segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Feliz Natal!

CPT deseja a todos e todas um Feliz Natal e um excelente 2015, com luta e esperança junto aos povos do campo, das florestas e das águas!

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

38ª Romaria da Terra terá Mostra de Ações Sociais Solidárias

Já são menos de dois meses para a 38ª Romaria da Terra, em David Canabarro. Uma das novidades desta edição da romaria é a realização da Mostra de Ações Sociais Solidárias, que será promovida pela Cáritas Arquidiocesana, Emater, paróquia Sagrada Família e Prefeitura Municipal de David Canabarro.
A partir do sucesso da mostra realizada na Romaria de Nossa Senhora Aparecida, em outubro, a equipe de coordenação da Romaria da Terra percebeu a importância da iniciativa, que possibilita divulgar e fortalecer a ação social desenvolvida na arquidiocese.
Nesta edição participarão cerca de 50 grupos de todo o Rio Grande do Sul, especialmente empreendimentos da Economia Popular Solidária e agroindústrias da região, disponibilizando uma grande variedade de produtos como artesanatos, panificação, lanches, sucos, hortigranjeiros e orgânicos. Além destes, também estarão outras entidades e movimentos sociais ligados a questão da terra.
Simone Zanetti, membro da coordenação colegiada da Cáritas Arquidiocesana, reforça: “É uma parceria muito importante e significativa entre a Cáritas, Emater, prefeitura e paróquia, em prol do fortalecimento da Economia Solidária e das agroindústrias da região. A mostra será um espaço de exposição, comercialização e integração entre os diferentes grupos participantes, valorizando as questões sociais e permitindo que os romeiros e romeiras conheçam as ações da Igreja na arquidiocese”.
Para os grupos de Economia Solidária, agroindústrias ou movimentos sociais que se interessarem em participar da mostra, podem entrar em contato com a Cáritas Arquidiocesana, pelo telefone (54) 30451262, ou com a Emater de David Canabarro, no número (54) 3351 1177, até o dia 15 de janeiro.

Victória Holzbach
Assessoria de Comunicação da Arquidiocese de Passo Fundo

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Programa e Localização da 38ª Romaria da Terra e 10º Acampamento da Juventude

Clique na imagem para ampliar.
O Acampamento da Juventude inicia no dia 15 e culmina com a Romaria no dia 17 de fevereiro.

Clique AQUI para ler a Oração da 38ª Romaria da Terra
Clique AQUI para acessar o site da Arquidiocese de Passo Fundo: 
Clique AQUI para acessar a página da 38ª Romaria da Terra

Vem aí o 10º Acampamento da Juventude na 38ª Romaria da Terra!

por Equipe de Formação do 10º Acampamento

“Jovem alegre-se na sua juventude e seja feliz nos dias da mocidade. Siga os impulsos do seu coração e os desejos dos seus olhos” (Ecl 11,9).

David Canabarro, acolhendo a 38ª Romaria da Terra, também espera receber toda a juventude animada no Cristo Ressuscitado, caminhando em busca de Sustentabilidade Social, Políticas Públicas e Sucessão Rural Familiar.
O 10º Acampamento da Juventude acontecerá nos dias 15 e 16 de fevereiro de 2015. Já tradicional nas Romarias da Terra, o acampamento está ganhando novo vigor, nova dinâmica e novo jeito de fazer acontecer a participação e a organização da juventude. Trata-se da realização de momentos de estudo, celebração e partilha que precedem o dia do acampamento, realizados em três etapas, que servem como processo de preparação das lideranças para o acampamento.  Nessas etapas são discutidas várias temáticas interligadas aos temas da juventude. Esse processo tem por objetivo: 
  • Realizar um processo de animação e interação sobre a história das Romarias da Terra e dos Acampamentos da Juventude, apropriando-se do tema e da conjuntura desta 38ª Romaria.
  • Promover o conhecimento das ações realizadas pelas organizações ligadas à Romaria da Terra, possibilitando um maior debate acerca do Tema da 38ª Romaria e desafiando a juventude ao engajamento nas lutas e ações voltadas a esse fim.
  • Possibilitar a troca de saberes, reconhecendo a conjuntura atual que compõe a realidade do jovem rural no Rio Grande do Sul, através da realização de intercâmbio entre os participantes e as famílias do município de David Canabarro.

A cada etapa, mais e mais jovens vão se somando ao grupo! Todos são convidados a se inserir nos espaços que o Acampamento e a Romaria da Terra oportunizam, possibilitando o protagonismo da juventude e a efetiva vivência da partilha e da comunhão. As etapas citadas, que compõe o “Processo de Formação de Lideranças”, são de formação e mobilização, mas especialmente de vivência da mística de comprometimento e militância que decorre da fé cristã que impulsiona romeiras e romeiros da terra!

O Acampamento da Juventude
Nós, jovens, lideranças católicas, sociais, comunitárias e populares, estamos nos organizando para viver um grande Acampamento da Juventude, que trabalhará o tema Sucessão Rural Familiar, Políticas Públicas e Sustentabilidade Social, inspirados na leitura bíblica de Gênesis: "Eu darei esta terra à sua descendência" (12,7).
Nosso acampamento terá espaço para discutir e refletir o tema da Romaria da Terra, com oficinas práticas de diversas áreas, para ser um momento de fé, celebração e mística, de fortalecimento das manifestações e dos espaços culturais e também de muita troca de conhecimento e energia positiva, para levar adiante a boa notícia anunciada por Jesus Cristo.
Estão participando da organização do acampamento e do curso de preparação as seguintes organizações e entidades: Cooperativa de Crédito Horizontes Novos/Região Nordeste (CREHNOR), Pastoral da Juventude Rural (PJR), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Pastoral da Juventude (PJ), Levante Popular da Juventude, Via Campesina, Paróquia Sagrada Família de David Canabarro e Muliterno, Sindicato dos Trabalhadores Rurais de David Canabarro e da região, Federação dos Trabalhadores na Agricultura (FETAG), Cáritas Arquidiocesana de Passo Fundo, organizações de jovens de paróquias vizinhas, Centro de Tecnologias Alternativas e Populares (CETAP), Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (FETRAF), Setor Juventude da Arquidiocese de Passo Fundo e outros movimentos de jovens afins.
Venha você também fazer parte deste 10º Acampamento da juventude e deixar a sua contribuição. Estamos te aguardando de braços abertos!

10º Acampamento da Juventude e Processo de formação de Lideranças

O que e quando?
* Acampamento: de 15 a 17/02/2015
* Curso de preparação:
I Etapa: 23/08/2014
II Etapa: 29 de novembro de 2014
III Etapa: 10 e 11 de janeiro de 2015

Onde?
O Acampamento e todas as etapas do Curso de Preparação acontecerão em David Canabarro – RS.

Quem pode participar?
Todas as mulheres e homens, de qualquer idade, que carregam a fé, a força e o amor que move a juventude!

Como participar?
* Basta desejar, pôr-se a caminho e somar-se a outras pessoas de sua comunidade, bairro, paróquia ou organização que também desejam participar.
* É importante, antes da data, realizar contato com a coordenação do acampamento para informar a participação e receber orientações de como chegar ao local.
* O deslocamento até o local das atividades deve ser providenciado pelos participantes. No local não haverá despesas com estadia e alimentação.
* A pessoa ou grupo pode participar de todas as etapas do curso e do acampamento, ou optar por qual/quais deseja participar. A participação é livre!

O que levar?
* Nas etapas do curso: Objetos de uso e higiene pessoal e material de anotação.
* No acampamento: Barraca, colchonete, lençóis, cobertas e toalha, materiais de higiene, copo, prato e talheres - é importante que não façamos uso de materiais descartáveis e que cada um se responsabilize pelo cuidado e higiene de seus pertences, acessórios para proteger-se de sol ou de chuva.

Lembre-se:
A construção do acampamento e do curso é coletiva!
Esse é um espaço de partilha, crescimento, aprendizado, celebração, fortalecimento na fé e na militância. Traga objetos, elementos, símbolos, instrumentos, lembranças, fotografias, músicas que contribuam para fazer essa atividade ainda mais única e especial!

Questões para debate:
1) Como deve ser um acampamento de jovens cristãos comprometidos com a vida e a construção de uma sociedade justa e fraterna?
2) Sendo o jovem a realidade presente e não apenas futura, quais devem ser suas principais bandeiras de luta?

Clique AQUI para ler a Oração da 38ª Romaria da Terra
Clique AQUI para ver a localização 10º Acampamento da Juventude na 38ª Romaria da Terra

"Eu darei esta terra à sua descendência"

por Pe. Nelson Tonello
A Bíblia registra a história do Povo de Deus. Trata-se de uma história feita de sonhos, fé e muito trabalho.

1. Os nossos pais na fé
Entre os personagens mais importantes da Bíblia, está o casal Abraão e Sara, considerados os pais do Povo de Deus. Em todos os tempos este casal foi visto e lembrado de geração em geração, como modelos de fé e de luta. São também nossos pais na fé e deles sempre nos orgulhamos.
Abraão e Sara viviam na Babilônia, uma região muito fértil, considerada pelos historiadores como o berço da civilização. Era, porém, dominada por poucas pessoas. De um lado, havia fartura para os latifundiários, de outro, miséria para os pequenos agricultores. Diante das muitas injustiças e do sofrimento resultante da pobreza, Abraão e Sara decidiram migrar em busca de um espaço onde pudessem viver com dignidade e usufruir de liberdade. O sonho maior era encontrar terra produtiva para se estabelecer com a família.
De fato, depois de muito peregrinar, encontraram um lugar que lhes prometia uma vida digna: matas, campos e águas abundantes. Sobretudo, encontraram a liberdade que buscavam. Era tudo o que queriam! Na sua fé, Abraão e Sara tinham a certeza de que Deus os conduzira até aí e lhes dava essa terra, como ficou anotado no livro de Gênesis (Gn 12,7).

2. Os nossos antepassados
Os nossos antepassados também trilharam caminhos semelhantes. Ao deixar para trás a pátria de origem meteram os pés na água e atravessaram o terrível mar. Na alma e no coração carregavam o sonho de serem proprietários de um pedaço de terra. Esse sonho era mais forte do que as incertezas e  o medo do desconhecido. Enraizados na fé e na família acreditaram no trabalho. Assim os muitos obstáculos foram superados e da terra generosa extraíram o pão de cada dia. Foi bom demais!

3. Herdeiros com muita honra
Hoje, aqui estamos. Herdamos a cultura, a fé e a luta. Herdamos também a terra como “um tesouro em vaso de barro”, como sempre lembrava São Paulo. Daí a missão de cuidar da terra, como cuidamos de uma mãe. Do seu ventre brota a água, o alimento e tudo o que necessitamos para bem viver. Como seres humanos, não devemos esquecer que a palavra humano vem de “húmus”, isto é, terra. Temos por isso consciência de que fomos feitos do barro, conforme lemos em Gênesis 2,7. É por isso que a terra está grudada nos pés e na alma, de tal maneira que é impossível viver sem ela.

4. A agricultura familiar
Os pequenos agricultores do Rio Grande do Sul produzem quase a totalidade dos alimentos consumidos por todos, enquanto os grandes produtores plantam para a exportação. Sobre a mesa de pobres e de ricos vai o alimento produzido nas pequenas propriedades familiares. Mais uma vez podemos dizer que os ricos dependem do trabalho dos pobres...

5. Perigos à vista
Quando um pequeno agricultor decide trocar a roça pela cidade deve pensar muito e fazer bem as contas. Ao se mudar para a cidade, geralmente perde três coisas: a liberdade de decidir, a comunidade para conviver e a fartura da mesa... Sobretudo, nada substitui o prazer de administrar a propriedade que os seus pais construíram com tanta garra. É preciso também avaliar as ilusões do encanto prometido ou imaginado. Na cidade, a vida perde qualidade e a família fica mais exposta. Sobretudo, os jovens são vítimas de muitas tentações e perigos. Concorda?

Questões para debate:
1) Ler o texto de Gn 12,1-9.
2) Que compromisso a Palavra de Deus nos leva a assumir em relação ao uso da terra?

A Quarta Romaria da Terra Realizada na Diocese de Passo Fundo

por Pe. Renato Biasi, Lindomar Treviso, Ari Bertuzzi e Darci Preto

Desde 1978, quando foi realizada a primeira Romaria da Terra no Rio Grande do Sul, a Arquidiocese de Passo Fundo já acolheu por três vezes esse evento, organizado em mutirão e no compromisso de colegialidade, envolvendo: Regional Sul 3 da CNBB, a Igreja particular que acolhe, a Comissão Pastoral da Terra e representantes de Igrejas cristãs e entidades sociais. A 38ª Romaria, que acontece em David Canabarro, é a 4ª que realizamos com este espírito em nossa Arquidiocese.


1. As Romarias já realizadas na Arquidiocese:

1ª) 5ª Romaria da Terra: ocorreu em 23 de fevereiro de 1982, na localidade de Encruzilhada Natalino, município de Ronda Alta. Ali estavam acampadas cerca de 600 famílias sem terra da região. Estava iniciando um movimento que ganhou grandes proporções na luta pela reforma agrária. Teve como lema: “Povo unido jamais será vencido” e contou com a participação de aproximadamente 33 mil romeiros.

2ª) 9ª Romaria da Terra: realizada no dia 11 de fevereiro de 1986, na Fazenda Annoni, município de Sarandi, que foi palco de uma grande ocupação, no dia 29 de outubro de 1985, com cerca de 1,5 mil famílias. Motivados pelo lema “Terra de Deus, terra de irmãos”, ali se reuniram aproximadamente 60 mil romeiros, junto com os acampados, para rezar, celebrar e discutir a questão da reforma agrária, entre outros assuntos.

3ª) 23ª Romaria da Terra: foi em 07 de março de 2000, na cidade de Casca. O dia de encontro, celebração e reflexão foi iluminado pelo lema “Agricultura familiar: esperança, luta e desenvolvimento” e reuniu mais de 30 mil romeiros.

2. Algumas motivações para acolher a Romaria da Terra na região de Passo Fundo

Em 2015 estaremos realizando nossa quarta Romaria, que está em sintonia com algumas motivações. Em primeiro lugar, pelo compromisso de acolher a Romaria no espírito de solidariedade com a Igreja do Rio Grande do Sul, uma vez que segue um princípio de rodízio entre as dioceses para acolher e organizar em conjunto com a CPT-RS.
Em segundo lugar, a luta pela reforma agrária ganhou uma expressão muito forte na Arquidiocese de Passo Fundo e adquiriu corpo e forma em muitas bandeiras, movimentos sociais e políticos. Todo este movimento teve sua origem no seio da Igreja profética que acolheu e apoiou esta luta.
Entretanto, a motivação principal é pelo fato da Arquidiocese de Passo Fundo contar com uma realidade bastante plural em termos de pequenos agricultores familiares, assentamentos, experiências de agroecologia, trabalhos de grupos de economia solidária, de um lado e, de outro, a realidade do latifúndio, o agronegócio e a agricultura extensiva com alto índice de uso de agrotóxico.
No texto-base da 5ª Romaria da Terra, realizada na Encruzilhada Natalino, se dizia: “Estes colonos simples (...) mostraram que as terras do Rio Grande do Sul, que sempre foi considerado o celeiro do Brasil pela produção de suas pequenas propriedades, estão cada vez mais se concentrando nas mãos de uns poucos. E estes, por sua vez, as utilizam não para produzir comida e vida, mas sim dinheiro e capital para uma minoria”. Essa realidade continua visível nos dias atuais. A luta pela reforma agrária continua e faz muito bem para a vida da nossa nação, tanto em termos sociais como na linha da produção e desenvolvimento econômico sustentável.
No caso da Fazenda Annoni, ali se criava gado, mas abaixo da produtividade estipulada pelo Estado. Nesta área de 9 mil hectares, hoje vivem 420 famílias, divididas em 5 assentamentos. Os agricultores produzem, entre outros itens, cerca de 20 mil sacas de trigo, 6 milhões de litros de leite e 35 mil sacas de milho por ano (Fonte: MST, 2007). Ali também existe uma Escola Técnica, o Instituto Educar, cujos educandos são filhos de assentados e acampados. Há um laticínio que resfria e comercializa cerca de 1 milhão de litros de leite por mês. A meta é industrializar produtos como queijos e iogurtes. Há um frigorífico que abate, por mês, cerca de 800 suínos e 300 bovinos e fabrica cerca de 2 mil quilos de embutidos como salames e linguiças. Tudo isso se desenvolve sobre o que era um latifúndio improdutivo, saltando aos olhos que a reforma agrária dá certo e é necessária e urgente.

3. O Município de David Canabarro

O município de David Canabarro foi criado em 28 de dezembro de 1965, com área de 175 km². Possui uma população de 4.683 habitantes, sendo que 2.771 no meio rural e 1.912 no meio urbano (IBGE, Censo 2010). No meio rural existem 948 propriedades, sendo que 925 possuem uma media de 14,82 ha e 23 propriedades possuem uma media de 43,39 ha.
É um município essencialmente marcado pela agricultura familiar, com produção diversificada. Ainda é alto o índice de pessoas que vivem no meio rural, produzindo alimentos e gerando receitas para o setor público.
As principais fontes geradoras de renda e imposto para o município são: a agropecuária, respondendo por 52,35% do valor bruto adicionado; os serviços, que respondem por 43,31%; e a indústria com 4,34%. No tocante aos produtos e atividades agropecuárias desenvolvidas, destacam-se: milho, soja, feijão, fumo, leite, fruticultura (com ênfase para moranguinho, uva e ameixa preta), integração com setor de aves e de suínos. Em relação ao cultivo do fumo, a área de produção tem diminuído nos últimos tempos, fruto das campanhas de alternativas à sua produção.
Manter esta realidade de agricultura familiar nas pequenas propriedades, gerando renda que permita a família viver com dignidade e segurança é o grande desafio das entidades do município de David Canabarro.

Questões para debate:
1) Como vamos nos organizar para participar da 38ª Romaria da Terra?
2) Quais os problemas sociais da nossa realidade e que esperamos refletir e rezar na Romaria?

Romaria da Terra: Por Que?

por Frei Wilson Dallagnol*
“A terra não pode ser transformada em simples mercadoria para produzir lucro,
através da especulação ou da exploração do trabalho”
(CNBB, A Igreja e a questão agrária no século XXI, nº 89)

Romaria, romeiro, peregrinação, peregrino... Sou eu, é você, é o Povo de Deus desde o tempo de Abraão. É ir onde Deus nos envia. É “saída” do próprio eu e do próprio lugar para experimentar novos ares, novos ambientes de vida.
Quando nos colocamos em romaria é porque acreditamos que juntos podemos alimentar sonhos, reforçar utopias, debater problemas, buscar soluções, partilhar conquistas... É o encontro com o Deus da vida que alimenta a luta. A Romaria da Terra é tudo isso, feito em mutirão, coletivamente.
A Romaria da Terra tem a marca da consciência de uma fé madura e engajada no compromisso de transformação da sociedade. Ela é o alimento espiritual daqueles que lutam pela vida. É a luta pela terra, compreendida como dádiva de Deus e como espaço de vida. E junto com a terra está a luta por saúde, escola, água, transporte, alimentação saudável, ecologia... Assim, a Romaria da Terra une fé e luta, fé e vida.
Os pobres da terra podem dizer na Romaria da Terra o que sentem, sofrem, desejam, em uma linguagem popular. É a expressão da vida, da caminhada penitencial, do sentimento comum, da denúncia... A Romaria da Terra revela a realidade da vida e do sonho do Povo da Terra, do campo e da cidade.
A terra é lugar sagrado, feito com carinho por Deus, a fim de ser o chão, onde firmamos os pés e tiramos o indispensável para a vida: alimento, abrigo, saúde, lazer... É um bem natural, que pertence a todos. Ela não foi dada a ninguém, mas tão somente “emprestada” por Deus, para que pudéssemos viver.
Portanto, a terra é um “bem emprestado”. Como inquilinos não podemos devolvê-lo ao Deus Criador estragado. No começo, todos a respeitavam realmente como um bem, tirando tão somente o necessário para viver. Não havia cercas. Ninguém era dono individual (privado) de nada. Tudo estava a serviço de todos, segundo o plano de Deus. Mais tarde, alguns começaram a se apoderar de enormes áreas, considerando-se donos exclusivos, como se tivessem recebido “escrituras” de Deus. Foi o início da exploração do homem pelo homem. A Romaria da Terra é uma denúncia a esta compreensão errada e enganosa da posse e do uso da terra.
A Pastoral da Terra assumiu a riqueza da experiência popular. Começou a promover no Brasil, Romarias da Terra, das águas, das matas e florestas... Nossa Romaria da Terra é feita nos lugares de conflitos e cruzes dos agricultores. Ela vai a um lugar onde o povo está sofrendo e o anima, confrontando com o Evangelho as diversas experiências e conquistas. A Romaria da Terra no Rio Grande do Sul é feita em “lugares símbolos” de luta do Povo de Deus. O próprio “lugar” é motivo forte de realização da Romaria da Terra.
A Romaria da Terra é a “grande Romaria” de todos os sem terra: atingidos por barragens, índios, negros, mulheres, pequenos agricultores, meeiros, safristas, boias-frias e jovens que buscam dias melhores. Com a Romaria da Terra, faz-se memória das tantas romarias feitas por Abraão, Moisés, Débora, Rute, Maria...
O sentido da Romaria da Terra expressa a realidade que o povo da terra vive. É, portanto, ato penitencial, símbolo levado ao altar, poesia ou trova que se proclama na tribuna do povo, caminhada por um mundo novo e liberto. 
A Romaria da Terra é capaz de “ensaiar” um tempo novo, alentando a esperança. É a celebração em que o povo se reúne para louvar e agradecer a Deus pelas conquistas alcançadas. Ela faz eco da relação dos romeiros com a terra e com a vida, como inspiração de Deus e como tarefa que Ele pede de todos.
A Romaria da Terra expressa a caminhada do Povo de Deus em busca “de nova aurora, de um novo dia”. É profunda sintonia do desejo de Deus, que vê, ouve e se sensibiliza como os clamores de seu Povo e que a Igreja ensina em sua Doutrina Social.
E o que dizer da “data” da Romaria da Terra no RS? Ela acontece na terça-feira de carnaval, por ser o aniversário da morte de Sepé Tiaraju. É a lembrança da História dos Sete Povos das Missões. No dia 7 de fevereiro de 1756, os invasores espanhóis e portugueses mataram Sepé Tiaraju e 1.500 soldados indígenas, terminando a República Cristã dos Guarani, que batizou todas estas terras do Sul. Estes sim foram os invasores!
A cada ano, os romeiros da terra fazem ecoar o grito de Sepé: “Alto lá, esta terra tem dono. Nós a recebemos de Deus e só Ele nos pode tirar”. As Romarias da Terra fazem parte da agenda do militante popular desde 7 de fevereiro de 1978.
Os índios inspiram os colonos a se organizarem e lutarem pela terra, pela água, pela alimentação saudável. A partir da Romaria da Terra consolidou-se uma unidade entre os pobres do campo e da cidade. Aqueles que lutam pela vida estão juntos e buscam soluções de força organizada e sadia.
A Igreja, a sociedade organizada, os índios, os quilombolas, os camponeses e seus movimentos populares vão unificando suas lutas e consolidando suas conquistas, ao redor de um mesmo projeto, que para nós é o Reino de Deus. E a Romaria da Terra é um espaço sagrado para unificar e solidificar as lutas do Povo simples e humilde. Não por nada que já está na sua 38ª edição.

Questão para debate:
1. Qual a relação entre a fé que professamos e as lutas sociais por reforma agrária, preservação do meio ambiente, apoio à agricultura familiar, produção ecológica de alimentos, entre outras?

*Frei Wilson Dallagnol é Capuchinho, Teólogo, membro da Coordenação da CPT-RS e professor na faculdade de Teologia da ESTEF.