segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Intercâmbio entre Bancos de Sementes Crioulas

Maurício, Oldi, Guilhermina e Cândida
Roça de cebola e amendoim.
por Maurício Queiroz*
Com apoio da Cáritas RS, nos dias 17 e 18 de novembro aconteceu o intercâmbio entre os Bancos de Sementes Crioulas em Erechim. Na verdade foi uma visita feita pelos Bancos de Sementes Crioulas de Santa Cruz do Sul e de Bagé, juntamente com representação da Cáritas Brasileira Regional do RS a fim de conhecer aquela experiência.
Participaram Banco de Sementes de Santa Cruz do Sul; Oldi Helena Jantsch, Maurício Queiroz e Cândida Taís Maders. Banco de Sementes Crioulas de Bagé: Tomás, Emerson Capelesso, Jean e Erni. Pela Cáritas RS Altair Pozzebon. Edson Klein do Banco de Sementes de Erechim fez um roteiro de visitas à 4 propriedades de agricultores e agricultoras envolvidos na produção de sementes crioulas, de um total de 15 famílias.
O depósito do Banco de Sementes
Crioulas é um casinha
coberta por terra para melhor
conservar as semente.
As visitas iniciaram na comunidade de Vaca Morta, município de Três Arroios, na propriedade da agricultora Zelinda. A família da Zelinda há quase 20 anos trabalha com agroecologia com assessoria do CETAP (Centro de Tecnologias Alternativas e Populares), dedicam-se a produção ecológica de hortaliças juntamente com mais 7 famílias que fazem feira semanal. Chamou nossa atenção nesta propriedade o pomar com laranjeiras, pereiras, macieiras, em sistema agroflorestal bem implantado, além do cultivo de sementes das seguintes hortaliças: salsa, linhaça, cenoura, rúcula e cebola. Para termos uma idéia a Zelinda produziu na última safra 60kg de sementes de rúcula. É nesta propriedade que está localizado o Banco de Sementes Crioulas, digamos assim a reserva das sementes que é guardado em uma pequena construção praticamente subterrânea, por que o Banco de Sementes Crioulas é desde as propriedades envolvidas.
A tardinha fomos visitar um casal de camponeses, o Agostinho e a Guilhermina, ele de origem Italiana e ela de origem Alemã que acabou se entretendo com a Oldi e a Cândida conversando na língua alemã que se orgulham em preservar. Caminhamos até a roça e vimos uma propriedade como poucos camponeses tem hoje, a diversidade de sementes crioulas que o casal produz é impressionante, embora a família ainda utilize adubos químicos e as vezes agrotóxicos caminha na direção da agroecologia. Já plantados, milho, feijão, mandioca, amendoim, arroz, batatinha, batata doce, abóbora, etc. Só de amendoim são sete variedades multicores. Depois das voltas na roça, fomos até o porão que é um verdadeiro celeiro onde guardam sementes e alimentos para o consumo e também para vender. Queijo molhado no vinho tinto e envelhecido e copa defumada era o aroma do porão. Este casal de agricultores tem soberania e segurança alimentar, não dependem de comprar comida, se orgulham em dizer que nunca compraram arroz e feijão para comer, sempre produziram.
No porão do agricultore Guilhermina e Agostinho
No dia seguinte visitamos Jandir e Carmen Deotti, na comunidade de Jubaú, município de Barra do Rio Azul. Jandir participou do 11ºEncontro Diocesano de Sementes Crioulas, em 15 de junho em Passo do Sobrado onde adquiriu algumas variedades, lá participaram de intercâmbio com o Banco de Sementes Crioulas de Santa Cruz do Sul. Jandir produz milhos das variedades, Pixurum, Cordilheira, Amarelão e um cruzamento que ha 20 anos vem realizando entre duas variedades, produzindo a própria semente. Caminhamos até a roça e trocamos idéias e experiências referentes aos cultivos. Jandir cuida muito bem para manter as variedades puras e é um dos agricultores que deseja trabalhar com agroecologia.
A última experiência que visitamos foi no agricultor Paulo Lunkes, no município de Aratiba. Paulo está iniciando o trabalho com agrofloresta onde cultiva citrus. Produz soja crioulo da variedade Santa Rosa Branco, produziu mais de 600kg de sementes de Ervilhaca Comum, utiliza adubação verde especialmente de inverno. Este agricultor neste ano está reduzindo pela metade o uso de adubos químicos, graças a um adubo orgânico que está misturando na hora do plantio o que é algo muito significativo.
Apesar do cansaço, foram dois dias inesquecíveis. Valeu o esforço do Edson e das famílias que com alegria contaram um pouco de suas histórias. Combinamos que dias 24 e 25 vamos visitar o Banco de Sementes Crioulas de Bagé.
*Maurício Queiroz é Técnico Agrícola, estudante de Biologia, agente da CPT na Diocese de Santa Cruz do Sul e membro da coordenação colegiada da CPT-RS.

Ato em Defesa das Florestas e entrega de abaixo-assinados

Ato em Defesa das Florestas promove entrega de abaixo-assinados contra as mudanças do Código Florestal no Palácio do Planalto na próxima terça-feira, 29 de novembro
Comitê Brasil em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável promove manifestação, a partir das 9h
Na próxima terça-feira, 29, a partir das 9h, o Ato em Defesa das Florestas promove a entrega de assinaturas contra as alterações do Código Florestal para a presidente Dilma no Palácio do Planalto.
O ato pretende reunir movimentos sociais, universitários, formadores de opinião, defensores em geral da causa ambiental, além de representantes das quase 200 organizações que integram o Comitê Brasil em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável, que vão marchar do Congresso Nacional até o Palácio do Planalto.
Ao mesmo tempo, um grupo de 800 crianças levará à presidente Dilma uma mensagem em defesa das florestas brasileiras. São crianças de escolas de Brasília que irão colorir de verde o céu da praça com milhares de balões verdes e biodegradáveis.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Audiência pública preparatória para a Rio+20

Nesta segunda-feira, 21, a Comissão de Saúde e Meio, presidida pela deputada Marisa Formolo, realizou audiência pública preparatória para a Rio+20. Na abertura da audiência, Irmão Antônio Cechin falou sobre os catadores e a questão do lixo:
Vivemos a era do lixo
Necessidade de políticas públicas
por Irmão Antônio Cechin*
Um professor e pesquisador da universidade de Campinas (UNICAMP) tem um artigo intitulado “O triunfo do lixo”.
Começa seu artigo afirmando “se a humanidade vive a era do conhecimento, vive também a era do lixo. Do ponto de vista da quantidade, a natureza movimenta, em seu ciclo normal, 50 bilhões de toneladas de materiais por ano. Os homens, por sua vez, movimentam 48 bilhões de toneladas-ano. Destes 50 bilhões, 30 bilhões são de lixo.
Leia mias no blog da Pastoral da Ecologia

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Audiência pública preparatória para a Rio+20

Nesta segunda-feira, 21, a Comissão de Saúde e Meio Ambiente realiza audiência pública preparatória para a Rio+20. O debate acontece a partir das 14 horas no Plenarinho, 3º andar da Assembléia, e prevê o relato da situação ambiental de diferentes áreas, como a construção de condomínios fechados no entorno das lagoas do litoral norte, os desertos verdes no Pampa com a plantação de eucaliptos, a utilização de agrotóxicos e a agroecologia, a luta pela preservação do morro Santa Tereza, entre outros. Confirmadas as presenças da Secretária Estadual do Meio Ambiente, Jussara Cony, a presidente da Fundação Zoobotânica, Arlete Ieda Pasqualetto, outras autoridades e movimentos sociais. A Comissão de Saúde quer sistematizar as propostas para apresentar em documento durante a Conferência.
A deputada Marisa Formolo, presidente da Comissão, destacou que “uma boa proposta para a Rio+20 inclui a mudança na cultura do consumo obsessivo, a produção de forma cada vez mais ecológica, a utilização de fontes energéticas não poluentes e uma arquitetura social mais fraterna, de compartilhamento do mundo”.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Índios no Congresso Nacional da Cáritas Brasileira.

por Maurício Queiroz*
Tivemos a oportunidade de participar no dia 11/11/2011 no Congresso Nacional da Cáritas Brasileira, que aconteceu de 09 a 12/11 em Passo Fundo-RS. Havia mais de 350 participantes vindos de todo o Brasil. Quero dar destaque à participação dos índios das etnias Kaigang e Pataxó Hã Hã Hãe. Antônio Vicente é da etnia Kaigang aqui do RS e está na luta pelos direitos dos povos indígenas do RS e SC e Marilene conhecida por Iaranaú na sua língua, Iaranaú é da etnia Pataxó Hã-Hã-Hãe da Bahia, ela é irmã de Galdino Pataxó, que foi covardemente queimado vivo em Brasília no dia 20 de abril de 1997 quando dormia em uma calçada, os criminosos eram 5 jovens de família rica de Brasília. Iaranaú é da Coordenação das mulheres indígenas de sua aldeia, organização que recebeu o prêmio Odair Firmino de Solidariedade.
Fomos para o lançamento do vídeo “Sementes Crioulas: Cultivando a Biodiversidade Para as Futuras Gerações” produzido pela Cáritas Brasileira Regional do RS e pela Rede de Sementes Crioulas. O vídeo enfoca a importância das sementes crioulas, dos bancos de sementes crioulas e a necessidade de construção de um novo modelo de produção com base nos princípios ecológicos e nas sementes crioulas ao mesmo tempo que denuncia o modelo do agronegócio e das sementes transgênicas.
O congresso foi espaço de divulgação dos trabalhos com sementes crioulas desenvolvido em todo o Brasil, e claro, não podia faltar as sementes crioulas do Banco de Sementes Crioulas da CPT Diocese de Santa Cruz do Sul.
*Maurício Queiroz é Técnico Agrícola, estudante de Biologia, agente da CPT na Diocese de Santa Cruz do Sul e membro da coordenação colegiada da CPT-RS.

Os 10 alimentos mais contaminados por agrotóxicos

Cartilha da ANVISA
Um estudo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) mostra que muitos dos alimentos que a população consome estão contaminados. “São ingredientes ativos com elevado grau de toxicidade aguda comprovada e que causam problemas neurológicos, reprodutivos, de desregulação hormonal e até câncer” segundo a ANVISA.
O Projeto de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em alimentos, realizado pela ANVISA em conjunto com os órgãos de vigilância de 25 estados participantes, mais o Distrito Federal, analisou diversos legumes, frutas e vegetais para ver a quantidade de contaminação.
Entre as amostragens analisadas, os alimentos que foram contaminados com uma freqüência maior foram:
1º-Pimentão 80,00%
2º-Uva 56,40%
3º-Pepino 54,80%
4º-Morango 50,80%
5º-Couve-Flor 44,20%
6º-Abacaxi 44,10%
7º-Mamão 38,80%
8º-Alface 38,40%
9º-Tomate 32,60%
10º-Beterraba 32,00%
Enviado por Maurício Queiroz, Técnico Agrícola, estudante de Biologia, agente da CPT na Diocese de Santa Cruz do Sul e membro da coordenação colegiada da CPT-RS.

Água de cisterna faz bem

Anderson e esposa - visita da Tiririca
Estive no Congresso Nacional da Cáritas no dia 11/11/11, conversei com várias pessoas entre elas o Bispo Dom Demétrio Valentini, Bispo que é Presidente da Cáritas Brasileira e é natural do RS, Dom Demétrio é filho de pequenos agricultores de família de 12 irmãos, igual a minha família onde somos também 12 irmãos.
Minha mãe teve os 12 filhos de parto normal, na maioria das vezes em casa e todos nasceram com saúde. A alimentação destas mães com certeza era mais saudável do que a alimentação que se come hoje, sem falar do estilo de vida totalmente diferente e do chazinho que as mães davam aos filhos e que era poderoso, hoje se orienta a não dar nada de chá, por acaso o chazinho de poejo fez algum mal? Queria dizer que escuto muito que as mães de hoje têm dificuldades em gerar filhos, muitas com gravidez de risco, e a maioria tem no máximo 3 filhos nascidos por cesariana, que é muito ruim para a mãe, mas para o médico é ótimo, pois ganha mais. Defendo a cesariana em caso de necessidade mesmo. Gravidez não é doença!
Há 2 semanas fui conferir como ficou a cisterna de placas do jovem agricultor Anderson Posselt, de Venâncio Aires, que participou da Escola de Jovens Rurais alguns anos atrás. A cisterna está cheia e é muito utilizada, especialmente para a horta e os animais. Muitos antigos tinham cisterna em casa e usavam a água para tudo inclusive para tomar. A água da cisterna faz mal??? Eu acho que tomando alguns cuidados pode ser utilizada para o consumo humano sem qualquer problema.
Abraços e boa semana
Oldi (Tiririca), da CPT da Diocese de Santa Cruz

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Obrigado pleos 1011 acessos

Hoje, dia 11 do mês 11, o blog da CPT-RS chegou a 1011 acessos.
Esta combinação de números simboliza a combinação de sonhos, ideais e esperanças que a Pastoral da Terra procura promover no cotidiano dos trabalhadores e trabalhadoras do campo.
Poderíamos até dizer que mil acessos ainda é pouco para um blog e que não há motivo para comemorar. Mas, queremos, sim, celebrar este pouco e agradecer a todas as pessoas que costumam acessar nosso blog em busca de informações, conteúdos e trocas de ideias e experiências. Sabemos que a CPT tem o compromisso de fazer ecoar no campo e nas cidades o sonho e a luta dos camponeses, sem terra, quilombolas, indígenas e de todos os pobres da terra. E esta é um pouco a função deste blog, por isso cada acesso é motivo de alegria.
Nosso muito obrigado aos internautas que acessam o blog da CPT-RS e também nosso podido de desculpas por não ser um blog ou site de grande qualidade e por ele não estar cotidianamente atualizado. Pois, nosso trabalho é amador e voluntário, por isso nem sempre podemos dedicar o tempo necessário e com a capacidade exigida.
O blog foi lançado, divulgado na rede a partir do dia 25 de julho e o contador de acessos é muito fiel, ele apenas marca os acessos no blog, sem contabilizar a cada página ou postagem acessada e também não altera a numeração quando o blog é acessado várias vezes num mesmo período. Por isso, mil acessos representam muito mais.
Mil acessos também representam um pouco do que é a interação e a solidariedade entre as pessoas que lutam pela sustentabilidade da vida.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Audiência Pública: Situação dos Territórios Quilombolas

CONVITE
Audiência Pública:
Situação dos Territórios Quilombolas
Dia: 14/11/11
Hora: 9h
Local: Auditório Dante Barone AL.
Promoção:
Comissão de Direitos Humanos do Senado
Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembléia Legislativa RS.
Os processos de regularização e titulação dos territórios das Comunidades Remanescentes de Quilombos e de demarcação das terra indignas estão gravemente ameaçados pelas investidas do latifúndio e do agronegócio manifestos nas ações das senadoras Ana Amélia Lemos (gaúcha), Cátia Abreu e da ADIN, bem como a ação direta de inconstitucionalidade do Decreto 4887/03, impetrada pelo DEM junto ao STF, contra as Comunidades Quilombolas. Eles querem manter seus privilégios e impedir o direito dos pobres.
Vamos fortalecer a luta contra as injustiças raciais e sócias participando e mobilizando.

Visita à experiências na Alemanha

Francisco, Maurício, Franziska e Oldi.
Ao fundo o Castelo de Ludvig II
Por Maurício Queiroz**
De 22 de julho até 19 de agosto de 2011 estive visitando a Alemanha, minha segunda viagem, a primeira ocorreu em janeiro de 2001. Junto comigo foi Oldi Jantsch, agricultora e agente da CPT na Diocese de Santa Cruz do Sul, Francisco Fritzen agricultor ecologista da CPT, Petronila Andrade liderança comunitária e Elcida Wietzke de Venâncio Aires que atua no trabalho pastoral. Após vários convites de amigos e amigas, finalmente conseguimos ir. Fomos com um propósito bem definido, participar de um seminário em Wernau sobre o intercâmbio de jovens entre as Dioceses de Santa Cruz do Sul e Rottenburg/Stuttgart e visitar os jovens que fizeram intercâmbio em nossa querida Escola de Jovens Rurais, muitos dos quais moraram na casa da Oldi Jantsch e participaram dia a dia do trabalho da Escola de Jovens Rurais e da CPT desde agosto de 2002, quase 10 anos de história de intercâmbio. Ficamos hospedados nas famílias dos jovens que estiveram em intercâmbio com a CPT e EJR.
A região onde tivemos é conhecida por Schwäbische Alb, onde se fala o Schwäbische, dialeto da região, com sotaque típico desta região e estávamos no estado de Baden-Wüthenberg e Stuttgart é a capital do estado.
Em visita ao agricultor que produz sementes ecológicas
de hortaliças e flores
Foi um tempo muito legal, conhecer as famílias dos jovens, rever amigos e amigas, conhecer um pouquinho da Alemanha e também da cultura. Visitamos locais turísticos como o Lago de Bodensee na divisa com a Áustria e bem perto da Suíça, Fabian* e Mathias* nos levaram e a cidade histórica de Rhotenburg que a família de Elisabeth Franz* fez questão de nos levar, cidade que preserva as construções do tempo da idade média. Franziska Mayer* nos levou para visitar imponente Castelo de Ludvig II e Simon Gmeiner* a uma cervejaria, entre tantas outras experiências legais. Além disso, também visitamos agricultores que produzem de forma ecológica, um dos meus principais objetivos.
Produção de leite ecológico na família de Jonas Notz*, na cidade de Leutkirch na região de Algäu, sul da Alemanha, nos Alpes. Ficamos na casa de Alfons e Marlise Notz, pais de Jonas, por 3 dias e acompanhamos todo o processo de produção que segue rigorosamente as normas da Biodinâmica idealizada por Rudolf Steiner. Para isso utilizam alimentação natural, o feno de vários tipos de pasto é utilizado no inverno e no verão as vacas são levadas ao pasto em piquetes bem planejados.
Jonas Notz conduz vacas para o estábulo
As vacas são tratadas com respeito, tanto é que todas elas têm chifres, não são inseminadas artificialmente ao contrário das vacas convencionais que são mochas e são inseminadas artificialmente. Também não são agredidas e recebem alimentação sem hormônios e só medicamentos homeopáticos.
Alfons e Marlise fazem parte dos pequenos agricultores da Alemanha que igual aos pequenos agricultores do Brasil e outras partes do mundo precisam lutar muito para sobreviverem. Importante é dizer que já são 30 anos de produção ecológica, leite este que vai para uma organização ecológica chamada Demeter e transformam em queijo, diga-se de passagem, muito saboroso. O leite é vendido a 50 centavos de euro (R$1,15) enquanto que o leite convencional (não ecológico)é vendido a 35 centavos de euro (R$0,80) e os custos são bem mais elevados.
Jonas faz questão de dizer que seus pais estão contentes com o que fazem e por isso são felizes. Ele também pensa em ser agricultor por isso faz um curso.
Também visitamos outras experiências como a produção de hortaliças ecológicas para a venda na feira livre que é muito difundida na Alemanha, produção de cabras para leite no mesmo sistema de produção da família do Jonas e visitamos um agricultor que produz sementes ecológicas, mais ou menos um agricultor que produz sementes crioulas.
Maurício visita a horta do Josef
Embora a agricultura ecológica cresça bastante na Alemanha e Europa em geral, o agronegócio também cresce e é como no mundo inteiro, grandes plantios, normalmente monoculturas como o milho que vimos na Alemanha que não será alimento e sim gás para produção de energia e também grandes estábulos com vacas confinadas o tempo todo, ganhando ração, hormônios, antibióticos e o leite é retirado por meio de um robô. É possível ver no semblante dos animais que são doentes e estão longe de serem animais felizes. Imagino que quem toma um leite desses, não se alimenta e sim se intoxica ou se envenena.
Por fim queria dizer que não troco viver no meu Brasil por viver em qualquer país da Europa. Nós temos o melhor clima do mundo, podemos produzir de tudo e o ano todo. Temos uma terra rica e diversificada e muitas horas de sol no ano importante para a agricultura e também para o aproveitamento da energia de diversas formas e temos muitas riquezas naturais, e a maior biodiversidade do mundo graças ao clima tropical que não tem na Europa. O Brasil precisa preservar as riquezas naturais e apoiar os camponeses e camponesas na produção de alimentos ecológicos.

*Jovens Alemães que realizaram intercâmbio na Comissão Pastoral Terra e Escola de Jovens Rurais, Dioc.deSanta Cruz do Sul.
**Maurício Queiroz* é Técnico Agrícola, estudante de Biologia, agente da CPT na Diocese de Santa Cruz do Sul e membro da coordenação colegiada da CPT-RS.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Seminário em preparação da 35ª Romaria da Terra

A Comissão Pastoral da Terra e a Diocese de Santo Ângelo convidam a todos/as para participar do Seminário de Estudo da 35ª Romaria da Terra a realizar-se no município de Santo Cristo, no dia 25 de novembro de 2011, no Centro Cultural (lado da Prefeitura Municipal) de Santo Cristo - RS.
O seminário com tema da 35ª RT “AGRICULTURA FAMILIAR CAMPONESA: VIDA COM SAÚDE” abordará à luz de relatos bíblicos a realidade de angústias, esperanças e vitórias daqueles que cuidam do campo, da agricultura familiar e em especial da vida.
Os palestrantes Frei Wilson Dallagnol, Adelaide Klein e Padre Nestor Ecker colaborarão nesse processo de reflexão para que a Romaria da Terra, em 21 de fevereiro de 2012, seja realmente um momento profético de anúncio e denúncia.
Chamamos à participar todos e todas que queiram se integrar na caminhada da 35ª Romaria da Terra, pois “Deus não escolhe os capacitados, mas capacita os escolhidos.”
O Seminário terá início às 9h e término às 12h, com almoço no local.
A Secretaria Municipal de Educação de Santo Cristo está disponibilizando certificado.
Informações: Tel/Fax: (051)3344.4415 / e-mail: cptrs@portoweb.com.br

O triunfo do lixo?

Embora população brasileira seja equivalente a 3,06% do total mundial e seu Produto Interno Bruto (PIB) corresponda a 3,5% da riqueza global, os brasileiros descartam 5,5% dos resíduos planetários. O comentário é do geógrafo e sociólogo Maurício Waldman, autor, entre outros, do livro Lixo: Cenários e Desafios (Cortez, 2011).
A reportagem é de Manuel Alves Filho e publicado pelo jornal da Unicamp, 31 de outubro a 6 de novembro de 2011 e também está publicada no IHU On-line, de 01/11/11.

Se a humanidade vive a era do conhecimento, vive igualmente a era do lixo. Do ponto de vista quantitativo, a natureza movimenta, em seu ciclo normal, 50 bilhões de toneladas de materiais por ano. Os homens, por seu turno, movimentam 48 bilhões de toneladas no mesmo período, sendo que 30 bilhões são de resíduos. “Isso é muito mais do que o ambiente pode suportar”, sentencia o geógrafo e sociólogo Maurício Waldman, especialista no tema. Ele é o autor, entre outros, do livro Lixo: Cenários e Desafios, indicado como um dos dez finalistas do Prêmio Jabuti 2011 na categoria Ciências Naturais. A obra é resultado da pesquisa de pós-doutoramento de Waldman, desenvolvida no Departamento de Geografia do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp, sob a orientação do professor Antonio Carlos Vitte e com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPq).
O lixo, conforme o pesquisador, tem sido um problema recorrente em todo o mundo, inclusive no Brasil. Não bastasse a humanidade estar crescendo e gerando cada vez mais resíduos, o quadro vem se agravando graças a inércia das autoridades públicas, que pouco têm feito para reciclar ou dar destinação adequada aos rejeitos. Ademais, a sociedade também não faz a sua parte ao aumentar exageradamente o consumo de bens e produtos e ao descartar sem cerimônia seus detritos em qualquer lugar. “O Estado não age e o cidadão não se movimenta. O resultado dessa combinação é dramático. A continuar assim, o lixo pode vir a inviabilizar a sociedade humana, pelo menos tal como a conhecemos”, adverte Waldman.
Aos que possam considerar as suas previsões apocalípticas, o pesquisador rebate com números. De acordo com ele, o Brasil, um dos países que mais sofrem com a problemática, é um grande gerador de lixo. Embora sua população seja equivalente a 3,06% do total mundial e seu Produto Interno Bruto (PIB) corresponda a 3,5% da riqueza global, os brasileiros descartam 5,5% dos resíduos planetários. “Quer outros dados? Pois bem, entre 1991 e 2000 a população brasileira cresceu 15,6%. No mesmo período, o país ampliou seus descartes em 49%. Em 2009, o incremento demográfico foi da ordem de 1%. Entretanto, a geração de rejeitos aumentou 6%. Trata-se de uma expansão perversa”, afirma.
No caso brasileiro, insiste Waldman, nada tem sido feito para equacionar a questão. “Infelizmente, não temos políticas públicas para essa área. Os únicos que têm trabalhado verdadeiramente em favor da sociedade são os catadores de lixo, que em vez de serem parabenizados, são discriminados e maltratados tanto pelas elites quanto pelo poder público. Para se ter uma ideia, dos resíduos secos gerados no país, 13% são recuperados. Destes, 98% são coletados pelos catadores e apenas 2% pelos programas de Coleta Seletiva de Lixo [CSL]. Em 2010, pasme, dos 5.565 municípios brasileiros, somente 142, ou 2,5% do total, mantinham algum tipo de parceria com esses trabalhadores. Eles são os grandes heróis nacionais do meio ambiente”, considera o geógrafo e sociólogo, que foi colaborador do sindicalista e ativista ambiental Chico Mendes, assassinado em 22 de dezembro de 1988.
Mas, se o problema do lixo é tão grave, por que as autoridades públicas não se preocupam em resolvê-lo? Na opinião de Waldman, o descompromisso ocorre porque, culturalmente, os resíduos sempre são considerados um problema do outro. “A única política adotada no país, se é que podemos classificá-la assim, é a da estética. Ou seja, o interesse primordial das autoridades é tirar os rejeitos da visão das pessoas e levá-los para um lixão ou, quando muito, para um aterro sanitário. A forma como esse lixo será tratado ou monitorado é outra questão. O importante, na concepção dessa corrente, é que a sujeira não fique à mostra”. O pesquisador destaca, ainda, que o lixo é basicamente uma questão conceitual. Na opinião dele, não é fácil identificar hoje em dia o que de fato é um resíduo. A propósito do assunto, o autor do livro Lixo: Cenários e Desafios relata uma breve episódio.
Waldman conta que tem na estante da sua sala uma estátua de bronze de Buda, embora não seja budista. Segundo ele, o objeto foi encontrado por um operário que trabalhava numa usina de reciclagem. “O trabalhador estava olhando para a esteira quando viu a imagem. Imediatamente, ele a recolheu e a recuperou. Depois, me presenteou. Ou seja, algum cidadão completamente insensato ousou jogar na lixeira a estátua de Buda, que é um símbolo religioso e que merece respeito por parte de todos nós, independentemente da religião que professamos. Aí é que eu pergunto: o que é lixo? Existe um padrão cultural que governa a cabeça das pessoas que as ajuda a definir o que é descartável ou não. Nem sempre, infelizmente, esse padrão é o mais sensato”.
Questões
Questionado sobre o que deve ser feito para que não ocorra o triunfo do lixo sobre a humanidade, o geógrafo e sociólogo faz algumas ponderações. Para alívio daqueles que estão sobressaltados com a leitura deste texto, ele inicia respondendo que o problema tem solução. Depois, afirma que há três questões a serem pensadas. A primeira delas é a necessidade de as pessoas adotarem um consumo mais consciente de bens e produtos. “Atualmente, cada brasileiro gera 3,5 quilos de lixo proveniente de equipamentos eletroeletrônicos por ano. É muita coisa. O cidadão tem que ter maior consciência de que não vale a pena trocar o celular X pelo Y apenas porque a versão mais recente do aparelho tem uma luz que pisca durante a ligação”, diz.
A segunda questão, prossegue Waldman, está no imperativo da mudança de postura da indústria, que trabalha com o conceito da obsolescência precoce, modelo de produção e consumo classificado pelo pesquisador como “pornográfico”. “Havia uma série de TV nos anos 70, intitulada Missão Impossível, na qual uma voz avisava ao personagem que a mensagem que ele estava ouvindo se autodestruiria em cinco segundos. O que a indústria faz é dizer aos consumidores que seu televisor ou lavadora de roupa se autodestruirá em 12 meses. Isso precisa mudar”, defende.
Por último, mas não menos importante, o pesquisador avalia que o Estado também tem que dar sua contribuição à causa do controle eficiente do lixo, formulando políticas públicas sérias e consequentes. “Tem gente idealista que tem trabalhado nesse sentido, como pesquisadores em universidades e institutos de pesquisa, mas isso infelizmente ainda não é regra geral”, lamenta. Deixar de dar aos resíduos tratamento e destinação adequados, conforme Waldman, não representa apenas um desrespeito ao ambiente e à qualidade de vida das pessoas. Significa também desperdício de dinheiro e oportunidades.
No entender do especialista, o Brasil poderia ampliar significativamente o índice de reciclagem do lixo, tanto o seco quanto o orgânico. “Aliás, muita gente, até quem se diz especialista no assunto, costuma cometer um erro gravíssimo ao citar unicamente a reciclabilidade do lixo seco. O úmido também é reciclável, visto que pode ser recuperado pelo ciclo da natureza. Algumas estatísticas apontam que a taxa de reaproveitamento dos resíduos no país poderia ser ampliada para 52% ou 59%. Além de menor agressão à natureza, isso representaria a geração de renda e trabalho. Um levantamento do Ipea [Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, órgão vinculado à Presidência da República] aponta que, na linha do tempo, nós já desperdiçamos US$ 8 bilhões por não reaproveitarmos o lixo. É um dinheiro que poderia ter sido aplicado na saúde, na educação e em programas de inclusão social”, imagina Waldman.
Retornando ao assunto da solução para o problema dos rejeitos, o pesquisador assinala que a questão não é somente brasileira, mas mundial. “Como dizia o geógrafo Milton Santos, de quem sou admirador, qualquer problemática global nos dias atuais não pode ser tratada por um grupo de ‘iluminados’. Os problemas globais precisam ser pensados coletivamente. É necessário unir conhecimentos e competências, além obviamente de envolver nas discussões os diversos segmentos da sociedade civil organizada. Sem essas iniciativas, dificilmente haverá saída”, alerta.