos, em cerca de 90 mil estabelecimentos. Levando-se em conta que o número de estabelecimentos de agricultura familiar no mesmo período era de 4,3 milhões estabelecimentos e que ano a ano aumenta o número de consumidores interessados em produtos orgânicos, percebe-se o potencial de aumento da adoção da produção agroecológica por parte de produtores familiares.
Outro fator que indica o aumento da produção orgânica nas propriedades familiares são os benefícios trazidos por esta atividade aos agricultores, além de um aumento dos preços pagos a estes produtos, que em alguns casos pode representar um aumento de 100%na comparação como produto convencional. Nesta perspectiva, os agricultores trabalham em um sistema de produção menos agressivo à própria saúde, uma vez que nos modelos atuais é inevitável o uso de agroquímicos e, por conseguinte, o contato do produtor com tais moléculas.
O modelo de produção orgânica também se caracteriza pela capacidade de resiliência, pois permite que o meio ambiente reponha naturalmente aquilo que foi utilizado. Favorece a preservação de fontes e rios, pelo não uso de agrotóxicos. Em síntese, caracteriza-se por uma relação harmônica entre ser humano e meio ambiente, a exemplo do que Deus sonhou para a humanidade em relação aos bens da criação. 
Desta forma, a adoção da produção agroecológica emerge como uma prática viável de agregação de valor para as propriedades familiares, remunerando melhor os agricultores adotantes destas práticas, e se apresenta aos consumidores como uma forma de oferta de alimentos de qualidade nutricional superior e com garantias de segurança.

Questões para debate:
1) Quais os alimentos que hoje os agricultores conseguem produzir sem agrotóxicos?
2) Levando em conta a criação do mundo, o que Deus diria hoje aos usuários da Terra?

O Fenômeno da Mística e os Movimentos Sociais

Por Maura da Silva Leitzke

A utilização da expressão mística nas atividades dos movimentos sociais marca uma expressão que é sinônimo de animação. Falar em mística implica falar em mistério, força invisível sem uma explicação palpável, que desperta a sensibilidade e a admiração por atitudes ou comportamentos humanos dignos de reconhecimento. É através da mística que se descobre uma força infinita que habita o ser de quem luta na busca do bem comum. Acima de tudo, mística traduz a vontade de lutar por uma causa e jamais desistir diante dos percalços da vida.
A definição de mística está diretamente ligada ao coração do homem que tem com seu chão uma relação de amor puro e fraternal, pois a terra é sinônimo de vida, de renascimento, a cada colheita se renova a aliança do Deus amor para com seu povo, garantindo a cada florescer a esperança do recomeço.
Mas a mística é muito mais. Ela é a motivação que nos faz viver a causa até o fim. É aquela energia que temos e que não nos deixa dizer não, quando nos solicitam ajuda. É a vontade de estar em todos os lugares ao mesmo tempo, de querer ajudar e realizar coisas que façam a luta ser vitoriosa.
A mística pode ser exteriorizada de muitas maneiras, cada um a expressa de forma diferente e dá de si aquilo que possui, na forma de carisma, talentos ou habilidades, reações que acontecem sem que se saiba exatamente a origem e nem o porquê. Quer dizer a busca de entender o que está escondido por traz das coisas. A mística é a procura de explicações e ao mesmo tempo o impulso para viver o inexplicável.
Especialmente no início dos anos 80, os movimentos sociais ligados aos camponeses, originados na necessidade de redistribuição fundiária, mas acima de tudo na necessidade do acesso à terra para a produção de alimentos,  descobrem em si qualidades ignoradas pelas forças políticas partidárias tradicionais, o uso da mística oriunda da força conjunta. Utilizando como exemplo o acampamento da Encruzilhada Natalino, essa mística produz a derrota do poderio militar do temido Coronel Curió. É nesse episódio da história que fica clara a supremacia do poder da mística, que se traduz na capacidade de organização, de formular planos de ação, na formação estratégica de lideranças, externando um poder transformador capaz de mudar a realidade para o bem da comunidade.
A mística tem o poder de fazer com que cada pessoa desenvolva uma consciência de pertencimento, de sincronia. Não importa as diferenças étnicas e culturais que possam existir, nasce um sentimento partilhado e almejado por todos por mais diferentes que possam parecer.
A importância da mística é atual e se renova a cada dia. É dela a força impulsionadora que dá sustentação e continuidade à evolução social, que se traduz na defesa da terra, do meio ambiente, da sustentabilidade. A mística é fonte de energia que incentiva e impele, despertando para os anais da história a resistência, a superação e força dos movimentos sociais, protagonistas da transformação social.
Foram os movimentos sociais que, num período marcado pelo autoritarismo da ditadura militar, resgataram o sentido da mística e o inseriram definitivamente na esfera político social.

Questões para debate
1)Nas lutas populares, por direitos para todos, qual a importância da fé e da participação na Igreja?
2) Porque aqueles que rezam são mais firmes na luta? Qual o papel da oração na luta por justiça social?

Juventude Rural e Agricultura Familiar, Uma Relação Social a ser (re) Construída

Por Vilmar Wruch Leitzke

As mudanças ocorridas desde 1980 nos permitem visualizar aumentos significativos da produção agrícola, parte pela ampliação das áreas cultivadas, mas principalmente pelo uso de tecnologias ditas “modernas”, fruto da “Revolução Verde da Agricultura”. Porém, esses aumentos de produção não têm contribuído para ampliar a renda do agricultor, induzindo- o a usar cada vez mais esses insumos e “tecnologias”.
Se até 1980, os lucros auferidos com a produção agrícola ficavam com o agricultor, a partir daí se tem a transferência dos lucros da produção para quem detém a tecnologia (equipamentos, tratores, implementos, sementes hibridas, corretivos do solo, fertilizantes e agroquímicos para uso no controle de invasoras, doenças). Os resultados dessa mudança de matriz tecnológica foram visíveis. Mesmo com o aumento da produção, muitas famílias se viram à margem desse processo e foram obrigadas a buscar outras alternativas de reprodução social (fenômeno do êxodo rural). Para as famílias que permaneceram no meio rural, as dificuldades não foram superadas. Os problemas de transferência de renda do agricultor para o detentor/fornecedor de insumos e, mais recentemente, para o distribuidor/varejista, se intensificam, associado ao agravamento dos problemas ambientais. A adoção desse pacote tecnológico não tem contribuído para atrair jovens para permanecerem no meio rural e tem aumentado as dificuldades de continuidade de muitas propriedades rurais.
Essa situação remete o meio rural a uma crise que envolve aspectos econômicos, sociais, éticos, culturais, políticos e religiosos e que tem atingido mais fortemente a juventude rural e por consequência a sucessão da propriedade rural familiar. Apontar somente um fator como o motivador para a saída do jovem do meio rural, é no mínimo simplificar um tema complexo. Embora algumas análises preliminares apontam para a ausência de renda do jovem no meio rural, outros aspectos devem ser inseridos nesse debate.
Um deles está vinculado ao rótulo de “burro e atrasado” e de sujeito “sofrido, coitado e desprezível” atribuído pelos centros urbanos para aqueles que vivem na terra. A partir desses rótulos, a própria família começa a negar sua condição de agricultor familiar e estimula seus descendentes a buscarem alternativas externas a propriedade familiar e a agricultura, sendo frequentes os relatos por parte daqueles que permaneceram no meio rural que ficaram por não terem tido outra opção ou escolha.
Associado a essa negação do “ser agricultor familiar”, faz-se necessária a reflexão de quais são os espaços de representatividade e principalmente de pertencimento desse jovem enquanto ator social no contexto da agricultura familiar. Como tem sido a inserção desse jovem, filho de agricultor, nas cooperativas e nos sindicatos, nos espaços onde se estabelecem as relações sociais locais?
No modelo de gestão da propriedade tradicional, todos trabalham, mas somente o pai decide sobre a divisão do resultado do trabalho (rendas) e dos rumos da propriedade. Tudo isso, associado às incertezas relacionadas ao processo de transmissão da terra, não devem ser descartados como importantes estimulantes para a antecipação da saída do jovem do meio rural.
Nessa perspectiva, o centro do debate sobre sucessão rural familiar deve passar pela autonomia que o jovem tem e pelas oportunidades que lhe são oferecidas para que possa fazer do meio rural uma opção em ficar e produzir, e não de permanecer por falta de opção.
Nesse contexto, torna-se necessária a construção de políticas públicas com o objetivo de preparar o jovem com educação direcionada para as atividades típicas da agricultura familiar, contribuindo para o enfrentamento das reais causas do abandono do meio rural, tais como falta de acesso à terra, ao  crédito, a uma educação emancipadora e libertadora, de forma a valorizar o meio rural, associado ao acesso à informação e ao entretenimento.
Algumas experiências com a produção de alimentos agroecológicos, agroindústrias familiares, associativismo e cooperativismo, modelo de educação por alternância direcionado para preparar jovens agricultores estão em curso no Rio Grande do Sul. Embora de forma incipiente, têm um papel importante. Da mesma forma alguma das atuais políticas públicas têm contribuído nesse sentido, porém não têm sido suficientes para atender às demandas desse jovem que percebe o rural de forma distinta do que os seus antecessores.
Essas políticas deverão ser adequadas visando conciliar os anseios do jovem, mas também para fazer o contraponto ao atual modelo de produção, produto da “modernização da agricultura”. Tais políticas públicas deverão levar em consideração os componentes sociais, econômicos, éticos, culturais, políticos e religiosos, com vistas a estimular a permanência desse jovem no meio rural.
Só assim será possível a permanência e a boa convivência das pessoas no meio rural, além da produção de alimentos saudáveis, com menor carga de agroquímicos e um maior compromisso com a preservação ambiental, diferentemente do atual modelo de produção predominante.

Questões para debate:
1) Quais são as maiores dificuldades para um jovem permanecer na vida rural?
2) Quem deve tomar as decisões numa família de agricultores: o pai? O pai e a mãe? A família toda?

Mudança de Época, e daí?

Por Padre Ivanir Rodighero

Você se lembra da letra da música “Roda Viva” escrita e cantada por Chico Buarque de Holanda? Vamos lembrá-la?

/: Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa no nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda-viva e carrega o destino pra lá :/

Não será esta canção uma imagem do que está acontecendo no mundo em que vivemos? As épocas, como uma roda vida, mudam e levam consigo muitas coisas e fazem aparecer outras tantas que nos obrigam a novas adaptações e, mais do que isto, nos desafiam a adquirir novos conhecimentos e a buscar novos caminhos para realizar nossa vida. Nesta roda vida, o mundo muda, nós mudamos, mudam os caminhos e conosco todos mudam.
Novamente estamos numa “mudança de época”. O que ela nos impõe e propõe? Como foi o processo que levou o mundo neste novo contexto de mudança? Vamos olhar para trás para juntos refazermos o caminho histórico que nos trouxe até este tempo chamado de modernidade ou, como dizem alguns, de pós-modernidade e que agora quer e está impondo novas mudanças. Estas parecem indicar, como afirmam estudiosos, que estamos numa mudança civilizacional. Comecemos pela comunicação.
Há cinquenta anos, a comunicação era praticamente restrita ao âmbito familiar e comunitário. O que havia para suprir as distâncias eram as cartas que demoravam semanas e semanas. Apenas alguns jornais entravam nas casas e não em todas. Era privilégio de algumas famílias estes meios de comunicação, onde também se podia ouvir o som transmitido pelos aparelhos de rádio.
E hoje? Na era da internet, uma notícia chega aos “quatro cantos do mundo” em frações de segundos. Por meio do computador, vemos – virtualmente – o mundo e nos comunicamos com ele, mobilizamo-nos para um universo de coisas boas e, muitas vezes, ruins, quando não, muito ruins.
Com certeza todos ouviram histórias contadas pelos avós ou por outras pessoas amigas sobre os seus modos de viver no passado, especialmente, no cotidiano familiar. Os nossos avós agricultores, em sua infância, para aquecer água acendiam o fogão à lenha e esperavam um tempo razoável até que a mesma ficasse quente. Hoje, com as tecnologias modernas, temos água quente a todo tempo.
Mas é, sobretudo, na agricultura que a “roda viva” do tempo provocou muitas transformações. A modernização da agricultura, gerada de forma intensa pela introdução da tecnologia mecanizada, pelo uso de inseticidas e de herbicidas, “levou para lá” a agricultura artesanal e trouxe “para cá” as monoculturas produzidas de forma intensiva, exigindo a substituição da enxada e dos outros implementos rudimentares por tratores, colheitadeiras e implementos de alta tecnologia.
Este processo acabou por concentrar ainda mais a propriedade da terra, aumentando a rentabilidade dos grandes proprietários e tornando os agricultores de pequeno porte ainda mais vulneráveis. A concentração da terra como propriedade de poucos tornou-se causa principal da migração forçada de milhares de famílias que, deixando o seu extenso mundo rural, foram se “amontoando” nas periferias das cidades.
Assim foi acontecendo com todos os setores da vida humana. O demógrafo e professor universitário, diácono permanente Ricardo Rossato, denomina isto de mudança de época. Diz ele que “as mudanças processadas nos últimos 20 anos são tão radicais que correspondem às dos últimos 20 séculos. Nenhuma época pode ser comparada com a atual. O processo de mudanças é constante e atinge a todos os setores e a todo o planeta ao mesmo tempo”. As diversas situações que vivemos tendem a não serem mais vistas como duradouras e eternas como pareciam ser. Ao contrário, como bem diz a poesia, elas são “eternas enquanto duram”.
Tudo se parece com um espírito que corre veloz nas ondas invisíveis e nas fibras ópticas de um mundo globalizado, que, apesar dos avanços tecnológicos, ainda persiste em mostrar o incômodo da miséria, do analfabetismo, do racismo, da exploração sexual, da corrupção e das injustiças sociais reinantes em grande parte do nosso planeta. A globalização ainda não acontece satisfatoriamente na promoção da solidariedade, da cultura da paz, da justiça e do acesso universal aos bens necessários à vida.
As instituições, como a família, a escola, o Estado e as Igrejas, sentem-se inseguras perante este novo universo. A família, muitas vezes, se esfacela, adotando multiconfigurações, sentindo-se impotente para transmitir os valores humanos e para promover a construção de um estilo de vida verdadeiramente humano entre as gerações jovens. A instituição escolar se fragilizou e já não consegue ser um centro competente de socialização do conhecimento, de produção de novas respostas e de capacitação para os desafios da atualidade. O Estado passou a ser dominado pelo mercado e, com isto, incapaz, em muitas circunstâncias, de gerar o bem comum, a justiça e a cidadania para todos. As dificuldades aumentam ainda porque na atualidade ocorre uma supervalorização da subjetividade individualista, da novidade, do prazer imediato, do transitório, da estética-agressiva.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB, no documento 93, n. 22, que trata da formação de novos padres, diz que existem três atitudes frente à mudança de época: 1ª - há pessoas e grupos que não se dão conta que estão vivendo as consequências das mudanças em andamento; 2ª - há pessoas e grupos que reagem às mudanças fechando-se ao real mediante práticas fundamentalistas, com rigidez, buscando segurança em um estilo de vida próprio do passado; 3ª - há pessoas e grupos que tentam responder aos desafios de hoje com novas respostas. Em que grupo nos situamos?
O que mais interessa a Deus é um mundo humano, justo, fraterno e amável. Jesus buscou, quando esteve entre nós, vida digna, sadia e feliz para todos, a começar pelos últimos. O que faz Deus feliz, segundo José Antonio Pagola, “é ver-nos felizes, desde agora e para sempre. É esta a Boa Notícia que nos é revelada em Jesus Cristo: Deus se nos dá a si mesmo como aquilo que ele é: Amor”.

Questões para debate:
1) Convidar pessoas idosas para partilhar experiência de vida de sua infância e juventude. Como era naquele tempo?
2) Quais as principais mudanças sentidas nos últimos anos? Como cultivar a fraternidade neste novo contexto?

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Celebração dos 259 anos da morte de Sepé Tiaraju

SEMANA DA CELEBRAÇÃO DOS 259 ANOS DA MORTE DE SEPÉ TIARAJU
02/02 a 07/02 – São Gabriel/RS

HISTÓRICO
Em 07 de fevereiro de 1756 os exércitos espanhóis e portugueses se uniram para massacrar os povos indígenas que lutavam na defesa de seus territórios. Numa dessas batalhas, foram mortos mais de 1500 guerreiros guaranis e Sepé Tiaraju foi assassinado. 
No entanto, a luta de Sepé Tiaraju e de seus companheiros, que aconteceu em nossa região há 259 anos, continua até hoje. Os povos indígenas e quilombolas, como naquele período, lutam contra as injustiças, a discriminação e pelo direito de viverem em seus territórios.
No ano de 2006, entre os dias 04 e 07 de fevereiro, foi realizado um grande evento para homenagear e celebrar os 250 anos de morte de Sepé Tiaraju. Desde então, o Povo Guarani organiza em nossa cidade, anualmente, um encontro de representantes de comunidades indígenas para rememorar a história de luta dos povos indígenas, bem como para marcar a data de 07 de fevereiro como dia de celebração, articulação e mobilização da etnia em defesa da vida. 
Neste ano de 2015, a Prefeitura Municipal de São Gabriel, juntamente com lideranças guaranis e entidades ligadas à defesa dos direitos indígenas, está organizando uma série de atividades para resgatar as lutas indígenas e mobilizar a nossa comunidade em favor disso!

PROGRAMAÇÃO
SEGUNDA-FEIRA - 02/02 
20h – Abertura da exposição sobre Sepé Tiaraju no Museu Nossa Senhora do Rosário Bom Fim. QUINTA-FEIRA - 05/02 
8h - 12h – Recepção aos índios e à equipe da Bicicletada no Parque Tradicionalista Rincão das Carretas.
12h - Almoço de confraternização organizado pelos indígenas com a participação de autoridades (Local: Parque Tradicionalista Rincão das Carretas).
15h – I Reunião interna dos índios (Local: Parque Tradicionalista Rincão das Carretas).
19h30 - Apresentação teatral da equipe da Bicicletada em frente ao Museu Nossa Senhora do Rosário Bom Fim.
SEXTA-FEIRA - 06/02 
9h – II Reunião interna dos índios (Local: Parque Tradicionalista Rincão das Carretas).
16h - Bicicletada nas principais ruas da cidade, com paradas na Praça Dr. Fernando Abbott, Praça Camilo Mércio e Praça Tunuca Silveira.
18h30 – Jogo de futebol no Estádio Municipal (atividade que agregará governo, CIMI e equipe da Bicicletada). 21h - Palestra no Parque Tradicionalista Rincão das Carretas com José Roberto Oliveira e com lideranças guaranis.
SÁBADO - 07/02 
6h - Deslocamento dos índios até a Coxilha (celebração de ritual indígena) 9h30 - Missa da Terra Sem Males, na Chácara Juca Tigre.
11h30 (ou assim que terminar a Missa) - Inauguração da Trilha Ecológica "Pelos Caminhos de Sepé", na Chácara Juca Tigre.
12h30 - Almoço de confraternização organizado pelos indígenas com a participação de autoridades (Local: Parque Tradicionalista Rincão das Carretas).
16h - Retorno à Chácara Juca Tigre, para apresentações de corais indígenas e outras atrações culturais.
19h - Inauguração da Estátua em concreto aramado de Sepé Tiaraju e encerramento das atividades em sua homenagem na Chácara Juca Tigre.

Carta da CPT à Presidenta Dilma referente a Liminar do STF na ADI 5209 contra a Lista Suja

A coordenação da Campanha Nacional da CPT de Combate ao Trabalho Escravo envia Carta à Presidenta Dilma em repúdio à aprovação pelo ministro Ricardo Lewandowski da Ação Direta de Inconstitucionalidade n° 5209, em 22 de dezembro último, que proibiu publicação do Cadastro, conhecido como “Lista Suja”, cuja nova atualização semestral (a 24ª desde que foi criado) seria divulgada no dia 30 de dezembro de 2014. 

Clique AQUI ou no linque que segue para ler a Carta na íntegra:
http://migre.me/odVME