quarta-feira, 28 de maio de 2014

Tema e lema da 38ª Romaria da Terra definidos na primeira reunião ampliada


por Victória Holzbach*
O povo da Arquidiocese de Passo Fundo está dando importantes passos para o grande encontro, que ocorrerá em 17 de fevereiro de 2015, em David Canabarro.
A paróquia Sagrada Família, de David Canabarro e Muliterno, reuniu no centro comunitário, cerca de 80 pessoas no sábado, 17 de maio, para a primeira reunião ampliada em preparação a Romaria da Terra. Na composição dos presentes, fizeram-se presentes várias entidades ligadas à temática, Pastoral da Juventude, PJR, representantes do assentamento, MAB, MST e outras lideranças. Foram refletidas de forma especial as temáticas do contexto de mudança de época, sucessão familiar, políticas públicas e agricultura familiar, a fim de auxiliar na escolha do tema e lema da 38ª edição da romaria. Neste processo, definiu-se “Sucessão rural familiar, políticas públicas e sustentabilidade social” como tema e “Eu darei esta terra a sua descendência” (Gn 12, 7), como lema.
A reunião ampliada deste sábado iniciou com a oração, motivada pelo Pe. Wilson Lill e seguiu com a acolhida do pároco de David Canabarro, Pe. Edi Fávero e do prefeito municipal, Marcos Antonio Oro. Na ocasião, o prefeito acolheu todos os presentes e ressaltou de forma especial sua disposição para auxiliar no que for possível, caminhando junto com a equipe organizadora da romaria.
Na sequência, Frei Olavio Dotto, articulador estadual da Comissão Pastoral da Terra – CPT, relembrou a história das últimas 37 caminhadas, trazendo presente os diversos temas e públicos prioritários das romarias. Frei Dotto explicou também o que é a CPT e destacou que a Pastoral procura estar presente nas mais diversas situações do campo.
Para auxiliar na reflexão das temáticas propostas, especialmente na questão da mudança dos tempos, a ampliada contou com a assessoria do Pe. Ivanir Rodighero, Reitor do Seminário Nossa Senhora Aparecida e da professora e vice-diretora da Itepa Faculdades, Selina Dal Moro. “Enfraqueço quando o novo me assusta. E minha mente insiste em não aceitar”, iniciou Pe. Ivanir, apontando também algumas falas do Papa Francisco nesta perspectiva. O presbítero apresentou a ideia de Ricardo Rossato, que afirma: “os últimos 20 anos geraram mudanças radicais que correspondem as dos últimos 20 séculos. Nenhuma época pode ser comparada com a época atual”. Ele comentou ainda que o que vivemos hoje não é uma crise na forma de organizar a sociedade, mas de todas as formas. Nota-se a dificuldade da geração adulta transmitir os seus valores á nova geração. Em meio a tudo isso, a Romaria da Terra tem que buscar transmitir o espírito de Jesus, referência, a sua dinâmica liberta das amarras que o próprio ser humano cria.
Deram-se também encaminhamentos ao 10º acampamento da juventude. Na sequência, a formação ficou por conta de Vilmar Leitzke, técnico da Emater, que explanou sobre o contexto da permanência do jovem no campo, da sucessão familiar e das políticas públicas para a juventude. Segundo ele, o jovem não fica no campo, na maioria das vezes, pela ausência de liberdade para a tomada de decisões na família e na propriedade. “O problema não é renda, é autonomia”, realçou. Leitzke enfatizou ainda os desafios da sustentabilidade ambiental, social, econômica, política, ética, cultural e religiosa. “O meio rural não pode ser uma falta de opção para o jovem, mas sim a possibilidade de uma escolha entre tantas oportunidades”, concluiu.
A reunião debateu ainda outros encaminhamentos referentes a 38ª Romaria da Terra, como o cartaz, materiais de divulgação, caminhada, celebração e o 10º Acampamento da Juventude, que integra a programação da romaria. Para concluir, foi realizada uma caminhada com os símbolos da Romaria da Terra – cruz e círio – e a Celebração Eucarística, presidida pelo Pe. Renato Biasi, coordenador arquidiocesano de pastoral.
*Victória Holzbach é Assessoria de Comunicação da Arquidiocese de Passo Fundo
imprensa@arquidiocesedepassofundo.com.br

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Ocupação de Territórios no Rio Grande do Sul, um Desafio ao Diálogo

por: Maurício Queiroz e Simonne Pegoraro*
Nos dias 08 e 09 de maio, estiveram reunidos em Rio Pardo - RS, para momento de formação, mais de 20 lideranças e agentes da Pastoral da Terra (CPT), refletindo sobre "Ocupação dos Territórios", buscando compreender como se deu a ocupação das terras no Rio Grande do Sul. 
Assessorados por Jaques Alfonsin e Frei Sergio Görgen os participantes debateram, além da estrutura fundiária, a origem de desigualdades regionais no Estado, decorrentes da ocupação territorial e sociocultural, por conseguinte nas atividades econômicas nela estabelecidas. As populações envolvidas no processo de colonização e povoamento. A origem das pequenas propriedades rurais e as propriedades de grandes extensões territoriais. Além do processo de desigualdade econômica (e social) no Rio Grande do Sul, no qual a estrutura fundiária é tida como o elemento fundamental dessa diferença. 
Jaques Alfonsin aprofundou, com participantes, diversas questões relacionadas à legislação. Comentou sobre a violação de direitos, pois, nem sempre considerar o cumprimento da lei é fazer justiça, também há o reconhecimento de leis mas sem garantia de coloca-las em prática. Há uma inversão de valores. Existe uma normatividade aos direitos fundamentais, enquanto por outro lado há a superioridade das leis de mercado sobre o bem estar social, que introjeta a inferioridade em relação a si próprio e ao mundo. Nesse sentido a simples condição de pobreza e miséria daqueles que tem direito a Reforma Agrária, já constitui violação de direitos. O Estatuto da Terra, aprovado e regulamentado ainda antes da Constituição Federal, traz como condição principal e primordial a função social da propriedade, que é o uso da propriedade como garantidora de direitos fundamentais. A falta de vontade política e as conveniências e concessões são os principais motivos para a não concretização da Reforma Agrária.
Frei Sergio abordou a questão da ocupação do território no RS através de um apanhado histórico do importante processo da luta pela terra no Rio Grande do Sul, onde a estrutura latifundiária, ainda hoje, é o centro de uma disputa social, jurídica e política herdada do império português. Percorreu, com os participantes, toda história das capitanias hereditárias, sesmarias, das missões guaranis, grandes fazendas de monocultura de exportação, modernas empresas agropecuárias e o não respeito pelos povos indígenas que habitavam o estado quando algum povos foram exterminados quase que completamente, a chegada dos escravos negros e posteriormente a dos imigrantes europeus. O que fez com que nosso Estado apresente uma super concentração de terras de um lado e de outro, podemos dizer, uma super divisão.
Foi destacada a luta dos pobres pela sobrevivência, pela melhoria das condições de vida. Destacou- se os assentamentos como resposta econômica possível da Reforma Agrária e a pequena propriedade.
O território cria identidades locais e ambientais. E todos os povos, sejam indígenas, negros, ou pequenos agricultores, lutam por tradições, por sobrevivência e por perspectivas de futuro sem destruição de sua própria história e seus meios de vida. Discutir a questão da ocupação dos territórios levanta o desafio do diálogo, do respeito  e da construção da unidade política entre várias culturas e identidades camponesas para a luta comum pelo direito à existência e pelo direito à construção do futuro.
Destacamos, como participantes do encontro, a presença de indígenas, assentados, agricultores agroecológicos, quilombolas, trabalhadores urbanos, jovens agricultores, jovens da Escola de Jovens Rurais de Santa Cruz.

*Maurício Queiroz e Simonne Pegoraro são agentes de pastoral, membros da Coordenação da CPT-RS