segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Reforma Agrária, Cooperação e Agroecologia

Frutos do Cultivo de Vida Saudável

Ao participar inteiramente do processo de construção, realização, celebração e avaliação da 37ª Romaria da Terra, podemos afirmar que muitos foram os frutos alcançados com esta edição deste evento, que acontece todos os anos na Terça Feira de Carnaval. Vejamos estes frutos:

1. Processo participativo de preparação 
Já é uma marca constante de todas as Romarias da Terra um processo plenamente participativo na construção de todo o conjunto da Romaria. As lideranças sociais, religiosas, políticas, sindicais, juvenis tiveram amplo espaço de participação na preparação, construção, execução e avaliação desta Romaria da Terra. 

2. Debate nas Comunidades de Base
O jornal Voz da Terra, abordando a temática da Romaria, foi divulgado e utilizado nas mais diversas Comunidades de Base de todo o Rio Grande do Sul. Os líderes sociais e religiosos espalharam o subsídio preparatório e organizaram diversos encontros de leitura, estudo e debate do tema da Romaria deste ano. 

3. Articulação da juventude
O acampamento da juventude, o qual vem sendo uma realidade das últimas Romarias da Terra, foi um grande momento articulador das juventudes. Tanto os momentos sociais, urbanos e rurais, como as pastorais da juventude, encontraram no acampamento um momento propício para debater os temas candentes que envolvem o campo e a cidade. A ação dos jovens é alentador e estimulante. 

4. Visualização dos frutos da Reforma Agrária
O fato de a Romaria da Terra deste ano ter acontecido num assentamento do Reforma Agrária, ao recebermos um quilo de arroz ecológico, distribuído pelos MST a todos os romeiros, fica provado que realmente a Reforma Agrária é urgente, necessária e viável. A Romaria mostrou a todos que o assentamento é organizado, produz de forma organizada, cooperativa e ecológica. Além de elevar a qualidade de vida dos assentados, dinamiza o comércio local, mostrando que as políticas públicas para o campo, se bem conduzidas, são viáveis e rentáveis. 

5. Interação Pastorais Sociais – Movimentos Sociais – Igreja Local – Poder público
A 37ª Romaria da Terra, pela forma como foi construída e conduzida, mostrou que aconteceu efetivamente uma interação de todas as Pastorais Sociais, puxados pela CPT-RS, numa relação harmoniosa e respeitosa com os movimentos sociais, a Igreja Local (Paróquia de Tapes e Vicariato de Guaíba), bem como com o poder público municipal. Aprendemos mutuamente a ser mais críticos das políticas sociais e públicas. Mostramos que a mística e a religiosidade do camponês, se bem celebração e vivida, são altamente libertadoras. 

6. Necessidade e viabilidade da Agricultura Ecológica
Num mundo e numa conjuntura agrícola marca pelo agronegócio, pelos transgênicos e pelos agrotóxicos, todos danosos à saúde humana, a Romaria mostrou a necessidade e a viabilidade de uma agricultura livre, voltada à produção de alimentos saudáveis, especialmente por meio da abertura da colheita do arroz ecológico. Produzir de forma orgânica, respeitando a natureza e os ecosistemas, eis o que fez a atual Romaria da Terra. Não é por nada que ela está em sua 37ª edição. É exatamente porque está voltada aos temas, necessidades, urgências e demandas reais que o Povo de Deus espera e precisa. 

7. Homenagem a lideranças latino-americanas
Ao homenagear líderes populares e latino-americanos, o MST nos mostrou que é possível fugir ao mero destaque e louvor dos dominantes, mas colocar na perspectiva e na ótica de pessoas e líderes políticos libertários e insurgentes. A homenagem prestada a Hugo Chaves, pelo MST, dando o nome ao Assentamento de Tapes de “Hugo Chaves”, mostra a liberdade e a autonomia de um movimento social que tem um longa e exitosa história em nosso País. Além desta homenagem foram lembrados muitos outros lideres sociais, religiosos e políticas que se destacaram no campo da Reforma Agrária, da cooperação e da agroecologia. 

8. A força da construção coletiva da cooperação
A agroindústria construída com a força da luta social e da organização dos assentados é uma prova concreta que todos nós presenciamos ao vermos aquele “monumento” tão bem visualizado e encenados pelos líderes e jovens do MST. Os romeiros da 37ª Romaria da Terra puderam ver e sentir a força da construção coletiva de uma luta e de pessoas conscientes de seu protagonismo na história do RS e do Brasil. A cooperação agrícola foi sentida e vivida, celebrada e encarnada pelos romeiros da terra deste ano. 

9. Urgência da Reforma Agrária para superar a fome a miséria
A bandeira da Reforma Agrária esteve no centro dos debates, da preparação, das denúncias, da celebração, da procissão e das proposições da 37ª Romaria da Terra. Se quisermos realmente superar a fome e a miséria, seja no campo como na cidade, a Reforma Agrária é um dos caminhos indispensáveis. Este é o clamor e o grito que brota do chão, da fé e do compromisso romeiro, realmente comprometido.

10. Unidade entre fé e compromisso político
Por fim, queria apontar que a 37ª Romaria da Terra soube criar uma unidade entre a fé bíblica, encarnada, comprometida e cristã, com o compromisso político que deseja contribuir na construção do bem comum, de uma sociedade realmente justa e solidária. Sem esta unidade estaremos comprometendo nossa fé em Jesus Cristo, pois uma fé alienada e manipulada não constrói o Reino de Deus e nem contribui na construção de uma sociedade alternativa. 
Os frutos da 37ª Romaria da Terra são um contributo importante na atual conjuntura política e eclesial. A CPT-RS espera que estes frutos continuem sendo difundidos e assumidos por todos os cristãos realmente comprometidos com a transformação da sociedade e na dinamização da ação pastoral da Igreja no RS.

Frei Wilson Dalagnol, frade capuchinho e membro da Equipe de Coordenação da CPT- RS
Comissão Pastoral da Terra do Rio Grande do Sul - CPT-RS

Link com informações sobre a 37ª Romaria da Terra: http://cptdors.blogspot.com.br/p/romaria-da-terra.html
Página da 38ª Romaria da Terra: http://cptdors.blogspot.com.br/p/38.html

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