“São
43 anos de Romarias da Terra. Percorremos muitos caminhos. Iniciamos inspirados
por mulheres e homens, mártires no campo e na cidade”, afirma o documento final
da Romaria, que denuncia “a injustiça do governo federal de acobertar a invasão
das Terras Indígenas no Brasil, bem como nosso repúdio à usina de mineração,
prevista para os municípios de Eldorado do Sul e Charqueadas”. Confira a Carta
na íntegra:
O Bem Viver no Campo
e na Cidade
“Dá-me
de beber” (Jo 4,7)
Nós,
romeiras e romeiros, discípulos missionários de Jesus Cristo, presentes na 43ª
Romaria da Terra, neste dia 25 de fevereiro de 2020, no município Mormaço/RS,
saudamos a todas pessoas de boa vontade e partilhamos o que vivenciamos neste
dia marcante de celebração e esperança.
São
43 anos de Romarias da Terra. Percorremos muitos caminhos. Iniciamos inspirados
por mulheres e homens, mártires no campo e na cidade, como o Servo de Deus,
Índio Sepé Tiaraju e os 1500 irmãos índios mortos na batalha dos Sete Povos,
desde o coração do Rio Grande, marcado pela injustiça do latifúndio e dos
venenos. Somos o Povo de Deus profético, a Igreja com os pés na história e os
olhos em busca da Terra Prometida.
Com
a CPT/RS, a Diocese de Cruz Alta, a Paróquia Nossa Senhora dos Navegantes e o
Poder Público, de Mormaço, fizemos uma linda caminhada construtiva e
participada de organização da Romaria da Terra. O tema – “O Bem Viver no campo
e na cidade” – foi escolhido porque: a) é grande o clamor de nosso povo por
vida e saúde, diante do uso irresponsável e indiscriminado de agrotóxicos; b)
aumentam as doenças pelo consumo de alimentos envenenados; c) queremos cuidar
da água e do bem viver dos mais pobres e de todas as pessoas; d) é urgente
cuidar de nossa Casa Comum. O nosso lema: “Dá-me de beber” (Jo 4,7), como a
samaritana, inspira a buscar o sentido da vida que realmente nos faz “bem
viver”, começando pela verdadeira fonte.
Nesta
43ª Romaria da Terra, desde o momento que saímos de casa, com nossas caravanas,
na recepção, na caminhada silenciosa e sugestiva de quatro cenários, na
Celebração Eucarística, nas oficinas, na convivência, nas partilhas, com vigor
e profecia...
DENUNCIAMOS:
-
a injustiça do governo federal de acobertar a invasão das Terras Indígenas no
Brasil, bem como nosso repúdio à usina de mineração, prevista para os
municípios de Eldorado do Sul e Charqueadas;
-
toda forma de violência, especialmente contra as mulheres, que aumenta
assustadoramente;
-
o uso indevido de venenos na agricultura, com a liberação de 474 tipos de
agrotóxicos, pelo Governo Federal, somente em 2019;
-
os cortes de verbas públicas para educação, bem como a privatização e
militarização da educação;
-
a ideologia da meritocracia que discrimina os menos favorecidos;
-
os falsos profetas que usam as fake news, fazendo condenações infundadas e sem
a devida investigação e punição
ANUNCIAMOS:
-
a Reforma Agrária e o alimento saudável, indispensáveis ao Bem Viver;
-
a Romaria da Terra é o encontro dos pobres que se organizam;
-
a partilha, o comunitário e o amor constroem o Bem Viver;
-
a paz, fruto da justiça social, gera a sadia convivência e o Bem Viver;
-
a agricultura familiar, a economia solidária e as feiras ecológicas são
caminhos do Bem Viver;
-
a agroecologia e as sementes crioulas são nossas bandeiras permanentes;
-
a produção e consumo de alimentos agroecológicos e orgânicos são indispensáveis
ao Bem Viver;
-
o índio Sepé Tiaraju é sempre nosso inspirador e mártir na luta pelo Bem Viver;
-
os jovens organizados e conscientes são sinais e esperança do Bem Viver;
-
as mulheres são protagonistas da vida e da esperança;
-
os índios e negros exigem respeito e direitos iguais.
“Nenhuma
FAMÍLIA SEM CASA;
Nenhum
CAMPONÊS SEM TERRA;
Nenhum
TRABALHADOR SEM DIREITOS”
(Papa
Francisco)
Mormaço,
25 de fevereiro de 2020
Comissão
Pastoral da Terra / RS - Diocese de Cruz Alta
Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil - Regional Sul III
Fonte:
CPT Nacional
Crédito
fotos: Equipe de Comunicação da 43ª Romaria da Terra do RS
Publicado:
03 Março 2020