quarta-feira, 30 de julho de 2014

Gaza: “Eles também são nossos filhos”

Uma declaração assinada por 48 ganhadores do Right Livelihood Award, conhecido como Prêmio Nobel Alternativo, de 32 países, condena a matança de civis, muitos deles, crianças. Três desses ganhadores do Prêmio vivem e trabalham na zona de conflito. A CPT, ganhadora do prêmio em 1991, também assina o documento. Veja a declaração na íntegra:

Como ganhadores do Right Livelihood Award, popularmente conhecido como ‘Prêmio Nobel Alternativo’, nós condenamos energicamente a matança de centenas de crianças e civis inocentes, executada em Gaza pelo exército israelense, além do indiscriminado lançamento de mísseis por parte do Hamas sobre civis de Israel, ao mesmo tempo em que lamentamos o contínuo sofrimento dos habitantes de Gaza. 

Gaza enfrenta o desabastecimento de água e eletricidade, de hospitais, médicos e médicas, ao mesmo tempo que bombas e balas matam e ferem a sociedade civil, assim como aos trabalhadores da saúde, em uma espiral de violência e desesperança. Aproximadamente 24% de todos que perderam suas vidas em gaza, como resultado dos bombardeios de Israel e seus militares, são crianças.  

Contudo, a responsabilidade por essas mortes não é somente um produto conjunto e múltiplo dos soldados de Israel, dos lutadores do Hamas e de seus governos. Outros governos também são responsáveis, tanto direto como indiretamente, através da transferência de armas, assessoria militar e de seu silêncio.   

Estes países e as Nações Unidas parecem não ter aprendido com o passado. Tanto que quanto mais cresce a violência em Gaza, mais as negociações de paz se movem a um ritmo incrivelmente lento, dificultadas por interesses particulares de países que não sofrem derramamento de sangue por este conflito. O diálogo e as negociações não podem ser  substituídas pelo uso da força militar. A vingança só produz vingança, e o derramamento de sangue só produz mais derramamento de sangue.

Não podemos esquecer as recentes imagens de cadernos de escola destroçados nas ruas de Gaza e as vidas destroçadas das crianças que os usavam. Seus corpos sem vida esparramados em volta de seus caderno, que nunca voltarão a ser usados novamente, descrevem a trágica pintura de uma crueldade sem limite. Ninguém tem o direito de acabar com essas vidas e, tampouco, ameaçar a vida daquelas crianças que seguem sobrevivendo. Eles também são nossos filhos.

Neste contexto, nós apoiamos com força o extraordinário trabalho, a determinação e a perseverança – em meio a explosão das bombas – do nosso colega Raji Sourani (RLA 2013, Palestina) e seus colegas do Centro Palestino de Direitos Humanos em Gaza, que estão denunciando a matança de civis inocentes e a continuidade de uma guerra suja não declarada, que vai contra os princípios da legislação humanitária internacional. Nós também queremos expressar  nossa profunda admiração pelo trabalho de organizações de paz de Israel, como Gush Shalom (RLA 2001) e o incrível trabalho de toda a equipe médica que atua atualmente em Gaza, com representantes de nossos amigos do Médicos para os Direitos Humanos (RLA 2010), que seguem  carregando os princípios de humanidade acima de tudo, apesar de expostos às desumanas máquinas de guerra.

Como ganhadores do Right Livelihood Award, nós instamos as Nações Unidas, a União Europeia e as organizações regionais como a Liga Árabe e a Organização dos Estados Americanos (OEA), além de países de todo o mundo, a unir suas vozes, condenando estas inaceitáveis violações de direitos humanos, e requerendo um imediato cessar fogo, a suspenção do bloqueio a Gaza, bem como novas negociações de paz. E, da mesma forma, que parem com todas as ações que perpetuam esse conflito, que dificultam uma resolução pacífica e que parem de prover com armas as partes em conflito. Se nós não atuarmos com urgência, mais crianças e pessoas inocentes vão ser assassinadas nos próximos dias, nas próximas horas, nos próximos minutos, nos próximos segundos.



Assinam: 
• Dr. Ibrahim Abouleish, Fundador de SEKEM, Egipto (RLA 2003)
• Swami Agnivesh, India (RLA 2004)
• Dr. Martin Almada, Paraguay (RLA 2002)
• Uri Avnery, Fundador de Gush Shalom, Israel (RLA 2001)
• Dipal Barua, Ex director de Grameen Shakti, actualmente en Bright Green Energy Foundation, Bangladesh (RLA 2007)
• Nnimmo Bassey, Health of Mother Earth Foundation, Nigeria (RLA 2010)
• Andras Biro, Hungría (RLA 2005)
• Citizens’ Coalition for Economic Justice, Corea del Sur (RLA 2003)
• Dr. Tony Clarke, Director Ejecutivo de Polaris Institute, Canadá (RLA 2005)
• Comissão Pastoral da Terra (CPT), Brasil (RLA 1991)
• Prof. Dr. Anwar Fazal, Director del Right Livelihood College, Malasia (RLA 1982)
• Prof. Dr. Johan Galtung, Noruega (RLA 1987)
• Dr. Juan E. Garcés, España (RLA 1999)
• Dr. Inge Genefke, Dinamarca (RLA 1988)
• Gush Shalom, Israel (RLA 2001)
• Dr. Monika Hauser, Fundadora de Medica Mondiale, Alemania (RLA 2008)
• Dr. Hans Herren, Fundador de Biovision Foundation, Suiza (RLA 2013)
• Dr. SM Mohamed Idris, Sahabat Alam Malaysia (RLA 1988), Consumers Association of Penang and the Third World Network, Malasia
• Obispo Erwin Kräutler, Brasil (RLA 2010)
• Dr. Katarina Kruhonja, Center for Peace, Nonviolence and Human Rights-Osijek, Croacia (RLA 1998)
• Birsel Lemke, Turquía (RLA 2000)
• Helen Mack Chang, Fundación Myrna Mack, Guatemala (RLA 1992)
• Dr. Ruchama Marton, Fundador y Presidente de Physicians for Human Rights, Israel (RLA 2010)
• Prof Dr. h.c. (mult.) Manfred Max-Neef, Director del Instituto de Economía de la Universidad Austral de Chile, Chile (RLA 1983)
• Prof. Dr. Raúl A. Montenegro, Presidente de la Fundación para la defensa del ambiente, Argentina (RLA 2004)
• Frances Moore Lappé, Cofundadora de Small Planet Institute, Estados Unidos (RLA 1987)
• Jacqueline Moudeina, Chad (RLA 2011)
• Helena Norberg-Hodge, Fundadora y Directora de International Society for Ecology & Culture, United Kingdom (RLA 1986)
• Juan Pablo Orrego, Presidente de Ecosistemas, Chile (RLA 1998)
• Medha Patkar, Narmada Bachao Andolan, India (RLA 1991)
• P K Ravindran, Kerala Sastra Sahitya Parishad, India (RLA 1996)
• Fernando Rendón, Cofundador y Director del Festival Internacional de Poesía de Medellín, Colombia (RLA 2006)
• Dra. Sima Samar, Directora de la Afghanistan Independent Human Rights Commission, Afganistán (RLA 2012)
• Dra. Vandana Shiva, Naydanya, India (RLA 1993)
• Prof. Michael Succow, Fundador de Michael Succow Foundation for Nature Conservation, Alemania, (RLA 1997)
• Suciwati, viuda de Munir, KontraS, Indonesia (RLA 2000)
• Dr. Hanumappa Sudarshan, Karuna Trust & VGKK, India (RLA 1994)
• The Kvinna Till Kvinna Foundation, Suecia (RLA 2002)
• Shrikrishna Upadhyay, Director Ejecutivo, Support Activities for Poor Producers of Nepal, Nepal (RLA 2010)
• Prof. Dr. Theo van Boven, Holanda (RLA 1985)
• Martín von Hildebrand, Fundador y Director de Fundación GAIA Amazonas, Colombia (RLA 1999)
• Dr. Paul F. Walker, Director de Environmental Security and Sustainability, Green Cross International, Estados Unidos (RLA 2013)
• Alyn Ware, Coordinador Global de Parliamentarians for Nuclear Nonproliferation and Disarmament, Nueva Zelanda/Suiza (RLA 2009)
• Chico Whitaker Ferreira, Brasil (RLA 2006)
• Alla Yaroshinskaya, Rusia (RLA 1992)
• Angie Zelter, Trident Ploughshares, Reino Unido (RLA 2001)
• Ina May Gaskin, Estados Unidos (RLA 2011)
• Movimento dos trabalhadores rurais sem terra-MST - BRASIL (RLA  1991)

segunda-feira, 28 de julho de 2014

14º Encontro Diocesano de Sementes Crioulas

14º Encontro Diocesano de Sementes Crioulas
Data: 27/08/2014
Local: Salão Paroquial de Linha Santa Cruz - Santa Cruz do Sul/RS
Objetivo: Reunir agricultores e agricultoras visando fortalecer a agricultura camponesa e familiar a partir do resgate das sementes crioulas e da promoção da agroecologia. Reunir os Bancos de Sementes Crioulas e demais experiências com sementes crioulas no RS.
Público Alvo: Agricultores e agricultoras, mulheres e jovens da roça.
Programação:
8h – Chegada e inscrições.
8h45min – Acolhida aos participantes.
9h – Momento de espiritualidade.
9h30min – Painel das Experiências com Sementes Crioulas no RS.
11h30min – Debates e questionamentos acerca do tema.
12h – Almoço.
13h as 14h – Momento cultural e visualização das experiências expostas por grupos de agricultores e agricultoras. Intercâmbio.
15:00 h – Compromissos concretos e encaminhamentos acerca do tema das sementes crioulas.
15h30min – Intercâmbio e Troca de Sementes Crioulas entre os grupos participantes.
16h-Avaliação e encerramento.
Maiores informações:
e-mail penaterra@ibest.com.br ou
fone 051-91466134/91242466
Organização: Comissão Pastoral da Terra Diocese de Santa Cruz
Apoio: 


CPT no Seminário Internacional de Soberania e Segurança Alimentar e Sementes Crioulas

O texto que segue é a exposição de Maurício Queiroz, da Coordenação da CPT-RS, no Seminário Internacional de Soberania e Segurança Alimentar e Sementes Crioulas ou “Plenária Internacional sobre Produção, Circulação e Comercialização dos Alimentos numa perspectiva Ética, Solidária, Ecológica e Sustentável no cuidado da Vida no Planeta Terra, com o Solo, a Água, as Sementes e o Consumo Solidário”, organizado pela Cáritas no dia 19/07/2014, durante a 21ª FEICOOP - Feira Internacional do Cooperativismo, que ocorreu entre os dias 18 a 20 de julho de 2014, no Centro de Referência de Economia Solidária Dom Ivo Lorscheiter, em Santa Maria - RS - Brasil.

As Sementes e o Problema da Fome Mundial
Quem pensa que a temática das sementes crioulas não tem nada a ver com o problema da fome mundial está muito enganado, pois tem tudo a ver sim. O problema que envolve a extinção das sementes crioulas é diretamente proporcional ao problema da fome no planeta.
Todos sabemos que dos 7 bilhões de habitantes do planeta, cerca de 1bilhão passa fome, fome de não ter o que comer. Sabemos também que nunca se produziu tanto “alimento” como na atualidade (ou seja produz-se “alimentos” para 12bilhões), o problema está na má distribuição deste “alimento”. Resumindo, se passa fome por não ter dinheiro para comprar o alimento, por que o “alimento” virou mercadoria no mundo capitalista.
Só para lembrar: respirar oxigênio, beber água, alimentar-se e ter onde morar dignamente são direitos humanos inalienáveis, inegáveis. Não podem ser vendidos, são inerentes a vida!
A outra fome, uma fome mais moderna e que também preocupa muito é a fome de comida, verdadeiramente comida. As pessoas estão de barriga cheia, mas não alimentadas, por isso estão doentes. Isso por que, se come mercadoria e não comida verdadeiramente.

Onde entram as Sementes Crioulas?
As Sementes Crioulas são a base da produção dos alimentos do planeta, a partir delas é possível produzir comida, verdadeiramente comida. Acontece que estas sementes crioulas, estão em um drástico processo de extinção há décadas, da mesma forma que estão sofrendo um processo de extinção e exclusão terrível os camponeses e camponesas que são os verdadeiros donos e guardiões destas sementes, se os pequenos agricultores desaparecerem adeus sementes crioulas.  Adeus possibilidades de termos alimentos próximos de nós e de qualidade.
As empresas controlam a comida, controlando as sementes, o exemplo mais claro, a multinacional americana Monsanto detém mais de 70% do controle das sementes de milho do planeta. Em resumo, as empresas que controlam as sementes controlam a comida. Ficaremos comendo produtos de mercado, puro veneno, transgênicos e pagando o preço que eles querem. É a nossa vida que está em jogo.
Fortalecer a agricultura camponesa, com homens, mulheres e jovens através de uma Reforma Agrária que é capaz de Repartir o Chão para Multiplicar o Pão, é o caminho, com agroecologia e sementes crioulas, resgate da cultura e dos alimentos tradicionais e regionais.
Mas o povo está reagindo! Um exemplo concreto é os Bancos de Sementes Crioulas, Casas de Sementes, Sementes da Paixão, etc. Com o objetivo de fortalecer estas iniciativas em 2010 e 2011 a Cáritas- RS disponibilizou recursos proporcionando o intercâmbio e aproximação destas experiências. Com isso se criou a Rede Latino Americana de Sementes Crioulas, que é uma articulação on-line destas experiências, intercambiando suas experiências se fortalecendo mutuamente.
A CPT Diocesana vai realizar no dia 27 de agosto de 2014, o 14º Encontro Diocesano de Sementes Crioulas em Santa Cruz do Sul e vai priorizar a reunião de todas estas experiências durante o encontro.
Te esperamos no Encontro de Sementes Crioulas!
Abraços.
Maurício Queiroz

Mais notícias de todos os eventos da 21ª FEICOOP nos sites:
esperancacooesperanca.org.br
rs.caritas.org.br

Por que trabalhar com as Sementes Crioulas?

Por Maurício Queiroz*

Desde que iniciei no trabalho como técnico aqui na Diocese de Santa Cruz do Sul procuramos trabalhar aliando o trabalho técnico e também o trabalho pastoral da Pastoral da Terra. Hoje mais do que nunca estou convencido de que um trabalho somente técnico corre sério risco de não dar muitos frutos, se não tiver uma boa dose de mística e humanismo, que é aproximar as pessoas, trabalhar em grupo e isso conseguimos fazer muito bem. É um trabalho social, técnico, político, ambiental ao mesmo tempo e muito desafiador, com certeza.
O trabalho além de desafiador é amplo e abrangente, trabalhamos com agricultores familiares camponeses, quilombolas, indígenas, assentados, jovens. Mas em destaque está o trabalho com a juventude da roça e com as sementes crioulas.
O trabalho com sementes é algo especial, pois é ai que está as origens da agricultura, do pequeno agricultor e agricultora. Não dá para trabalhar agricultura orgânica ou ecológica sem abordar a temática das sementes crioulas que são a base da origem da nossa comida.
Isso significa mais autonomia, resgate cultural, religioso, místico. O tema das sementes está diretamente ligado ao tema da fome mundial, pois quando algumas multinacionais controlam as sementes nós (toda a sociedade)estamos reféns de um sistema que vai ditar o que devemos comer, determinam os preços, quem come e quem não tem acesso a comida, etc.
A nossa comida sagrada de cada dia, o “pão nosso de cada dia”, está fortemente ameaçado com a redução drástica das sementes crioulas, com a extinção das sementes crioulas está se extinguindo aquele e aquela que são os que produzem a nossa comida, o agricultor e a agricultora, o camponês com toda a sua diversidade no Brasil, na América Latina e no mundo todo.
Mas não está tudo perdido, este ano vamos realizar o 14º Encontro Diocesano de Sementes Crioulas, que graças a Deus está cada vez mais bonito e diversificado, e tem sido motivador de muitas experiências mundo a fora.
A produção de alimentos depende das Sementes Crioulas, e elas são a base da agroecologia, por isso motivamos comunidades, grupos de agriculores e agricultoras a trabalhar com sementes crioulas e agroecologia, voltando as origens.
BEM VINDOS E BEM VINDAS AO ENCONTRO DE SEMENTES
CRIOULAS!!!!
*Maurício Queiroz - técnico agrícola, agente de pastoral da CPT na Diocese de Santa Cruz do Sul, coordenação da EJR e membro da Coordenação da CPT-RS.
Clique AQUI para ver a programação do 14º Encontro Diocesano de Sementes Crioulas

terça-feira, 1 de julho de 2014

III Encontro Nacional de Agroecologia

Cuidar da Terra, Alimentar a Saúde e Cultivar o Futuro”. Com este lema, o III Encontro Nacional de Agroecologia (ENA) reuniu-se entre os dias 16 e 19 de maio de 2014 na cidade de Juazeiro-BA. Com o público de mais de 2.100 pessoas vindas de todos os estados brasileiros, fizeram-se representar trabalhadores e trabalhadoras do campo, portadores de diferentes identidades socioculturais (agricultores familiares, camponeses, extrativistas, indígenas, quilombolas, pescadores artesanais, ribeirinhos, faxinalenses, agricultores urbanos, geraizeiros, sertanejos, vazanteiros, quebradeiras de côco, catingueiros, criadores de fundos em pasto, seringueiros) , técnicos, pesquisadores, professores, extensionistas e estudantes, além de gestores convidados. Com a presença majoritária de trabalhadores e trabalhadoras rurais, nosso encontro alcançou participação paritária entre homens e mulheres, contando também com expressiva participação das juventudes.

Clique AQUI para ler a Carta Politica do III ENA, no site: www.enagroecologia.org.br