terça-feira, 16 de julho de 2013

Nota Técnica sobre Milho Transgênico

NOTA TÉCNICA SOBRE MILHO TRANSGÊNICO E INCIDÊNCIA DE PRAGAS EM ÁREAS DE CULTIVO DE MILHO E SOJA

Esta Nota Técnica tem o objetivo de subsidiar o debate em torno da inclusão ou não de variedades de milho com tecnologia Bt (geneticamente modificado) no sistema troca-troca, apresentando sumariamente em que consiste a tecnologia, alguns problemas constatados a partir de sua aplicação a campo e possíveis alternativas tecnológicas para evitar esses problemas. 
I. O que é o Milho Bt
O milho geneticamente modificado foi desenvolvido a partir da introdução de genes específicos de Bacillus thuringiensis que levam à produção de proteínas tóxicas a determinadas ordens de insetos considerados pragas para a cultura, especificamente uma espécie de lagartas conhecida como lagarta-do-cartucho do milho (Spodopterera frugiperda). Esta espécie pode causar dano econômico às lavouras de milho por instalar-se na parte apical das plantas, perfurando as folhas em formação, especialmente na fase inicial de crescimento vegetativo, e em períodos de pouca ocorrência de chuvas. 
II. Alguma coisa está fora da ordem
Notícias recentes mostram que lavouras de milho Bt (transgênico), assim como áreas cultivadas com soja, foram atacadas severamente por lagartas na safra atual, incluindo a lagarta-do-cartucho que, teoricamente, deveria ser controlada pela transgenia do milho. Bastaram apenas duas safras para essa lagarta desenvolver resistência a essa tecnologia. Quais as razões para isso?
1. Deve-se lembrar que as próprias empresas produtoras de milho transgênico recomendam a implantação de áreas de refúgio em torno das áreas cultivadas com Bt.  A função dessas áreas de refúgio é fazer com que as lagartas contaminadas, que desenvolvem em seu estômago “cristais”, (chamados pelos pesquisadores de Proteína Cry), alimentem-se também de milho convencional e, desta forma, não adquiram resistência ao efeito do Bt. Ocorre que, na prática, a grande maioria dos agricultores ignora esta medida, e as lagartas Spodoptera, já no segundo ano de plantio de milho Bt, acabaram adquirindo uma resistência bastante elevada, comprometendo a eficácia de seu controle, e obrigando muitos agricultores a recorrer a aplicação de inseticidas para o controle da lagarta-do-cartucho;
2. A lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), com seu hábito canibal, ajudava a inibir o desenvolvimento de outras espécies de lagartas, como é ocaso da espécie Helicoverpa zea, conhecida como lagarta-da-espiga, que até pouco tempo não causava maiores preocupações, mas que na última safra acabou se proliferando em lavouras de milho e,inclusive, migrando para lavouras de soja, ampliando dessa forma o uso de agrotóxicos e os custos de produção para estas culturas; 
3. Salienta-se que, por ser o milho uma espécie de polinização aberta, há um risco quase inevitável de contaminação de pólen do milho geneticamente modificado com variedades crioulas, e financiamento de sementes de milho transgênico através desse sistema comprometeria ainda mais a já fragilizada manutenção dessa biodiversidade.
III. Propostas
Frente ao cenário atual, propõe-se:
1. Do ponto de vista das políticas públicas, não estimular oficialmente o cultivo de milho Bt através de subsídio por parte do estado (em outras palavras, manter a regra atual do FEAPER que não inclui o milho Bt no sistema troca-troca de sementes); 
2. Do ponto de vista das alternativas tecnológicas para o controle da lagarta-do-cartucho do milho, implantar uma campanha massiva de uso de agentes biológicos para o controle da lagarta-do-cartucho do milho. Convém lembrar que já existe tecnologia eficaz para isso, desenvolvida pela Embrapa, viável técnica e economicamente, com a vantagem adicional de ser ambientalmente mais adequada. O custo dessa tecnologia é relativamente baixo, em torno de R$ 17,00/hectare, mais as despesas de correio para o transporte dos agentes biológicos (no curto prazo, os mesmos viriam de outros estados, principalmente de São Paulo, que possui biofábricas com produção em grande escala, mas esse custo pode ser reduzido se a remessa for em grande quantidade).
Atualmente o estado do RS cultiva em torno de 1,1 milhão de hectares de milho, se atingirmos com essa campanha em torno de 5%, isso significa aproximadamente 55.000 hectares, o que representa uma área significativa. Ao mesmo tempo, e talvez mais importante, com isso estaremos estimulando uma outra visão, um enfoque diferenciado nas formas de enfrentar a questão do controle de pragas no cultivo de lavouras de grãos.   
Porto Alegre, 07 de abril de 2013.

Gervásio Paulus
Diretor Técnico da EMATER e Superintendente Técnico da ASCAR
Fone (51)2125-3016 // 95522286