terça-feira, 4 de outubro de 2016

A Igreja e os pequenos agricultores

POR UMA NOVA PRIMAVERA DAS IGREJAS - A Igreja e os pequenos agricultores
por Dom Orlando Dotti
A Mater et Magistra, a encíclica que mais longamente aborda o tema da agricultura, em seu número 144 afirma: “Estamos persuadidos de que, em matéria de agricultura, os principais agentes e promotores do desenvolvimento econômico, da elevação cultural e do progresso social devem ser os diretamente interessados, isto é, os próprios agricultores”. Doutro lado, a Gaudiam et Spes, no número 66, assim se expressa: “Tendo em conta as especiais dificuldades da agricultura em muitas regiões, quer na produção, quer na comercialização dos produtos, é preciso ajudar os agricultores, no aumento e na venda da produção, na introdução das necessárias transformações e inovações e na obtenção de um justo rendimento; para que não continuem a ser, como muitas vezes acontece, cidadãos de segunda categoria”.  
Ambos os textos afirmam a mesma coisa: o agricultor deve ser o protagonista de sua própria ascensão social e de suas organizações. Diante disso, torna-se imperativo perguntar: “Qual o papel da Igreja juntos aos pequenos agricultores?” Vamos tentar responder por partes.
Pelo que consta, os primórdios do cristianismo tiveram sua base nas periferias das grandes cidades. Os moradores do interior, dos “pagos”, também chamados de “pagani”, eram os nãos cristãos: os pagãos. Mais tarde, os papéis se inverteram, e a Igreja teve, prevalentemente, um rosto rural.
Isso também aconteceu no Rio Grande do Sul, de modo especial, desde a imigração no século XIX. As cooperativas de crédito, fundadas pelo Pe. Amstadt vigoraram entre os pequenos agricultores. À sombra das pequenas capelas do interior, surgiram e se consolidaram as organizações agrícolas. Duas entidades de Igreja, a FAG e a Pastoral da Terra, foram decisivas na fundação dos sindicatos, cooperativas, associações e ONGs rurais. 
Dentro desse processo histórico, que papel jogou e joga a Igreja junto às entidades de classe e às associações de produção dos agricultores? 
Esmiuçadamente, tentaremos responder a essa pergunta. A Igreja ofereceu seu espaço físico para as reuniões dos agricultores. Foi nos salões do interior e das sedes paroquiais que a agricultura familiar encontrou sua guarida. Espaço gentilmente oferecido e bem aproveitado pelos agricultores. 
Em segundo lugar, a Igreja ofereceu e oferece pessoas para estarem junto aos agricultores: padres, pastores, agentes de pastoral, técnicos,... A força de credibilidade da Igreja passou aos agricultores. Nesse trabalho todo, nossas igrejas sempre valorizaram mais o processo do que o resultado, evitando o imediatismo e a improvisação.
Mais que tudo isso, a Igreja ofereceu aos agricultores “uma cesta básica” de princípios e de valores, como orientativos em sua ação. O próprio agricultor sempre foi fiel seguidor da Igreja, acatando suas orientações e a iluminação bíblica que vem dela. A fé sempre foi sua lei e norma de vida. A partir disso, não foi difícil dar-lhe a conhecer e a viver a grande verdade de que o agricultor é alguém que goza plenamente da dignidade de pessoa humana e, por isso mesmo, merecedor de todo apreço, estima e atenção. O agricultor é plenamente cidadão como todos os demais, e não rebaixado, como muitos quereriam, a uma segunda categoria. 
Depois disso, a Igreja procurou e procura sensibilizar o agricultor para a solidariedade. “Juntos somos mais”. Todas as organizações sociais têm sua raiz na solidariedade, contra o capitalismo selvagem que privilegia o individualismo. 
A participação é outro princípio muito em voga, hoje. Estende-se à atividade social e política do agricultor. Participar é sinal de compromisso com o bem-comum.
O princípio de subsidiariedade deve ser tomado muito em conta por parte dos agentes de pastorais. Nunca tirar a vez do agricultor. Estar pronto para ajudá-lo, sem nunca substituí-lo. Quando o agricultor não tem nada a dizer, é melhor fazer silêncio do que falar por ele. Creio que um outro papel da Igreja é ser instância crítica junto às organizações rurais. Há sempre a possibilidade de descaminhos na organização social, que se manifestam quando se deixa de lado o bem-comum para atender os interesses pessoais. Diante disso, a voz da Igreja não pode se calar. A profecia não pode morrer. 
As Romarias da Terra, do norte ao sul do país, têm a finalidade de congregar os agricultores, pôr em comum seus problemas, discuti-los e projetar uma vida melhor para todos, enfocando a cada ano novos temas, com novos protagonistas e nova simbologia. 
As Romarias da Terra constituem-se em presença qualificada da Igreja junto à multidão dos agricultores que delas participam e que lutam por mais vida, qualidade de vida e cidadania. 
*Bispo Emérito de Vacaria e Fundador da Comissão Pastoral da Terra. Acompanha desde o inicio a Comissão Pastoral da Terra do RS, hoje como Conselheiro.
(texto escrito para a 36ª. Romaria da Terra do Rio Grande do Sul)

Combate aos Impactos dos Agrotóxico

No último dia 21 de setembro em Encantado - RS aconteceu Audiência Pública do Fórum Gaúcho de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos para debater e propor encaminhamentos a respeito do uso abusivo de agrotóxicos e seus efeitos no meio ambiente e saúde dos consumidores de 34 municípios do Vale do Taquari. 

A Comissão Pastoral da Terra - CPT /RS junto com a Articulação De Agroecologia Do Vale Do Taquari -Aavt auxiliaram na organização do encontro se manifestaram em defesa das sementes crioulas e da agroecologia como forma de combater o uso abusivo de agrotóxicos e demostraram preocupação com a contaminação e extermínio das sementes crioulas pelas sementes transgênicas e o pelo uso indiscriminado dos agrotóxicos . "Quem vai garantir o direito dos agricultores de cultivar sementes sadias?"

Além da presença dos agricultores e das agricultoras, e de consumidores, o encontro contou com representantes de órgãos públicos, associações civis, estabelecimentos de saúde, conselhos, universidades e movimentos sociais.

Audiência foi uma reivindicação dos agricultores e agricultoras da região do Vale do Taquari, que vem sofrendo com a morte de abelhas e perdendo a produção em virtude do uso abusivo de agrotóxicos por alguns grandes produtores da região.

Texto enviado por CPT-RS
Fotos: Articulação De Agroecologia Do Vale Do Taquari - Aavt