por Pe. Renato Biasi, Lindomar Treviso, Ari Bertuzzi e Darci Preto
Desde 1978, quando foi realizada a primeira Romaria da Terra no Rio Grande do Sul, a Arquidiocese de Passo Fundo já acolheu por três vezes esse evento, organizado em mutirão e no compromisso de colegialidade, envolvendo: Regional Sul 3 da CNBB, a Igreja particular que acolhe, a Comissão Pastoral da Terra e representantes de Igrejas cristãs e entidades sociais. A 38ª Romaria, que acontece em David Canabarro, é a 4ª que realizamos com este espírito em nossa Arquidiocese.
1. As Romarias já realizadas na Arquidiocese:
1ª) 5ª Romaria da Terra: ocorreu em 23 de fevereiro de 1982, na localidade de Encruzilhada Natalino, município de Ronda Alta. Ali estavam acampadas cerca de 600 famílias sem terra da região. Estava iniciando um movimento que ganhou grandes proporções na luta pela reforma agrária. Teve como lema: “Povo unido jamais será vencido” e contou com a participação de aproximadamente 33 mil romeiros.
2ª) 9ª Romaria da Terra: realizada no dia 11 de fevereiro de 1986, na Fazenda Annoni, município de Sarandi, que foi palco de uma grande ocupação, no dia 29 de outubro de 1985, com cerca de 1,5 mil famílias. Motivados pelo lema “Terra de Deus, terra de irmãos”, ali se reuniram aproximadamente 60 mil romeiros, junto com os acampados, para rezar, celebrar e discutir a questão da reforma agrária, entre outros assuntos.
3ª) 23ª Romaria da Terra: foi em 07 de março de 2000, na cidade de Casca. O dia de encontro, celebração e reflexão foi iluminado pelo lema “Agricultura familiar: esperança, luta e desenvolvimento” e reuniu mais de 30 mil romeiros.
2. Algumas motivações para acolher a Romaria da Terra na região de Passo Fundo
Em 2015 estaremos realizando nossa quarta Romaria, que está em sintonia com algumas motivações. Em primeiro lugar, pelo compromisso de acolher a Romaria no espírito de solidariedade com a Igreja do Rio Grande do Sul, uma vez que segue um princípio de rodízio entre as dioceses para acolher e organizar em conjunto com a CPT-RS.
Em segundo lugar, a luta pela reforma agrária ganhou uma expressão muito forte na Arquidiocese de Passo Fundo e adquiriu corpo e forma em muitas bandeiras, movimentos sociais e políticos. Todo este movimento teve sua origem no seio da Igreja profética que acolheu e apoiou esta luta.
Entretanto, a motivação principal é pelo fato da Arquidiocese de Passo Fundo contar com uma realidade bastante plural em termos de pequenos agricultores familiares, assentamentos, experiências de agroecologia, trabalhos de grupos de economia solidária, de um lado e, de outro, a realidade do latifúndio, o agronegócio e a agricultura extensiva com alto índice de uso de agrotóxico.
No texto-base da 5ª Romaria da Terra, realizada na Encruzilhada Natalino, se dizia: “Estes colonos simples (...) mostraram que as terras do Rio Grande do Sul, que sempre foi considerado o celeiro do Brasil pela produção de suas pequenas propriedades, estão cada vez mais se concentrando nas mãos de uns poucos. E estes, por sua vez, as utilizam não para produzir comida e vida, mas sim dinheiro e capital para uma minoria”. Essa realidade continua visível nos dias atuais. A luta pela reforma agrária continua e faz muito bem para a vida da nossa nação, tanto em termos sociais como na linha da produção e desenvolvimento econômico sustentável.
No caso da Fazenda Annoni, ali se criava gado, mas abaixo da produtividade estipulada pelo Estado. Nesta área de 9 mil hectares, hoje vivem 420 famílias, divididas em 5 assentamentos. Os agricultores produzem, entre outros itens, cerca de 20 mil sacas de trigo, 6 milhões de litros de leite e 35 mil sacas de milho por ano (Fonte: MST, 2007). Ali também existe uma Escola Técnica, o Instituto Educar, cujos educandos são filhos de assentados e acampados. Há um laticínio que resfria e comercializa cerca de 1 milhão de litros de leite por mês. A meta é industrializar produtos como queijos e iogurtes. Há um frigorífico que abate, por mês, cerca de 800 suínos e 300 bovinos e fabrica cerca de 2 mil quilos de embutidos como salames e linguiças. Tudo isso se desenvolve sobre o que era um latifúndio improdutivo, saltando aos olhos que a reforma agrária dá certo e é necessária e urgente.
3. O Município de David Canabarro
O município de David Canabarro foi criado em 28 de dezembro de 1965, com área de 175 km². Possui uma população de 4.683 habitantes, sendo que 2.771 no meio rural e 1.912 no meio urbano (IBGE, Censo 2010). No meio rural existem 948 propriedades, sendo que 925 possuem uma media de 14,82 ha e 23 propriedades possuem uma media de 43,39 ha.
É um município essencialmente marcado pela agricultura familiar, com produção diversificada. Ainda é alto o índice de pessoas que vivem no meio rural, produzindo alimentos e gerando receitas para o setor público.
As principais fontes geradoras de renda e imposto para o município são: a agropecuária, respondendo por 52,35% do valor bruto adicionado; os serviços, que respondem por 43,31%; e a indústria com 4,34%. No tocante aos produtos e atividades agropecuárias desenvolvidas, destacam-se: milho, soja, feijão, fumo, leite, fruticultura (com ênfase para moranguinho, uva e ameixa preta), integração com setor de aves e de suínos. Em relação ao cultivo do fumo, a área de produção tem diminuído nos últimos tempos, fruto das campanhas de alternativas à sua produção.
Manter esta realidade de agricultura familiar nas pequenas propriedades, gerando renda que permita a família viver com dignidade e segurança é o grande desafio das entidades do município de David Canabarro.
Questões para debate:
1) Como vamos nos organizar para participar da 38ª Romaria da Terra?
2) Quais os problemas sociais da nossa realidade e que esperamos refletir e rezar na Romaria?
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