sábado, 25 de julho de 2015

É tempo de Acordar, levantar e caminhar!!!

“Erga a cabeça colono, vá em frente por que força não te falta”

O que podemos dizer agora mais do que nunca é, erga a cabeça colona e colono, se organizem e vão à luta, por que força não lhes falta. Certamente a maioria dos camponeses e camponesas estão como juntas de bois mansos pois não sabem a força que têm. O objetivo da conversa é provar que quando cruzamos os braços e não fazemos nada as coisas cada vez mais vão piorando.
É fácil “bater no governo” dizer que está mal, que o produto não tem preço, e assim tantas outras reclamações e com razão. Mas a pergunta é? O que estamos fazendo para mudar isso? Estamos em nossas casas como bois mansos e aceitando a “canga que nos põe no pescoço”? Ou estamos reagindo?
Quando falamos em luta nos referimos à luta não apenas a luta individual, mas a luta em defesa da causa comum, o direito de todas e todos os camponeses deste país. Não podemos pensar apenas na minha ou no meu. Há uma luta muito maior que é por sobrevivência, onde todos se salvam ou todos morrem. Esta realidade nos exige sair da mansidão e do comodismo e enfrentar os problemas. Fazer como diz um Frei Franciscano amigo e apoiador da causa, “os problemas só se resolvem se a gente enfrenta de frente e não corta voltas ou foge deles”.
Jamais posso me contentar e ficar tranqüilo quando eu e minha família temos tudo o que precisamos. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra dão um exemplo de solidariedade na luta do dia a dia, as famílias assentadas não param de lutar, pelo contrário se motivam mais, pois enquanto há famílias que não tem terra eles e elas caminham juntos para que estas famílias também tenham aquilo que nós já conquistamos.
Perdemos quase tudo: a nossa terra está cada vez menor, nossas sementes as multinacionais levaram, nossa saúde está se indo com os venenos e transgênicos, nosso conhecimento está cada vez menor, nossas águas o “deserto verde” dos eucaliptos está sugando, nossa dignidade também está indo...Opa!É tempo de acordar, abrir os olhos e recuperar o tempo perdido. Já dormimos na palha demais! 
Acordar, levantar e caminhar!
É com alegria que mais uma vez a Comissão Pastoral da Terra convoca camponesas e componeses de todo o Brasil a sair de casa, reagirem a violência e a opressão impostos pelo modelo de morte do “capetalismo”.
Por fim, é preciso termos clareza de que os motivos que nos unem devem ser e são infinitamente maior do que as “picuinhas” ou fofoquinhas que nos separam. Quando encaramos deste jeito fica mais fácil lutar e viver neste mundo.
Façamos do mês de julho o tempo de “ACORDAR, LEVANTAR E CAMINHAR”!!!

Comissão Pastoral da Terra do Rio Grande do Sul 
CPT-RS

Proposta de celebração para o Dia da Agricultora e do Agricultor

*Ambiente: Organizar um ambiente com símbolos que identifique a vida dos pequenos agricultores e agricultoras (ferramentas, frutos da terra, sementes, chapéu...).Podemos motivar as pessoas a trazerem de suas propriedades, sementes para troca e pão para a partilha.
Formar um círculo, onde todos e todas possam se enxergar de frente.

*Acolhida: Hoje é um dia muito especial, pois estamos reunidos para celebrar o dia do agricultor e da agricultora.Dia de lembrar de nossos antepassados, de louvar a vida dos pequenos que semeiam a terra e de denunciar as injustiças contra os camponeses (índios, imigrantes, quilombolas, sem-terras).
O alimento que chega a mesa de mais de 70% dos brasileiros e brasileiras, é fruto do suor e das mãos calejadas de camponeses e camponesas de todo Brasil.
Acolhemos com alegria, agricultores, agricultoras, crianças e jovens da roça de nossa comunidade.

*Canto: Bem vindo irmão, bem vinda irmã, você completa nossa alegria, sinta-se bem, seja feliz em nossa companhia...

*Motivar as pessoas a fazerem o sinal da cruz: Preparar um pouco de barro, onde de dois a dois farão o sinal da cruz um na testa do outro.

*Momento de perdão: Em forma de denúncia (motivar também denúncias espontâneas, de fatos tristes na vida camponesa de nossa comunidade, denúncias de injustiças.).
-Denunciamos todas as injustiças e o descaso das autoridades contra mulheres e homens da roça.
-Denunciamos os venenos e sementes transgênicas que são produzidas por grandes empresas multinacionais que contaminam o meio ambiente, destruindo a vida.
-Denunciamos a falta de políticas agrícolas adequadas a valorizar a produção de alimentos.
-Denunciamos o “deserto verde” (monoculturas de eucaliptos, pinos), que além de poluir, esgotam as nossas águas, expulsam famílias da terra e concentram grandes áreas que poderiam ser utilizadas pelos pequenos para produzir comida.
-Denunciamos o sistema de morte que individa os camponeses e depois reprênde-os com a polícia (exemplo de um agricultor que foi algemado a própria carroça pela polícia a mando da fumageira enquanto seu fumo foi saqueado).
-Denunciamos pelas vezes que não damos oportunidades de vida melhor aos jovens da roça.
-Denunciamos a nossa própria falta de união que atrapalha a luta.
-Refrão – Cristo tende piedade de nós (repetido após cada denúncia).

*Momento de glória: Em forma de anúncio das vitórias e coisas boas (espontâneas e locais...)
-Anunciamos que mais de 70% dos alimentos produzidos no Brasil é fruto do trabalho de camponeses de todo o Brasil.
-Anunciamos que a força, coragem e união dos agricultores e agricultoras é capaz de melhorar suas vidas na roça.
-Anunciamos que a agroecologia é solução para melhorar a situação da agricultura brasileira.
-Anunciamos que o cultivo de sementes crioulas é garantia de soberania para as famílias camponesas.
-Anunciamos a organização dos camponeses e camponesas em Movimentos Sociais.
-Anunciamos a boa colheita que realizamos neste ano.
           
*Canto de louvor: Nossa alegria é saber que um dia, todo este povo se libertará, ....

*Oração: Deus pai e mãe, criador da vida, dai-nos força e coragem pára continuarmos produzindo firmes e com saúde a mãe terra.Missão delegada a nós por Deus.

*Leitura bíblica: (Ex 1, 8-14) “A opressão paralisa o povo”.
Esta leitura do êxodo narra a passagem do povo de Deus pela opressão do Faraó.Se voltarmos para a nossa realidade, nosso povo (especialmente agricultores ), passa por uma profunda opressão.Mas o povo resiste assim como os camponeses lutam para resistirem as injustiças impostas pelos Faraós de hoje (...).

*Canto: Entrada da bíblia em procissão – “A palavra de Deus vem chegando vem, ....”.

*Evangelho: (Mt 7, 15-20) “Cuidado com as falsas promessas”.
O Evangelho de Mateus vem fazer uma alerta ao povo “Cuidado com as falsas promessas”.Cuidado do Lobo que vem vestido de cordeiro.Se olharmos atualmente podemos tentar identificar o falso profeta, que está vestido de cordeiro sobre tudo na atual conjuntura há muitos lobos que enganam os agricultores e agricultoras.

*Partilha da palavra: privilegiar um momento bom para debate e trocas de idéias e a luz da Palavra de Deus apontar os problemas e alternativas que podemos construir.

*Oferendas: Procissão dos pães para a partilha.Bênção e partilha do pão trazido pelos participantes.

*Compromisso assumido: Motivar a comunidade a assumir compromissos comuns;
Neste dia gostaríamos de assumir alguns compromissos que possam melhorar a nossa vida como agricultores e agricultoras.
Nos comprometemos a denunciar toda e qualquer injustiça contra famílias de agricultores e agricultoras de nossa comunidade.
Desenvolver uma experiência concreta de sementes crioulas e agroecologia em nossa comunidade.
Cuidar de nossas águas (colocar a proposta das cisternas como alternativa ).
           
*Bênção: O Senhor Deus pai nos abençoe e proteja, esteja em nossa frente para guiar, ao nosso lado para proteger, atrás para resguardar e acima para nos abençoar.Deus pai e mãe abençoes nossas famílias de agricultores e agricultoras e dê força para que continuem caminhando.Ele que é pai, filho e Espírito Santo.Amém.

*Canto: Somos gente nova, vivendo o amor, somos povo semente da nova nação, ê ê...

Comissão Pastoral da Terra do Rio Grande do Sul 
CPT-RS

Agricultores e agricultoras - Milênios de existência

Neste mês queremos dedicar uma página especial aqueles e aquelas que praticam uma das atividades mais antigas do planeta. A arte de cultivar a terra e produzir alimentos. A arte de fazer agricultura é desenvolvida a mais de 12.000 anos e tem como protagonistas desta história, o agricultor e a agricultora. 
Embora tão antiga, a agricultura continua importante e atual quanto o instante em que foi descoberta, do mesmo modo como os agricultores e agricultoras continuam desempenhando este ofício com responsabilidade e sabedoria.
Para termos uma noção da importância dos pequenos agricultores em nosso país, acompanhamos o quadro com dados da produção (alguns itens), segundo fontes do Censo Agropecuário do IBGE – 1995/6 Org.Oliveira, A.U.

Brasil – Distribuição do volume de produção.
  Produtos
Pequena propriedade
Média propriedade
Grande propriedade
Milho em grão
Feijão(1ª,2ª e 3ª safras)
Soja em grão
Trigo em grão
Leite
Uva para vinho
Suínos
Banana
Fumo em folha
54,4%
78,5

34,4
60,6
71,5
97,0
87,3
85,4 %
99,5
34,8%
16,9

43,7
35,2
26,6
3,0
11
13,6%
0,5
10,8%
4,6

21,9
4,2
1,9
zero
1,7
1,0%
zero
Este quadro prova que a maior percentagem dos alimentos que chegam até a mesa dos brasileiros, são produzidos nas pequenas e médias propriedades brasileiras.

Basta olhares para a realidade dos pequenos agricultores de sua cidade e verás a situação que estão submetidos e logo perceberás que eles estão sendo severamente excluídos encontrando-se em situação muito difícil, fruto de uma agricultura de morte que envenena a natureza e o próprio agricultor, submetidos ao controle de algumas grandes empresas multinacionais que detém o controle e ficam com o lucro.

Apesar de toda esta situação os camponeses se organizam e buscam saídas.

A força dos camponeses está na produção de alimentos. É próprio dos camponeses e camponesas saberem fazer de tudo, entender de carpintaria, ser pedreiro, fazer cabos para ferramentas, domar animais, inventar ferramentas, fazer a farinha e o pão, o queijo, produzir as próprias sementes, conhecer a natureza, enfim,  produzir uma vasta lista de alimentos na propriedade transformando-a em um celeiro de produção de alimentos, legado herdado dos antepassados e que normalmente deve ser transmitido a seus filhos e filhas.
Esta característica mantém os camponeses fortes. Dificilmente pegamos os agricultores de surpresa, sem comida em casa, se isto acontecer é por que algo está errado.
A força dos pequenos agricultores e agricultoras está na sabedoria de produzir os próprios alimentos, nas técnicas próprias de produzir sementes também próprias, na criatividade e na própria capacidade de tocar em frente a propriedade de forma independente. Mas principalmente a força camponesa está na união. Sozinhos somos fracos, mas unidos somos fortes.

Oldi fala sobre o dia do agricultor e da agricultora

Para Oldi o significado do Dia do Agricultor e Agricultora – “Tem sentido para resgatar a história dos pequenos agricultores e agriculturas, sua importância e valor para o mundo. Chamo atenção para que eles se dêem conta de que são muito importantes, especialmente por que o que produzem é de suma importância para todos e todas neste país e planeta. É de interesse de todo o mundo, a final sem alimento ninguém vive”.
“Não é um dia apenas de festa e de comemorações, mas também de celebrar a vida, as conquistas e arregaçar as mangas e ir para a luta, sobre tudo quando a conjuntura aperta como está hoje”.

A situação dos pequenos agricultores e agricultoras – “A conjuntura não favorece os pequenos em geral, especialmente agricultores, e isto não é nenhuma novidade. Pode perguntar para qualquer agricultor e ele saberá dizer onde está errado, onde está o problema. Desde muito tempo a conjuntura favorece apenas os grandes. É um absurdo que uma família de agricultores trabalhe tanto, não consegue vender a produção e muito menos decide o preço do quilo de feijão, do leite, da arroba de fumo,..etc. Não bastasse isso ainda querem mexer na Previdência dos agricultores, ou seja, estão achando que os agricultores se aposentam muito novos e o custo para os cofres públicos é muito alto e por isso querem, que a mulher da roça se aposente com 60 anos e o homem com 65 anos. Atualmente a mulher agricultora se aposenta aos 55 e o homem aos 60, não queremos que mexam nisso. Mas para que não mexam temos que botar os pés na estrada, ir para Brasília, nos mobilizar ou do contrário eles mexerão.”

Tem saída esta situação?
“Depende de nossa força, se nos unirmos e enfrentarmos encontraremos saídas. Agora se esperarmos de braços cruzados ou ficarmos chorando em volta do fogão, reclamando que ta ruim, e não sairmos de casa para se mobilizar, aí realmente estaremos em um beco sem saídas. Eu acredito que os movimentos sociais organizados irão fazer a mudança, mas para isso é preciso reunir cada vez mais agricultores e agricultoras para que a luta seja mais forte e as conquistas venham logo. Não espere pelos Sindicatos de Trabalhadores Rurais eles estão bem acomodados, não farão mais nada do que manter as estruturas e não nos representam mais, infelizmente.”

Para finalizar – “Agricultores e agricultoras acreditem nas próprias forças, e se juntem aos movimentos sociais populares. Garanta a produção primeiro para o auto-consumo de tua família, produza a própria semente, participe de feiras livres e opte pela produção agroecológica e diversificada. Invista na juventude, nos próprios filhos.”

Comissão Pastoral da Terra do Rio Grande do Sul 
CPT-RS