Foto: Feira ecológica do grupo NAESC - Nucleo de Agricultores Ecologistas de Santa Cruz do Sul, Francisco Fritzen, agricultor ecologista da CPT. |
Por Maurício Queiroz*
Atualmente se fala muito em diversificação da propriedade em nossa região e até pelo Brasil a fora. Concordo com a ideia de diversificar, mas com algumas observações que julgo importantes.
A agricultura desde sua origem foi diversificada. O camponês ou camponesa sempre fez policultura que é produção de vários tipos de alimentos em sua propriedade. Há 50 ou 60 anos deixaram de fazer policultura para adotar uma “agricultura moderna”, com monoculturas, venenos, sementes compradas de empresas, etc. De lá prá cá deixaram gradativamente de ser agricultores e passaram a ser produtores de produtos. Com isso foram ensinados a abandonarem a sabedoria e cultura milenar para serem agricultores “modernos”.
Atuo na região onde mais se planta fumo no mundo, a região de Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul. Por aqui o discurso da diversificação da propriedade podemos dizer que virou moda. É discurso da indústria fumageira, de entidades sindicais, entidades que representam agricultores e também dos governos. Quem ouve pode até pensar que agora finalmente os agricultores vão melhorar. Mas eu estou preocupado, porque muitos agricultores estão “atolados”em dívidas e muitos fazem como no município de Amaral Ferrador, abandonam massivamente a roça para arriscar-se em qualquer outra coisa que não agricultura ou fazem como vários infelizmente fizeram na região, buscaram no suicídio uma saída.
Queria dizer que nos diferenciamos da “moda do discurso”por que quando falamos em diversificação nas propriedades estamos falando em agroecologia, em agricultura ecológica, pois não há agroecologia sem diversificação, sem policultura. Mas sobre tudo estamos falando em mudança de modelo de produção. Não admito a idéia que muitas vezes escuto por ai “diversificar a propriedade com fumo” “o fumo é um mal necessário”, ou seja, continua plantando fumo e plante mais alguma cultura, normalmente imposta como pacote de cima para baixo. Entendo perfeitamente que a mudança da noite para o dia não é possível, mas que isso não seja argumento para não fazer nada.
Quero que os agricultores participem do processo de discussão e construção de saídas e não que sejam meros espectadores. Quero que eles tenham o pleno direito de se arriscarem (como se arriscam quando abandonam a roça) a buscar alternativas, inclusive abandonar o plantio do fumo. Quero que os pequenos agricultores sejam respeitados. Nosso principal papel é encorajá-los e não amedrontá-los cada vez mais, como se tudo estivesse perdido e não há nada mais a fazer.
A meu ver a produção ecológica de alimentos é o caminho para os pequenos agricultores brasileiros. E isso significa organização em grupos ou movimento para ter mais voz e força. É autonomia e não dependência. É ter casa digna para morar e o sagrado direito a terra e água. É a relação direta com os trabalhadores da cidade através das feiras livres que proporciona à ambos um espaço rico de diálogo e trocas de experiências.
O que descrevi hoje é utopia, mas como diz Dom Pedro Casaldáliga “sem utopia não há crescimento”, é algo que perfeitamente podemos alcançar. Agricultores e agricultoras podem contar conosco!!!
*Maurício Queiroz é Técnico Agrícola do projeto social da Diocese de Santa Cruz do Sul e atuante na Pastoral da Terra (CPT) e dedicado ao trabalho de agroecologia.
E-mail: mauricio.que@bol.com.br
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