sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Oração da 39ª Romaria da Terra

Oração pela nossa terra  
(Papa Francisco, Laudato Si')

Deus Onipotente,
que estais presente em todo o universo 
e na mais pequenina das vossas criaturas,
Vós que envolveis com a vossa ternura
tudo o que existe,
derramai em nós a força do vosso amor
para cuidarmos da vida e da beleza.
Inundai-nos de paz,
para que vivamos como irmãos e irmãs
sem prejudicar ninguém.
Ó Deus dos pobres,
ajudai-nos a resgatar
os abandonados e esquecidos desta terra
que valem tanto aos vossos olhos.
Curai a nossa vida,
para que protejamos o mundo
e não o depredemos,
para que semeemos beleza
e não poluição nem destruição.
Tocai os corações
daqueles que buscam apenas benefícios
à custa dos pobres e da terra.
Ensinai-nos a descobrir o valor de cada coisa,
a contemplar com encanto,
a reconhecer que estamos profundamente unidos
com todas as criaturas
no nosso caminho para a vossa luz infinita.
Obrigado porque estais conosco todos os dias.
Sustentai-nos, por favor, na nossa luta
pela justiça, o amor e a paz.

Amém. Axé. Awere. Aleluia.

39ª Romaria da Terra: um Convite a Cuidar da Terra, Casa Comum

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A Diocese de Bagé, que já acolheu cinco Romarias da Terra, com a graça de Deus e muita alegria, está com o coração aberto para acolher a 39ª Romaria da Terra do Rio Grande do Sul. À semelhança das outras Romarias, esta será um espaço muito rico para a reflexão, a oração e o fortalecimento da opção preferencial pelos pobres. 
Nela, à luz do magistério do Papa Francisco, milhares de romeiros e romeiras vão “olhar o passado com gratidão, viver o presente com paixão e abraçar com esperança o futuro”. Ao olhar o passado contemplarão a missão dos padres Jesuítas que marcou indelevelmente o território do Rio Grande do Sul. Com fé, esperança e caridade pastoral estes missionários colocaram-se a serviço dos  indígenas, ajudando-os a edificar, o que  alguns historiadores chamam de “República Guaranítica”. E quando essa “República” foi atacada por portugueses e espanhóis, manifestou-se o heroísmo legendário de Sepé Tiarajú e seus mais de 1500 companheiros que tombaram, defendendo a sua gente e a sua terra, convictos de que a terra era um presente de Deus e do Arcanjo São Miguel,  os únicos que tinham o direito de os “deserdar”. 
Com a presença de milhares de romeiros e romeiras teremos a oportunidade de viver com paixão experiências bem sucedidas e também as dificuldades que a Igreja e a sociedade vivem nesta mudança de época em que o Magistério do Papa Francisco chama os seus fiéis e toda a comunidade humana para cuidar da terra, casa comum. 
Com certeza, a presença do Bispo de Roraima e Presidente do CIMI (Conselho Indigenista Missionário), Dom Roque Paloschi, enriquecerá a Nossa Romaria, ajudando-nos a abraçar com esperança a causa dos indígenas e de todos os pobres nos quais Cristo (Mt 25,36) aguarda a solidariedade dos cristãos. 
Dom Roque participou plenamente de todas as romarias da terra, enquanto trabalhava como padre na Diocese de Bagé. Depois, fez uma frutuosa experiência como missionário na África (Moçambique). E, ao ser nomeado bispo de Roraima, passou a acompanhar de perto as comunidades indígenas e de sua diocese e do norte do País, de tal forma que foi eleito em setembro de 2015, Presidente do Conselho Indigenista Missionário – CIMI.  
As Romarias da Terra perfazem plenamente as cinco urgências da ação evangelizadora da Igreja no Brasil, especialmente aquela urgência que torna a Igreja “samaritana”, a  Igreja a serviço da vida plena para todos. O Papa Francisco, com palavras e gestos, mostra-nos a necessidade urgente de a Igreja fazer a sua parte no “cuidado da casa comum”, convertendo-se para uma ecologia global e promovendo “mudanças profundas nos estilos de vida, nos modelos de produção e de consumo, nas estruturas consolidadas de poder”.

Sejam bem-vindos e bem-vindas, Romeiros e Romeiras à bela e hospitaleira cidade de São Gabriel. 

Toda a comunidade gabrielense com suas autoridades, Civis e Eclesiásticas, está se preparando com grande entusiasmo  para acolher com o melhor do seu coração os Romeiros e Romeiras desta 39ª Romaria da Terra. “Maria, a mãe que cuidou de Jesus, agora cuida com carinho e preocupação materna deste mundo ferido... Ela não só conserva no seu coração toda a vida de Jesus, que guardava cuidadosamente, mas agora compreende também o sentido de todas as coisas. Por isso podemos pedir-Lhe que nos ajude a contemplar este mundo com um olhar sapiente” (LS 241) e interceda a Deus pela 39ª Romaria da  Terra. 

Dom Gilio Felicio – Bispo Diocesano de Bagé.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

3º Encontro de Povos Tradicionais do RS


Carta dos Povos Tradicionais do RS
Somos 87, mas representamos milhares, reunidos hoje no 3º Encontro de Povos Tradicionais do RS em Rio Pardo, tendo como palco o Rincão dos Negros, Quilombo histórico de tantas lutas e resistências. Quilombolas do Rincão dos Negros, Quilombo da Cruz Alta, Quilombo dos Alpes, Povo Indígena Guarani e Kaingang vindos de várias regiões do estado e representando as lutas dos Povos Tradicionais do Estado e também do Brasil estiveram reunidos refletindo suas lutas, com apoio da Comissão Pastoral da Terra-CPT, da Ação Social Diocesana de Santa Cruz do Sul-ASDISC, do Conselho Indigenista Missionário-CIMI e da Cáritas RS.
Nossas conquistas não são muitas, mas foram suadas e significativas e temos a consciência de que precisamos preservá-las e aprimorá-las, a começar pela democracia e a constituição de 1988 onde consta leis significativas de defesa dos direitos do povo. O Selo Quilombola, Federação Quilombola, Articulação dos Povos Tradicionais, Conselho de Articulação dos Guaranis e Kaingangs, o reconhecimento de alguns territórios quilombolas e alguns projetos pontuais nos dão coragem e ânimo.
Já as dificuldades e desafios são muitos, porém, não nos assusta, temos energia e força para enfrenta-los, mas para isso precisamos nos unir cada vez mais. Em particular algumas dificuldades nos ameaçam: O Projeto de Lei RS nº31 que quer derrubar direitos de reconhecimento de território dos povos de nosso estado, a PEC 215 que transfere a competência da demarcação de terras indígenas da União para o Congresso, outra dificuldade sentida é a morosidade no processo de demarcação de áreas, o descaso com os povos indígenas, a permanente discriminação que sofrem cotidianamente indígenas e quilombolas, além disso a permanente e diária criminalização dos Movimentos Sociais por parte da grande mídia brasileira. Reunidos lembramos das dificuldades de ter acesso aos direitos fundamentais previstos na Constituição de 1988 como: saúde, moradia, educação, terra, lembramos também das situações de emergência sofrido por nosso povo nos temporais dos últimos meses, como foi o caso dos Quilombolas da Comunidade de Cruz Alta município de Rio Pardo que tiveram muitas casas com telhados destruídos, mas também não poderíamos deixar de lembrar das quatro crianças Kaingangs da Aldeia Bom Retiro, que foram mortas em acidente esperando ônibus para ir para escola.
Dar as mãos, caminhar juntos e nos unirmos ainda mais, Indígenas e quilombolas, é a única forma de enfrentarmos as dificuldades para avançarmos na luta ainda mais. Mas precisamos agregar pequenos agricultores, catadores, pescadores e todo o povo que está do nosso lado para a luta ficar mais forte. Queremos reafirmar a importância dos encontros já marcando para dia 09 de abril de 2016 um encontro estadual com local a definir, e reafirmar a importante agenda de lutas que se inicia com a 39ªRomaria da Terra no dia 9 de fevereiro em São Gabriel e o Acampamento do Povo Indígena.
Através desta carta manifestamos nossa profunda indignação e repúdio aos projetos de lei que tiram direitos dos Povos Tradicionais, como os projetos de Lei PL 31 e a PEC 215.
Participantes do 3ºEncontro de Comunidades Tradicionais,
Quilombo Rincão dos Negros de Rio Pardo-RS, 24 de outubro de 2015.

Imagens: arquivos CPT-RS