Quando nossa barriga ronca é um sinal de fome. Para saciar esta necessidade fisiológica que todos temos nada melhor que uma comida bem gostosa, ao nosso gosto, de acordo com a nossa tradição familiar, cultural e regional. Esta comida que vamos comer quanto mais diversificada for, mais saudável se torna, ainda mais se esta diversidade for ecológica.
Pode até ser que inventem, se é que já não o fizeram, uma pílula artificial de “feijão”, mas esta jamais chegará aos pés do que é o feijão, verdadeiro e produzido lá na terra. Falamos disso por que hoje em dia se inventa de tudo e, no supermercado tem tudo o que você pode imaginar de “comidas” artificiais, que nada tem a ver com nosso organismo, nossa natureza orgânica. Por isso adoecemos facilmente. Quando vamos nos alimentar, digamos comer comida mesmo, é o momento em que estamos ligados diretamente com a natureza, com a mãe terra, e ligados com o homem e a mulher da roça que são os responsáveis por produzir comida em todo o planeta. Daí recordamos como os alimentos são indispensáveis, insubstituíveis e especiais.
A cada ano, na Romaria da Terra, resgatamos o valor do camponês e da camponesa e sua missão milenar de produzir comida. Somente o agricultor e a agricultora podem fornecer alimentos de qualidade para o mundo.
Alimentos saudáveis são aqueles que não foram produzidos com venenos e nem a partir de sementes transgênicas, sem esquecer de que devem ser naturais e não artificiais. Na agricultura estes alimentos saudáveis e diversificados são produzidos através da agroecologia. Você já ouviu falar em agroecologia?
Para entendermos melhor vamos dividir a palavra: Agro=agricultura - Eco=casa e Logia=estudo. A palavra ecologia é originária do grego (ECO do OIKOS - igual a Casa, LOGIA do LOGOS - igual a estudo). Em resumo, AGROECOLOGIA é fazer agricultura respeitando a grande casa, o planeta, e os moradores desta “grande casa”, ou seja, toda a biodiversidade.
Na Agroecologia, o agricultor e a agricultora são os atores principais!
A agroecologia não é novidade. Desde a existência da agricultura, a mais de 12mil anos, foi somente nos últimos 70 anos que a agricultura passou a ser mais artificial do que natural e com uso massivo de venenos. Antes era desenvolvida somente com recursos naturais, ecológica e diversificada. Basta conversarmos com os mais idosos e eles nos contam tudo como era.
A primeira questão a deixar claro é que fazer agroecologia não é coisa de atrasado. Ao contrário, o agricultor e a agricultora que produzem no sistema agroecológico são os mais evoluídos que podemos imaginar em termos de produção de alimentos, exatamente por produzir alimentos integrados com o ecossistema, ou seja, respeitando a diversidade de vida existente. Em termos simples e resumidos, a agroecologia é produzir de forma a respeitar o ecossistema, resgatando práticas adotadas há milênios, como guardar sementes todos os anos para plantar novamente, e aprimorando cada vez mais, de forma a evoluir sempre.
O que será da vida de um agricultor ou agricultora sem a terra?
O que será desta família com a terra, mas sem as sementes?
A reforma agrária é uma necessidade urgente e atual, primeiro por que cumpre o papel de repartir a terra de forma a mexer nas estruturas, “terra para quem nela trabalha e dela vive”. O que será da vida de uma família que vive do cultivo da terra se não tem terra? Sem a terra não tem como produzir e viver dignamente. Mas só a terra não basta, embora o acesso a ela seja uma prioridade, precisa ser repartida também as áreas onde existem as melhores reservas de água, que hoje se concentram nas mãos de alguns grupos muito ricos. Não é justo que se assentem famílias em locais com escassez de água, impedindo a vida florir dignamente.
Além da terra, das estruturas fundamentais de moradia, estruturas de produção, infraestrutura, saúde e educação tem outro aspecto fundamental nesta luta que são as sementes. O que será de uma família camponesa com terra, mas sem sementes? Precisamos lembrar que sementes crioulas são sinônimas de comida, alimentos, saúde, autonomia, dignidade, fé e cultura. Da terra dependemos para produzir comida para vivermos, mas de que adianta ter a terra, mas depender de sementes caras e que estão nas mãos de algumas empresas?
Por isso reforçamos que uma reforma agrária e uma agricultura preocupada em produzir comida saudável e cuidar dos recursos naturais não é completa enquanto estiver dependente de empresas multinacionais, como se nossa vida estivesse nas mãos delas. Se a nossa produção de comida não estiver sob nosso controle estaremos comprometendo a autonomia e a capacidade de reprodução da vida na roça. Por isso a luta das sementes é fundamental.
“Agricultura é a Arte de Cultivar o Sol” (antigo provérbio chinês).
Você pode estar se perguntando: como posso fazer agroecologia na minha propriedade? Por onde devo começar? Como posso sair do modelo convencional para a agroecologia?
Algumas dicas importantes:
- Esteja convencido de que quer mesmo partir para a agroecologia. O primeiro passo é fazer agroecologia dentro de nossa cabeça. Costumamos dizer que quando praticamos agroecologia em nossa cabeça, quando estamos convencidos, fazer na terra é muito mais fácil!
- Começar pequeno, ou seja, dando passos curtos, mas bem dados. Não queira transformar sua propriedade da noite para o dia. Comece com uma pequena área e vá aumentando aos poucos. Isso exige planejamento!
- Pense na comida. Comece por aí, garanta alimentos diversificados e saudáveis para sua família em primeiro lugar.
- Reúna vizinhos ou amigos que estão na mesma realidade e pensem juntos. O que podemos fazer juntos ou individualmente? Soltar a criatividade.
- Qual é a minha realidade? Tenho terra ou não, distância da cidade, o que gostamos de fazer. É um exercício importante também para florir as ideias.
- Em geral nossas propriedades têm potenciais, que na maioria das vezes não sabemos como aproveitar; por isso faça o estudo destes potenciais. Por exemplo: os estercos dos animais, se bem aproveitados, são ótimos adubos. O esterco dispensa a compra de adubos químicos na agropecuária. Às vezes o potreiro dos animais ocupa a melhor área de terra, mais fácil de trabalhar por ser plana, e ficamos sofrendo no morro. Quem sabe não seria melhor inverter? Existem tantas outras dicas que podem facilitar o trabalho.
- Assim como seu grupo de amigos ou vizinhos se reúnem para pensar, é bom pensar em amigos na cidade, pois eles precisam de alimentos saudáveis. Que tal criar um grupo de consumidores ecológicos? É uma boa ideia!
- Uma questão fundamental é pensar de onde vêm os alimentos que abastecem nossas cidades. Por que não são produzidos pelos agricultores do município, como para a merenda escolar?
- Buscar apoio técnico de alguém comprometido com a agroecologia e com a causa dos agricultores e agricultoras.
- Procurar envolver a juventude nas ações e proporcionar espaços de estudo e capacitação técnica. Jovens tem força, criatividade e energia, gostam de desafio, e será a garantia de continuidade.
Para fazer agroecologia não há uma receita pronta! Precisamos colocar a cabeça para funcionar. “Sozinhos somos fracos, mas unidos somos fortes”.
Dica ecológica!
Não use milho transgênico. Em alguns lugares se espalhou a ideia de que o agricultor precisa plantar milho transgênico para não ter problemas com as Lagartas do Cartucho e da Espiga. É mentira! Faça controle biológico no milho contra a Lagarta do Cartucho (Spodoptera frugiperda) e da Lagarta da Espiga (Helicoverpa zea). Normalmente esta lagartinha apresenta mais problemas no milho tardio. Para combater a lagarta você pode encomendar nos escritórios da EMATER uma vespinha chamada Trichogramma spp, para o controle biológico. O custo por hectare é baixo e vale a pena!