segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Audiência Pública em Vale Verde debateu o tema da aplicação de agrotóxicos por meio de avião agrícola

Por Maurício Queiroz*
A população do pequeno município de Vale Verde RS, localizado no Vale do Rio Pardo, está preocupada com o anúncio da instalação de uma empresa de aviação agrícola para pulverização aérea de agrotóxicos, trata-se da empresa Agrigel. Este foi o tema da audiência pública que envolveu mais de 90 participantes do município e da região.
Professor Jânio Weber coordenou a atividade e após uma introdução, convidou profissionais e lideranças para fazerem esclarecimentos e depoimentos sobre o tema. O Engº Agrº José Kroef Schmitz que é professor da Universidade Estadual o Rio Grande do Sul - UERGS e que também representou a Articulação em Agroecologia do Vale do Rio Pardo - AAVRP, iniciou dizendo “é  uma ocasião oportuna para discutirmos que tipo de desenvolvimento queremos para a nossa região”, explicou como são nocivos os agrotóxicos para a saúde, para o meio ambiente e também a classificação toxicológica. José disse que um agricultor ecologista de Santa Cruz do Sul já havia sido vítima de contaminação de seus cultivos por aviação agrícola e que isso é inadmissível, também citou o caso do município de Lucas do Rio Verde no Mato Grosso onde uma escola foi alvo de pulverização por avião agrícola levando inclusive algumas crianças a morte. Prof. José ainda disse “temos o direito à ter saúde e ao meio ambiente saudável”,terminou dizendo que a pulverização aérea de agrotóxicos é a pior prática, por que o veneno se espalha muito longe, a maior parte do veneno cai em outros locais e não no local planejado. Adriana Skamvestsakis, Médica do Trabalho, representando o CEREST/Vales (Centro de Referência em Saúde do Trabalhador) explicou os tipos de intoxicações causadas pela exposição dos trabalhadores e trabalhadoras aos agrotóxicos “não existe níveis seguros, qualquer tipo de exposição causa dano mais cedo ou mais tarde, com a manifestação de algum tipo de câncer por exemplo” “a aviação agrícola, no caso aplicar agrotóxicos de avião não é nada segura, já se sabe que contamina muito e não há como controlar”concluiu Adriana.
A vereadora, professora Cecília Niemeyer, disse que a audiência é fundamental para ouvir a sociedade num tema tão importante e preocupante como o da instalação desta empresa de aviação agrícola em Vale Verde e que a administração deveria antes de aprovar e apoiar tal projeto deveria ouvir a população local. A vereadora disse “a câmara de vereadores aprovou o projeto sem ouvir o povo, fui a única a ser contra por entender que instalar tal empresa na área urbana é muito prejudicial ao povo e que já existe várias reclamações de agricultores que tiveram seus cultivos contaminados por avião agrícola que passou sobre suas propriedades”.
Na seqüência o presidente do Conselho Agropecuário do município também se manifestou contrário a instalação da empresa, disse que agricultores foram prejudicados por tal prática, em seguida a coordenadora Diocesana da Pastoral da Terra, Oldi Helena Jantsch, que também falou em nome da Articulação da Agroecologia do Vale do Taquari - AAVT, disse que “nós trabalhamos com agricultores e agricultoras nos vales dos rios, Pardo e Taquari, agricultores estes que também são vitimas de intoxicações por agrotóxicos e que estão morrendo além da população em geral que sofre com isso” e finalizou dizendo “Deus não quer isso para nós, Deus quer que tenhamos vida e vida plena e que nós devemos ser contra a aplicação de agrotóxicos por avião, lutamos para que esta prática altamente prejudicial a vida seja proibida em todo o Brasil”concluiu dizendo “existe um outro caminho possível e viável, produzir alimentos saudáveis e ecológicos”.
Após os esclarecimentos e depoimentos houve espaço para manifestação dos participantes entre as manifestações mais marcantes foi a de uma professora que disse “é a nossa vida que está em jogo, não participamos dos lucros destas empresas, mas arcamos com os enormes prejuízos”
O jovem agricultor Junior Roberto Frei, 19 anos, disse que teve sua propriedade contaminada por um avião agrícola, perdeu uma lavoura de fumo além de ter também a horta familiar contaminada, horta que fica a 10 metros da residência, outro agricultor, o senhor Milton Daniel Souza, de Pagador Martel, interior de General Câmara - RS, também teve sua propriedade atingida com o veneno. Para Júnior disseram que era Roundup, mas ele não tem certeza disso, a certeza que tem é que é um veneno forte, pois matou a plantação.
Este é um relato pequeno de tanto debate que houve nesta manhã curta e com tantos outros depoimentos para serem dados, mas o tempo não permitiu. O Prefeito municipal esteve lá e tentou justificar dizendo que não entende de agricultura, mas que se os agrotóxicos forem bem aplicados, com os devidos cuidados ele acha que não é problema. Houve reações a sua fala. Me lembro que um dos professores disse assim “não estamos aqui para proibir o uso de veneno, o que estamos debatendo é a instalação desta empresa na cidade e os riscos de contaminação “, em resposta a alguém que estava tentando distorcer a conversa.
O que é importante destacar é que houve uma reação forte da sociedade local, professores e jovens estavam lá. Lamentável foi a ausência do Ministério Público e da FEPAM, que segundo Jânio, foram convidados e não vieram. 
O fato foi criado, despertou um grande debate local e regional, pois fato semelhante já havia acontecido em Santa Cruz do Sul meses antes com a mesma empresa que por pressão local não se instalou. A partir deste fato e de tantos outros, Brasil afora, reascendeu o debate sobre os enormes riscos do uso de agrotóxicos, especialmente da prática de aplicar veneno de avião, que é realmente uma afronta a vida. Fiquei pensando não seria o momento oportuno para voltar a trazer o tema da proibição da aplicação de agrotóxicos de avião? Que tal a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, campanha desempenhada por dezenas de entidades em todo o Brasil, mexer novamente com o tema? E pensei mais, que tal realizarmos audiências públicas nos municípios do RS e de todo o Brasil sobre a temática dos Agrotóxicos e dos Transgênicos, mexendo com a população para ganharmos cada vez mais força?
Ao encerrar a audiência ficou encaminhado realizar no município um seminário sobre agroecologia e outro sobre a saúde do trabalhador.

*Maurício Queiroz é Técnico Agrícola e membro da Coordenação da Comissão Pastoral da Terra - CPT-RS

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

David Canabarro vai receber 38ª Romaria da Terra e 10º Acampamento da Juventude

A 38ª Romaria da Terra e o 10º Acampamento da Juventude vão ocorrer no município de David Canabarro/RS. Como já se tornou tradição, a Romaria da Terra é precedida pelo Acampamento da Juventude, que em 2015 chaga a 10ª edição.
A 38ª Romaria da Terra, promovida pela CPT-RS, CNBB Sul III e Arquidiocese de Passo Fundo, tem como Tema: Sucessão Rural Familiar, Políticas Públicas e Sustentabilidade, e o seu lema é: “Eu darei esta terra a sua descendência” (Genesis 12:7)
Acompanhe AQUI no blog da CPT-RS as notícias e textos na página da 38ª Romaria da Terra

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Nota de Esclarecimentos do MPA Sobre Reportagem da RBS

MOVIMENTO DOS PEQUENOS AGRICULTORES – MPA 
NOTA DE ESCLARECIMENTO DO MPA RS

Diante das denúncias contra o Movimento dos Pequenos Agricultores envolvendo os Municípios de Santa Cruz do Sul e Sinimbu, em suposto desvio de crédito rural do Pronaf, a Direção Estadual do MPA vem esclarecer seus membros, apoiadores e sociedade em geral.
1º - O MPA estranha muitíssimo esta denúncia ser divulgada pelos órgãos da RBS, justamente a dois dias das eleições, com intuito claramente eleitoral, pois seus ex-funcionários são candidatos ao governo e ao senado. 
2º - O MPA nega qualquer envolvimento com qualquer tipo de irregularidade ou desvio de crédito do PRONAF. O MPA lutou muito para conquistar este crédito e zela por seu correto uso.
3º - As irregularidades alegadas envolveriam a ASPAC – Associação Santacruzense de Pequenos Agricultores Camponeses - que atuou no Município de Santa Cruz do Sul e Sinimbu. 
4º - A direção estadual do MPA tomou conhecimento de reclamações em relação a ASPAC, sendo a mesma sendo orientada a resolver estes problemas  e como medida de precaução, a ASPAC ficou impedida de continuar acessando crédito com agricultores vinculados ao Movimento.
 5º - Posteriormente o Banco do Brasil procurou o MPA Estadual para analisar a situação da alta inadimplência nos dois municípios e da forma de liberação de crédito, através da Associação. O MPA estadual afirmou não concordar com esta prática que está sendo denunciada. A orientação do MPA é o repasse na conta do agricultor ou do fornecedor. O BB informou que determinaria a estas agências a não mais proceder desta forma, com total apoio do Movimento. 
6º - O MPA alerta a sociedade que nesta região fumageira é prática comum as indústrias fumageiras e as instituições ligadas ao setor tomarem crédito em nome dos agricultores nos bancos.
7º - Caso tenha havido irregularidades entre a ASPAC e seus associados, uma vez provadas, cabe as medidas necessárias após a devida identificação dos fatos  e dos responsáveis. O MPA Estadual não pré-julga ninguém porque não é sua função e as medidas que lhe cabiam foram tomadas tão logo tomou conhecimento suspendendo a ASPAC da possibilidade de acesso ao crédito através do MPA.
8º - O MPA refuta com indignação o uso político eleitoral de fatos não provados, envolvendo o MPA, talvez por sua luta contra a exploração dos pequenos agricultores do Rio Grande do Sul e principalmente nesta região. 
9º - O MPA se coloca a disposição das autoridades para qualquer informação ou esclarecimento que julguem necessárias.

Santa Cruz do Sul, 03 de outubro de 2014.

Direção Estadual do MPA - RS 

ORGANIZAR - PRODUZIR – ALIMENTAR