sexta-feira, 29 de julho de 2016

JORNADA DE INTEGRAÇÃO CAMPO E CIDADE: ECOS DE UMA ECOLOGIA INTEGRAL

A articulação das Pastorais Sociais, da qual a Comissão pastoral da Terra faz parte, juntamente com a Cáritas Arquidiocesana, Feira Ecológica, Coonalter e Pastoral da Juventude Rural promoveram a 1ª Jornada de Integração Campo e Cidade, no dia 16 de julho em Passo Fundo. O principal objetivo é fortalecer e valorizar os agricultores e agricultoras agroecológicos, articulando saberes, sabores e práticas. As bancas temáticas e atividades deixaram marcas e compromissos. 
Feira Ecológica
Já é tradicional em Passo Fundo a Feira Ecológica. Pequenos agricultores e agricultoras da região, organizados em pequenos grupos, produzindo de forma agroecológica, oferecem a comunidade passo-fundense alimentos orgânicos e saudáveis. Segundo a Professora Dr. Claudia Petry, da Universidade de Passo Fundo, que esteve participando da atividade: “somos o que comemos”. A relação entre a saúde e a alimentação é intrínseca e determinante para nossas vidas. 
Para Maristela, uma das agricultoras feirantes, o que garante a produção e a vitalidade da feira é a relação que se estabeleceu entre os produtores e os consumidores. Segundo ela, existe “um cuidado mútuo na medida em que se produz pensando no consumidor e se consome pensando no produtor”. Quem ganha com os alimentos orgânicos não é somente o ser humano, mas toda a natureza, que vê seus ciclos respeitados. Um dos problemas que os agricultores ecológicos citam é com relação às políticas públicas para a agroecologia, pois existe um abismo entre o potencial financeiro investido no agronegócio e o investimento na agroecologia.
Economia Solidária e Alimentação Nutritiva 
A Cáritas Arquidiocesana enriqueceu a Jornada com a presença de grupos de economia solidária. “Eco”, do grego oikos, significa “casa” e “nomia” do grego nomos, significa norma. O termo “economia” carrega em seu significado a organização da casa comum. A economia solidária é uma alternativa frente ao modelo neoliberal de acúmulo e concentração de riquezas. É organizada em redes e grupos que produzem e comercializam numa lógica de partilha, responsabilidade ambiental e social. 
Pensar uma ecologia integral é agregar toda a caminhada já construída pelos grupos da economia solidária. Diretamente ligada a agroecologia, a esta forma de economia é vivida por grupos do campo e da cidade. A Cáritas dispõe de informações e pode ajudar a população a ter acesso com mais intensidade aos produtos e aos grupos solidários.
Além disso, a banca, também proporcionou diálogos sobre alimentação nutritiva e cuidados alternativos com a saúde. A Pastoral da Saúde esteve presente com indicações de chás e remédios caseiros, de modo especial na linha preventiva. Para os agentes da Pastoral da Sáude, tão importante quanto à cura de doenças é sua prevenção. Por isso, a importância da medicina alternativa e da alimentação nutritiva e saudável. 

SEMENTES CRIOULAS 
O cuidado com a Terra e a produção de alimentos saudáveis passa também pelo resgate e preservação das sementes crioulas. 
A Equipe da Comissão Pastoral da Terra do Rio Grande do Sul – CPT, esteve presente na Jornada acompanhada de agricultores e agricultoras de Santa Cruz do Sul integrantes do Banco de Sementes Crioulas daquela Diocese, e que apresentaram a experiência aos participantes da Jornada. Coordenador do Banco, o técnico em agropecuária Maurício Queiroz, 37 anos, que também integra a equipe de coordenação da CPT – RS, respondeu algumas perguntas para a página da Ação Social da Igreja.
-Maurício, qual é a importância de se falar em sementes crioulas atualmente?
Eu acho fundamental, por que com a repercussão das sementes crioulas temos a possibilidade de produzirmos alimentos diversificados e ecológicos. Através delas podemos chamar atenção para a importância da agricultura de base ecológica que é desenvolvida em harmonia com a natureza. Ao preservar as sementes crioulas e produzir seguindo os princípios da agroecologia, estamos produzindo alimentos sem destruir a casa comum, na qual nossa espécie é apenas um morador. Existe uma grande biodiversidade a ser preservada e, dentro dela, a agrobiodiversidade das sementes crioulas. 
-O que são sementes crioulas?
Sementes crioulas, também conhecidas por sementes comuns, tradicionais ou caseiras, são as sementes tradicionalmente produzidas pelos agricultores e agricultoras. Com elas evoluíram nestes milhares de anos de existência da agricultura, razão pela qual são chamadas de Patrimônio dos Povos. Eles são a base da produção dos nossos alimentos. Não da para falar de sementes crioulas sem falar de agricultor, agricultora, campesino, povos indígenas. Há uma simbiose entre eles e as sementes. Junto com as sementes crioulas também estão mudas de plantas, raças de animais crioulos. Todos eles precisam ser preservados. 
-Em que elas se diferenciam das sementes híbridas e transgênicas?
A principal diferença diz respeito ao controle. As crioulas estão nas mãos dos agricultores que com ele evoluíram naturalmente sem qualquer modificação genética e laboratório, garantindo-lhes autonomia e segurança alimentar. Já as híbridas têm como donos as grandes multinacionais. São desenvolvidas em laboratório e casadas ao pacote de agroquímicos. É bom lembrar que para produzir híbridos são necessárias sementes crioulas, que são a base. 
¬-É possível coadunar sementes crioulas com agronegócio? Ou as duas são excludentes entre si?
Não combinam; são modelos completamente antagônicos. As sementes crioulas combinam com agroecologia, com diversidade, economia local, produção de alimentos, com partilha da terra, com alimentação saudável. Aliás, comida de verdade só é possível com sementes de verdade, que são as crioulas. 
O que é um banco de sementes crioulas?
É uma estratégia encontrada por comunidades de agricultores e agricultoras para manter sementes crioulas na produção de seus alimentos. As propriedades dos agricultores sempre foram “bancos de sementes crioulas” e isso precisa voltar a acontecer. Dai se estimula que as famílias organizem num espaço comum para manter as sementes. Isto é um Banco de Sementes Crioulas.

MANIFESTO CONTRA OS ALIMENTOS TRANSGÊNICOS E A FAVOR DA SEGURANÇA ALIMENTAR

O recente relatório a respeito dos transgênicos efusivamente propagandeado em horário nobre pela grande mídia teve como óbvio interesse de tranquilizar os consumidores. Com o objetivo de dar uma versão pretensamente científica, por todos os cantos do planeta ouviu-se a afirmação de que “alimentos transgênicos não fazem mal à saúde”. Porém nós, entidades, agricultores e consumidores, que defendem a alimentação saudável, queremos dizer à sociedade que não concordamos com essa afirmação, pois sabemos que existem vários estudos que, DE FORMA CIENTÍFICA, apontam para os riscos da ingestão dos alimentos transgênicos à saúde.
O tal relatório não fez nenhuma pesquisa, mas uma junção de dados e concluiu tendenciosamente que não haviam provas de que os transgênicos fazem mal. Porém, escondeu-se o fato de que não provar o malefício não significa provar que é seguro. Continuamos a entender que o princípio da precaução deve reger toda a nova tecnologia criada pelo homem, especialmente no que diz respeito a alimentação humana e que as pesquisas desse caráter normalmente são superficiais.
Será que os autores do relatório analisaram os estudos que indicam os efeitos nocivos dos transgênicos a saúde? Ou, como já ocorreu outras vezes, esses estudos foram ignorados? No livro “Lavouras Transgênicas: riscos e incertezas” estão descritos mais de 750 estudos que são sumariamente desprezados pelos órgãos reguladores. A consistente pesquisa francesa de Seralini de 2014 observou relação entre o consumo de transgênicos e o aparecimento de TUMORES MALÍGNOS em cobaias. Por que isso não está sendo divulgado?
A divulgação bombástica do relatório, nesse momento, não tem relação com novas descobertas, mas, possivelmente com os acontecimentos que arranharam a imagem dos transgênicos nos últimos tempos: a mudança de posição de pesquisadores, como o canadense Thierry Vrain que, de fervoroso cientista a favor tornou-se um combatente dos transgênicos indo a público expor as mentiras da propaganda da indústria de biotecnologia; o manifesto dos 815 cientistas de 82 países pedindo a suspensão dos transgênicos em todo o mundo; o despertar de consciência da sociedade de vários países exigindo rótulos nos alimentos transgênicos; a guerra comercial contra a postura da Europa de querer comer alimentos seguros e não importar transgênicos; entre outros.
Por tudo isso, as Articulações de Agroecologia do Vale do Taquari e do Vale do Rio Pardo e os participantes do 16º Encontro Diocesano de Sementes Crioulas vêm a público manifestar que não aceitamos o relatório e a propaganda pró-transgênico e propomos que a sociedade tampouco aceite. Repudiamos a forma com que a CTNBio guiada por interesses econômicos, avalia e libera essas sementes. Ao invés disso, queremos mais pesquisa séria e menos liberação comercial dessa tecnologia pois ninguém quer ser cobaia dos alimentos da engenharia genética.

Arvorezinha, 27 de julho de 2016.