sábado, 1 de março de 2014

Depoimentos sobre a Romaria da Terra

Neste Carnaval de 2014, no dia 4 de março, acontece no Assentamento Lagoa do Junco, Tapes/RS, a 37ª edição da Romaria da Terra do Rio Grande do Sul, sempre promovida pela Comissão Pastoral da Terra (CPT-RS) e Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Sul 3), com a participação solidária de outras igrejas cristãs. 
Neste ano a Romaria é acolhida pelas famílias de Tapes, de modo especial, do Assentamento Lagoa do Junco e a Paróquia de Nossa Senhora do Carmo, com o Vicariato de Guaíba e a Arquidiocese de Porto Alegre.
Nesta 37ª edição, a Romaria da Terra tem como tema: "Reforma Agrária, Cooperação e Agroecologia" e o lema: "Cultivar Vida Saudável".
No blog da CPT-RS tem uma página específica sobre a Romaria com diversos textos de subsídio para estudar o tema que está direcionado para a importância da Reforma Agrária como uma forma de justiça social, de promoção da agroecologia e a cooperação na produção de alimentos saudáveis.

Depoimentos sobre a Romaria da Terra:

Pe. Ademar Agostinho Sauthier  - Secretário Executivo do Regional Sul 3 da CNBB.
Estamos preparando a 37ª Romaria da Terra do Rio Grande do Sul envolvendo as quatro arquidioceses e as catorze dioceses do regional sul 3. Já participaste em alguma delas?  Quantas? Quase todas? Vem reviver esta experiência inesquecível. Será esta a tua primeira participação na Romaria da Terra?   Sejas bem-vindo! Entra em contato com a tua paróquia e diocese, organiza a caravana e vem participar da caminhada no dia 04 de março de 2014! Onde vai ser?   Desta feita vai ser no vicariato de Guaíba (Arquidiocese de Porto Alegre) perto da cidade de tapes no assentamento Lagoa do Junco. Salvemos nossa terra com cooperação e agroecologia! Este convite é para ti e é intransferível! 

Kleber Jorge e Silva - Diácono da Diocese de Chapecó/SC, agente da CPT.
“Caminhando e cantando e seguindo a canção” assim podemos definir e celebrar a grande Romaria da Terra. Nessa caminhada que reúne camponeses e camponesas, indígenas e quilombolas, sindicatos e pastorais sociais, juventudes e os nossos queridos movimentos sociais, assim, numa só voz gritamos e elevamos o clamor que a terra pertence a Deus e precisa ser cuidada, amada e não explorada, envenenada, queimada e poluída. Em cada Romaria da Terra somos convidados e convocados a assumir um compromisso com a “Grande Pátria – a América Latina” que sofre pelos interesses do capitalismo neoliberal. Precisamos dizer não ao agronegócio que mata milhões de pessoas por sua obsessão. Precisamos reafirmar nossa opção pelos pobres – os preferidos de Deus. E acima de tudo precisamos assumir o compromisso com uma agricultura agroecológica familiar, sem agrotóxicos (defensivos). Que o Deus libertador nos ajude a caminhar com a firmeza do Evangelho e com profecia para denunciar os projetos de morte. Um forte abraço a todos os romeiros da terra. 

Cedenir de Oliveira – MST
A romaria da terra sempre foi um espaço importante para os militantes sociais, de celebração, de luta, mas também de denúncia. A reforma agrária sempre foi um tema que pautaram as romarias. E com muita alegria que vamos acolher em nosso território conquistado com a luta do povo, a 37ª edição. 

Simone Pegoraro - Farroupilha
A Romaria da Terra nos faz entender cada vez mais de que é preciso cuidar da Terra e de toda a vida no planeta. A Terra é bem mais do que apenas produtora de alimento. A terra é um espaço mínimo para o desenvolvimento da vida. É esse espaço de promoção e valorização da vida que a Romaria da Terra nos traz, através de gestos que promovem a vida através da agricultura orgânica, através da formação de cooperativas de produção sustentável, da preservação das sementes, através da motivação de uma cultura de paz, a criação e articulação de políticas públicas para os jovens e mulheres permanecerem no campo, a criação de novos postos de trabalho, o respeito pelas culturas indígenas que precisam ser protegidas, nos fazendo entender que nosso trabalho na Terra é sermos as mãos, os pés, as palavras e as ações do amor, na preservação da natureza e no cuidado com o outro fortalecendo a cultura do Bem Viver. 

Dom Bruno Maldaner – Pronunciamento na 9ª Romaria da Terra.
A fim de que haja terra para todos, cresce, aumenta dia a dia o número de agricultores cristãos, e também operários e povos indígenas, envolvidos nesta luta pela justiça social. E tudo isso no cumprimento das exigências de sua fé e como sinal de esperança na vinda de dias melhores. A Igreja louva e empresta seu apoio a todo este esforço para substituir, para melhorar as situações de vida, especialmente, quando este esforço se faz em comum, na solidariedade das organizações populares, como é o caso do Movimento Sem Terra, e de tantos outros movimentos que, graças a Deus, estão surgindo em todas as partes. Isto não tem nenhuma conotação de violência, mas, isto é lutar por mais justiça. Isso é lutar por reforma agrária autêntica, isso é dizer, alto e bom som, que a terra é sagrada, que a terra é dom de Deus, que a terra é para todos e não só para alguns. 

Dom Alessandro Ruffinoni – Bispo de Caxias do Sul – Material em preparação a 36ª RT
As Romarias da Terra aqui no Estado, sempre tiveram o objetivo de ser uma profecia, que de um lado denunciam a desigualdade e injustiças que existem no campo e de outro propõem a solidariedade, a cooperação e um desenvolvimento sustentável em vista do bem comum ou bem viver.

Dom Orlando Dotti -  9ª Romaria da Terra – Fazenda Anonni
Devemos fazer valer nossa força de organização, conscientizando, reivindicando, pressionado e, em casos extremos, acampando e ocupando as terras que por direito pertenceriam ao povo. A moral cristã nos ensina que, em casos extremos, todas as coisas são comuns. A ocupação, a invasão, como muita gente teima em dizer, não é o que queremos, mas, às vezes, é a única coisa que se pode fazer para poder sobreviver. Tem gente que ao ouvir falar em ocupação fica mais azedo que butiá verde! Saibam que mais amarga é a vida daqueles que não tem terra para tirar o alimento para sobreviver.
No Brasil em que a terra foi juntada de maneira desproporcionada e voraz pelos latifundiários, nós em nome da igualdade humana, dizemos que esta deve ser redistribuída ao povo, que nela trabalha.  A terra que foi engolida pelas multinacionais, em nome da justiça social, ela deve ser devolvida aos que nela trabalham.  A terra que foi escondida pelos ricos, em nome da fraternidade cristã, ela deve aparecer de novo para quem produza o alimento que falta na mesa de tanta gente. Deus deu a terra a todos e todas e não apenas a alguns. E se alguns têm terra demais, outros não a têm, por isso nós lutamos pela reforma agrária.

Dom Tomás Balduíno – 22ª Romaria da Terra.
Eu gostaria, nesta Romaria, de destacar a importância de mantermos levantada firmemente a bandeira da reforma agrária. Ela é vital para o povo da terra e de maior importância para a realização da democracia.

Dom Paulo Moretto – Subsídio 20ª Romaria da Terra
Neste sentido é importante a participação do pequeno agricultor na produção de alimentos. É ilusão achar que nós nos alimentamos com aquilo que as grandes empresas agrícolas plantam. Essa é uma romaria que interessa ao pequeno agricultor e a todo o povo consumidor, que quer ter em suas mesas alimentos saudáveis.

Dom Jacó Roberto Hilgert – Texto base 23ª Romaria da Terra
Portanto uma romaria muito especial para manter viva a chama da luta pela reforma agrária que no dizer do Papa João Paulo II, “é uma questão de justiça e de futuro da democracia”. Importa também despertar mais amor e consciência pela agricultura familiar e suas perspectivas favoráveis de saídas, tais como o associativismo, a agroecologia, a agroindústria e, finalmente, a insubstituível organização popular.

Irmão Antônio Cechin
O Ano dos Mártires (1978) foi aberto com a Romaria da Terra, que foi a primeira em São Gabriel, no coração do latifúndio. O lugar escolhido foi Caiboaté, a terra que São Sepé a os 1.500 companheiros ensoparam com seu sangue. No dia 7 de fevereiro de 1978, terça-feira de Carnaval, aconteceu a primeira Romaria da Terra no Rio Grande do Sul. 
No ano seguinte, em 1979, a CPT do Rio Grande do Sul inscreve a Ramaria da Terra no Calendário oficial de suas comemorações, E a partir de então, todos os anos, na terça-feira de carnaval, véspera do Dia das Cinzas, a Romaria da Terra acontece.
(este depoimento foi extraído do Jornal Sem Terra - Porto Alegre, 9 de fevereiro de 1982. Nº. 18)

Nenhum comentário:

Postar um comentário