segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A TERRA É NOSSA IRMÃ

Única fotografia conhecida do Chefe Seattle, de 1860
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Sealth
(Carta do Chefe Seatlle, da tribo Suquahish, dos Estados Unidos, redigida em 1855 para o presidente americano)

“O grande chefe de Washington mandou dizer que deseja comprar a nossa terra. O grande chefe assegurou-nos também de sua amizade e sua benevolência. Isso é gentil de sua parte, pois sabemos que ele não necessita de nossa amizade. Porém, vamos pensar em sua oferta, pois sabemos que se não o fizermos, o homem branco virá com armas e tomará nossa terra. O grande chefe em Washington pode confiar no que o Chefe Seath diz, com a mesma certeza com os nossos irmãos brancos podem confiar na alternância das estações do ano. Minha palavra é como as estrelas: - Não empalidecem.
Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal idéia nos parece estranha. Nós não somos donos da pureza do ar e nem do resplendor da água. Então como você pode comprá-los de nós? Decidimos apenas sobre o nosso tempo. Toda esta terra é sagrada para meu povo. Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, como é possível comprá-los? Cada folha reluzente de um pinheiro, cada punhado de areia das praias, a penumbra na floresta densa, cada clareira e todos os insetos a zumbir são sagrados na memória e experiência de meu povo. A seiva que percorre o corpo das árvores carrega consigo as lembranças do homem vermelho.
Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um torrão é igual a outro. Porque ele é um estranho que vem de noite e rouba da terra tudo o que necessita. A terra vai embora. Deixa para trás o túmulo de seu pai, sem remorsos de consciência, rouba a terra de seus filhos. Nada respeita. Esquece a sepultura de seus antepassados e do direito de seus filhos e não se importa. A sepultura de seu pai e os direitos de seus filhos são esquecidos. Sua ganância empobrecerá a terra. Trata sua mãe, a terra, e seu irmão, o céu, como coisas que possam ser compradas, saqueadas, vendidas como carneiros ou enfeites coloridos. Sua ganância empobrecerá a terra e deixará atrás os desertos. A vista das cidades é um tormento para o homem vermelho. Talvez seja porque o homem vermelho é um selvagem que nada compreenda.
Não se pode encontrar paz nas cidades do homem branco. Nenhum lugar onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem na primavera ou o tinir das asas dos insetos. Mas talvez seja porque eu sou um selvagem que nada entende, o ruído das cidades é para mim uma afronta aos ouvidos. E o que resta da vida se um homem não pode ouvir o choro solitário de uma ave ou o debate dos sapos ao redor de uma lagoa, à noite? Eu sou um homem vermelho e não compreendo. O índio prefere o suave sussurro do vento encrespando a face do lago, e o próprio cheiro do vento, purificado pela chuva diurna ou perfumado pelos pinheiros. O ar é precioso para o homem vermelho. Por que todos os seres vivos respiram o mesmo ar – animais, árvores, homens? Não parece que o homem branco se importa com o ar que respira. Como um moribundo, ele é insensível ao ar fétido.
Se eu me decidir a aceitar, imporei uma condição. O homem branco deve tratar os animais como se fossem seus irmãos. Sou um selvagem e não compreendo que possa ser certo de outra forma. Vi milhares de búfalos apodrecendo nas pradarias, abandonados pelo homem branco que os abatia a tiros disparados de um trem. Eu sou um selvagem e não compreendo como é que o fumegante cavalo de ferro pode ser mais valioso que um bisão, que nós – os índios – matamos apenas para sustentar nossa própria vida. O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem, os homens morreriam de solidão espiritual, porque tudo quanto acontece aos animais também pode afetar os homens. Tudo está relacionado entre si. Tudo quanto fere a terra também fere os filhos da terra.
Os nossos filhos viram seus pais humilhados na derrota. Os nossos guerreiros sucumbem sob o peso da vergonha. E depois da derrota passam um tempo em ócio, envenenam seu corpo com alimentos adocicados e bebidas ardentes. Não tem grande importância onde passaremos os nossos últimos dias. Eles não são muitos. Mais algumas horas, até mesmo uns invernos, e nenhum dos filhos das grandes tribos que viveram nessa terra ou que têm vagado em pequenos bandos nos bosques, sobrará para chorar sobre os túmulos de um povo que um dia foi tão poderoso e cheio de confiança como nós.
De uma coisa sabemos, que o homem branco talvez a descubra um dia: nosso Deus é o mesmo Deus. Vocês podem pensar que O possuem como desejam possuir nossa terra; mas não é possível. Ele é o Deus da humanidade inteira. E quer bem igualmente ao homem vermelho como ao branco. A terra é amada por Ele, E causar dano à terra é demonstrar desprezo pelo seu criador. O homem branco vai desaparecer talvez mais depressa que todas as outras tribos. Continua poluindo a sua própria cama. E haverá de morrer uma noite, sufocando nos seus próprios dejetos. Depois de abatido o último bisão e domados todos os cavalos selvagens, quando as matas misteriosas federem a gente, e quando as colinas escarpadas se encherem de fios que falam, onde ficarão os sertões? Terão acabado. E as águias? Terão ido embora. Restará dar adeus à andorinha e à caça, o fim da vida e o começo da luta para sobreviver.
Talvez compreendêssemos se conhecêssemos com que sonha o homem branco. Se soubéssemos quais as esperanças que transmite aos seus filhos nas longas noites de inverno, que visões de futuro ele oferece às suas mentes para que possam formar os desejos para o dia de amanhã. Mas nós somos selvagens. Os sonhos do homem branco são ocultos para nós. E por serem ocultos, temos que escolher o nosso próprio caminho. Se consentirmos é para garantir as reservas que nos foram prometidas. Lá talvez possamos viver os nossos últimos dias conforme desejamos. Depois que o último homem vermelho tiver partido e a sua lembrança não passar da sombra de uma nuvem a pairar acima das pradarias, a alma do meu povo continuará a viver nestas florestas e praias, porque nós as amamos como um recém-nascido ama o bater do coração de sua mãe. Se vendermos a você a nossa terra, ame-a como nós a amávamos. Protege-a como nós a protegíamos. Nunca esqueça como era esta terra quando você tomou posse. E com toda a tua força, o seu poder, e todo o seu coração conserva-a para seus filhos e ame-a como Deus ama a todos nós.
Mesmo o homem branco, cujo Deus caminha e fala com ele de amigo para amigo, não pode estar isento do destino comum. É possível que sejamos irmãos, apesar de tudo. A terra não é sua irmã, mas sua inimiga, e quando ele a conquista, prossegue seu caminho. A vista de suas cidades é um tormento para o homem vermelho. Mas, talvez seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que nada compreende. Os mortos do homem branco esquecem sua terra de origem quando vão caminhar entre as estrelas. Nossos mortos jamais esquecem esta bela terra, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela faz parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs; o cervo, o cavalo, a grande águia, são nossos irmãos. Os picos rochosos, os sulcos úmidos nas campinas, o calor do corpo do potro, e o homem - todos pertencem à mesma família.
Portanto, quando o Grande Chefe em Washington manda dizer que deseja comprar nossa terra, pede muito de nós. O Grande Chefe diz que nos reservará um lugar onde possamos viver satisfeitos. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Portanto, nós vamos considerar sua oferta de comprar nossa terra. Mas isso não será fácil. Esta terra é sagrada para nós.
Essa água brilhante que escorre nos riachos e rios não é apenas água, mas o sangue de nossos antepassados. Se lhes vendermos a terra, vocês devem lembrar-se de que ela é sagrada, e devem ensinar as suas crianças que ela é sagrada e que cada reflexo nas águas límpidas dos lagos fala de acontecimentos e lembranças da vida do meu povo. O murmúrio das águas é a voz de meus ancestrais. Os rios são nossos irmãos, saciam nossa sede. Os rios carregam nossas canoas e alimentam nossas crianças. Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem lembrar e ensinar a seus filhos que os rios são nossos irmãos e seus também. E, portanto, vocês devem dar aos rios a bondade que dedicariam a qualquer irmão.
O ar é precioso para o homem vermelho, pois todas as coisas compartilham o mesmo sopro - o animal, a árvore, o homem, todos compartilham o mesmo sopro. Parece que o homem branco não sente o ar que respira. Como um homem agonizante há vários dias, é insensível ao mau cheiro. Mas se vendermos nossa terra ao homem branco, ele deve lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar compartilha seu espírito com toda a vida que mantém. O vento que deu a nosso avô seu primeiro inspirar também recebe seu último suspiro. Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem mantê-la intacta e sagrada, como um lugar onde até mesmo o homem branco possa ir saborear o vento açucarado pelas flores dos prados.
Portanto, vamos meditar sobre sua oferta de comprar nossa terra. Se decidirmos aceitar, imporei uma condição: o homem branco deve tratar os animais desta terra como seus irmãos. Vocês devem ensinar às suas crianças que o solo a seus pés é a cinza de nossos avós. Para que respeitem a terra, digam a seus filhos que ela foi enriquecida com as vidas de nosso povo. Ensinem as suas crianças o que ensinamos as nossas que a terra é nossa mãe. Tudo o que acontecer à terra, acontecerá aos filhos da terra. Se os homens cospem no solo, estão cuspindo em si mesmos. Isto se sabe: a terra não pertence ao homem; o homem pertence à terra. Isto se sabe: todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma família. Há uma ligação em tudo.
O que ocorrer com a terra recairá sobre os filhos da terra. O homem não tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um de seus fios. Tudo o que fizer ao tecido, fará a si mesmo. Mas quando de sua desaparição, vocês brilharão intensamente, iluminados pela força do Deus que os trouxe a esta terra e por alguma razão especial lhes deu o domínio sobre a terra e sobre o homem vermelho. Esse destino é um mistério para nós, pois não compreendemos que todos os búfalos sejam exterminados, os cavalos bravios sejam todos domados, os recantos secretos da floresta densa impregnadas do cheiro de muitos homens, e a visão dos morros obstruída por fios que falam.
É o final da vida e o início da sobrevivência. Deus é o mesmo Deus essa terra é querida por Ele. Nem mesmo o homem pode evitar o nosso destino comum.”

"Chefe Sealth" (Ts'ial-la-kum), mais conhecido atualmente como Chefe Seattle (ou ainda Sealth, "Seathle", Seathl ou See-ahth) ( 1786-7 de Junho de 1866), foi líder das tribos Suquamish e Duwamish, no que hoje é o estado americano de Washington. Uma personalidade muito conhecida entre seu povo, ele lutou por uma forma de acomodar os colonos brancos, criando uma relação pessoal com o Doutor David Swinson "Doc" Maynard, um dos pais fundadores da cidade de Seattle, Washington, que ganhou este nome em homenagem a ele (http://pt.wikipedia.org/wiki/Sealth).

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