quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Carta da 38ª Romaria da Terra e o 10º Acampamento da Juventude

38ª ROMARIA DA TERRA E 10º ACAMPAMENTO DA JUVENTUDE
Carta às Comunidades

A 38ª Romaria da Terra e o 10º Acampamento da Juventude são frutos de meses de trabalho nas comunidades e nos movimentos, envolvendo inúmeras entidades, entre elas mais de 15 organizações juvenis, pastorais e movimentos do campo e da cidade. Para o enriquecimento da caminhada ecumênica, fizeram-se presente também os irmãos e as irmãs da Pastoral Popular Luterana. Embalados pelo dinamismo do Espírito de Deus, que nos chama sempre de novo a continuar na construção da justiça e da paz, da Terra Sem Males, de Um Outro Mundo urgentemente Necessário e Possível, da Civilização do Amor, da Cultura de Paz e do Bem-Viver.
Nesse espírito, nos dias do carnaval de 2015, de 15 a 17 de fevereiro, em torno de 500 jovens do Rio Grande do Sul e também de Santa Catarina, estiveram reunidos no módulo esportivo municipal de David Canabarro, juntando-se aos demais milhares de Romeiros e Romeiras, compromissados/as com os valores e as causas da “Sucessão Rural Familiar, Políticas Públicas e Sustentabilidade Social”, que garantam que a Terra seja um dom para a vida e não objeto para negócio, como disse Deus a Abraão “Eu darei esta terra à sua descendência” (Gn 12,7) e que Sepé reafirmou na luta do povo índio contra a ocupação imperialista, bradando “Alto lá! Esta terra tem dono!”
Os/as Romeiros/as do 10º Acampamento da Juventude foram acolhidos/as com entusiasmo por uma equipe de jovens desde a madrugada do domingo, que prepararam com muito trabalho e amor, o espaço para o Acampamento e a Romaria. Logo todas as delegações se integraram e, com vibrante energia e alegria, com palavras de ordem, canções diversas e muito debate, foram reafirmando a disposição de serem sujeitos protagonistas de uma nova sociedade, justa, solidária, equitativa, plural e ecológica.
Refletimos sobre a realidade, ouvimos os clamores que brotam das mais diversas situações de exploração e opressão, geradas pelo sistema capitalista, sobretudo na presente fase neoliberal. Procuramos compreender os desafios que nos são colocados, aprofundando o processo de transformação, para que haja vida digna e abundante para todos e todas.
Neste debate percebemos que vários projetos estão em disputa. Todos se apresentam como caminhos de felicidade. Numa época em que vivemos muitas mudanças, ou mesmo uma mudança de época, precisamos compreender e discernir o que defende a vida, colocando no centro o respeito ao ser humano e à vida na Terra. Faz-se necessário resgatar os saberes tradicionais e populares libertadores de tantos povos, que até hoje resistem e ensinam valores fundamentais dos quais não se pode abrir mão.
A partir desta reflexão, celebrou-se em comunhão com as mais variadas expressões de fé, de organização popular e realidades juvenis, resgatando a caminhada das Romarias da Terra e dos Acampamentos das Juventudes. Dessa forma, foram consolidados e reafirmados os seguintes compromissos, como sinal de renovação da Aliança do povo com o Deus da Vida:
- Denunciar o sistema capitalista como intrinsecamente perverso, pois sua lógica de acumulação a qualquer preço, movido pela ganância, gera as divisões sociais, exploração, opressões diversas, sofrimento e morte.
- Defesa da democracia e do direito do povo brasileiro escolher o seu caminho.
- Lutar contra a privatização dos serviços públicos.
- Combater a desmoralização, a criminalização e a repressão dos Movimentos Sociais Populares e suas causas.
- Retomar e aprofundar a defesa da Reforma Agrária, condição inclusive para avançar na agroecologia e na agricultura familiar e camponesa.
- Denunciar o agronegócio como um sistema que tem como lógica o lucro e se sustenta na exploração do trabalho e dos recursos naturais, em contradição com a lógica da agricultura familiar e camponesa.
- Defender os diversos sistemas da biodiversidade e fortalecer a luta contra os agrotóxicos e as sementes transgênicas, valorizando um modelo de produção e consumo saudáveis, pelas práticas da agroecologia, sem ter medo de mudanças.
- Exigir políticas públicas para a produção, distribuição e consumo agroecológico, incluindo o apoio à transição de modelos.
- Fortalecer a política como a ação em favor do bem comum, essencial nos processos de mudança da realidade, e como uma forma eficaz de amor ao próximo.
- Investir no fortalecimento do trabalho de base e na aproximação dos explorados e excluídos.
- Lutar pela equidade de gênero reconhecendo o protagonismo das mulheres, sua participação nos espaços de poder e decisão de nossa sociedade.
- Garantir uma educação do campo e na cidade que valorize as especificidades do espaço geográfico e ao mesmo tempo implemente as políticas de educação inclusiva, de gênero e não-sexista.
- Respeitar e considerar justa toda forma de AMOR.
- Defender políticas públicas substantivas para a população trabalhadora, em especial para a juventude através de um processo de trabalho de base permanente.
 - Assegurar a participação da juventude e da população trabalhadora nos espaços de construção das políticas públicas e do controle social do Estado.
- Exigir o compromisso do congresso com o Plebiscito oficial por uma Constituinte Exclusiva e Soberana pela Reforma do Sistema Político.
- Construir novos espaços de formação permanente sobre a questão de gênero, envolvendo homens e mulheres, na perspectiva de superação de todas as formas de patriarcalismo, sexismo, machismo e violências contra as mulheres em todos os espaços da vida.
- Investir em formas de comunicação para garantir o direito fundamental à informação, que nos convoca ao engajamento na luta pela democratização dos meios de comunicação.
- Promover um processo de conscientização referente à demarcação das terras indígenas e quilombolas e o direito de produção dos pequenos agricultores. Considerando que tanto os pequenos agricultores, quanto os indígenas e quilombolas são vítimas do colonialismo, sendo que a união de suas forças é necessária para a garantia do acesso à Terra e às suas justas indenizações.
- Denunciar e combater a violência e o extermínio das Juventudes em especial da juventude pobre, negra e marginalizada.
- Exigir uma política nacional que reconheça os direitos dos atingidos pela construção de barragens. Lutar contra a construção de novas barragens, como a de  Garabi e a de  Panambi, pois queremos “águas para a vida e não águas para a morte”.
Animados e encorajados por tantas testemunhas que doaram suas vidas por estas causas, e, inspirados pelas palavras do Papa Francisco no encontro com os movimentos populares, que reafirma que “O amor pelos pobres está no centro do Evangelho” e que “Terra, teto e trabalho são direitos sagrados”. Acreditamos no Reino de Deus, cuja plenitude só se realizará quando não houver “nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos”. Renovamos o desejo de que os bons frutos desta Romaria da Terra possam repercutir na vida de todas as nossas Comunidades de fé e de luta. 
David Canabarro, 17 de fevereiro de 2015

Notícias da 38ª Romaria da Terra no site da Arquidiocese de Passo Fundo
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