Por Maura da Silva Leitzke
A utilização da expressão mística nas atividades dos movimentos sociais marca uma expressão que é sinônimo de animação. Falar em mística implica falar em mistério, força invisível sem uma explicação palpável, que desperta a sensibilidade e a admiração por atitudes ou comportamentos humanos dignos de reconhecimento. É através da mística que se descobre uma força infinita que habita o ser de quem luta na busca do bem comum. Acima de tudo, mística traduz a vontade de lutar por uma causa e jamais desistir diante dos percalços da vida.
A definição de mística está diretamente ligada ao coração do homem que tem com seu chão uma relação de amor puro e fraternal, pois a terra é sinônimo de vida, de renascimento, a cada colheita se renova a aliança do Deus amor para com seu povo, garantindo a cada florescer a esperança do recomeço.
Mas a mística é muito mais. Ela é a motivação que nos faz viver a causa até o fim. É aquela energia que temos e que não nos deixa dizer não, quando nos solicitam ajuda. É a vontade de estar em todos os lugares ao mesmo tempo, de querer ajudar e realizar coisas que façam a luta ser vitoriosa.
A mística pode ser exteriorizada de muitas maneiras, cada um a expressa de forma diferente e dá de si aquilo que possui, na forma de carisma, talentos ou habilidades, reações que acontecem sem que se saiba exatamente a origem e nem o porquê. Quer dizer a busca de entender o que está escondido por traz das coisas. A mística é a procura de explicações e ao mesmo tempo o impulso para viver o inexplicável.
Especialmente no início dos anos 80, os movimentos sociais ligados aos camponeses, originados na necessidade de redistribuição fundiária, mas acima de tudo na necessidade do acesso à terra para a produção de alimentos, descobrem em si qualidades ignoradas pelas forças políticas partidárias tradicionais, o uso da mística oriunda da força conjunta. Utilizando como exemplo o acampamento da Encruzilhada Natalino, essa mística produz a derrota do poderio militar do temido Coronel Curió. É nesse episódio da história que fica clara a supremacia do poder da mística, que se traduz na capacidade de organização, de formular planos de ação, na formação estratégica de lideranças, externando um poder transformador capaz de mudar a realidade para o bem da comunidade.
A mística tem o poder de fazer com que cada pessoa desenvolva uma consciência de pertencimento, de sincronia. Não importa as diferenças étnicas e culturais que possam existir, nasce um sentimento partilhado e almejado por todos por mais diferentes que possam parecer.
A importância da mística é atual e se renova a cada dia. É dela a força impulsionadora que dá sustentação e continuidade à evolução social, que se traduz na defesa da terra, do meio ambiente, da sustentabilidade. A mística é fonte de energia que incentiva e impele, despertando para os anais da história a resistência, a superação e força dos movimentos sociais, protagonistas da transformação social.
Foram os movimentos sociais que, num período marcado pelo autoritarismo da ditadura militar, resgataram o sentido da mística e o inseriram definitivamente na esfera político social.
Questões para debate
1)Nas lutas populares, por direitos para todos, qual a importância da fé e da participação na Igreja?
2) Porque aqueles que rezam são mais firmes na luta? Qual o papel da oração na luta por justiça social?
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