sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Oldi fala ao Jornal Pé na Terra sobre o surgimento e a luta da CPT no Brasil

Numa edição especial, o jornal Pé na Terra apresenta uma entrevista mais que especial com a agricultora e agente de pastoral Oldi Helena Jantsch, carinhosamente chamada de Tiririca. Para a CPT-RS é motivo de orgulho poder reproduzir esta entrevista aqui em nosso blog. Afinal, a Tiririca tem uma trajetória fantástica de doação e serviço em favor da causa e da luta dos camponeses, pequenos agricultores e sem terra. A sua luta tem a marca da inovação com uma consistente preocupação ecológica, de modo especial através da preservação das sementes crioulas. Por onde anda, Oldi leva consigo as sementes de vida e esperança e seu trabalho vem florescendo muito, especialmente com uma nova geração de consciências defensoras da vida através da Escola de Jovens Rurais. Oldi é uma agricultora, uma mulher camponesa que expressa orgulho de cultivar a terra.
Segue a entrevista. Boa leitura...

Oldi Helena Jantsch, popularmente conhecida por Tiririca, mora no município de Cruzeiro do Sul-RS, coordena a Comissão Pastoral da Terra na Diocese e também a Escola de Jovens Rurais-EJR juntamente com uma equipe. Nesta edição especial do Pé na Terra ela conta para nós a trajetória do trabalho da CPT na região e no Brasil. Oldi é filha de pequenos agricultores e há muitos anos atua na defesa e na luta pelos direitos do povo da roça.

Pé na Terra - Oldi quando surgiu a CPT no Brasil? Por que ela foi criada?
Em 22 de junho de 1975 nasceu a Comissão Pastoral da Terra-CPT. Ligada a igreja católica sempre foi uma pastoral social comprometida com o povo mais pobre. A motivação inicial de seu surgimento foi a causa dos posseiros e indígenas que se encontravam em extrema pobreza. A causa do bóia-fria, sem-terra e o do pequeno agricultor e agricultora.
Atualmente a CPT está organizada em todo o Brasil e mantém firme a mística inicial como uma “Pastoral de Fronteira”, ou seja, chegando nas fronteiras onde ninguém chega, onde se encontra o povo mais excluído. Neste sentido podemos perceber que a CPT foi criada para defender o pequeno agricultor, camponês, jovem e mulher da roça, povos tradicionais (indígenas e quilombolas) e também preocupada com a natureza.

Pé na Terra- E a Romaria da Terra?
Podemos dizer que hoje existe Romarias da Terra em várias regiões do Brasil, mas ela surge aqui no RS no ano de 1978, foi neste ano que a CPT do RS começa a organizar as Romarias da Terra que sempre acontecem na terça-feira de carnaval, pois foi neste dia que o índio Sepé Tiarajú foi assassinado covardemente quando defendia seu povo no ano de 1756, em memória a causa e luta dos índios a Romaria da Terra sempre é realizada no dia do carnaval. Sepé Tiarajú é o patrono da CPT aqui no RS.
O importante é dizer que a Romaria da Terra é a romaria do camponês, do pequeno agricultor. É na Romaria da Terra que o povo se encontra para fortalecer a sua mística, sua fé, a esperança para ir seguindo em frente firmes na luta. Mas que luta? você pode me perguntar?, Toda a luta em defesa da vida como diz o tema da Romaria da Terra de 1990 realizada em Erveiras “Povo que Luta Defende a Vida”, é isso mesmo, é defender a vida. É a luta pela Reforma Agrária, luta pela demarcação das terras indígenas, do reconhecimento dos povos Quilombolas, a luta dos jovens da roça, da mulher da roça a luta por um modelo de produção que respeite o agricultor/a e a vida como um todo, por isso agricultura ecológica.
                                                                                                
Pé na Terra – O que a CPT tem haver com os Movimentos Sociais, Via Campesina?
Primeiramente quero dizer que a Pastoral da Terra é a sementeira de nascimento dos movimentos sociais, é a mãe dos movimentos sociais, por isso a CPT está envolvida diretamente com estas organizações, suas lutas e mobilizações. “A CPT não é o movimento e a organização dos lavradores, mas uma organização de Igreja a serviço dos mesmos e de sua causa. A CPT contribui com o que lhe é específico, isto é, animando, conscientizando, assessorando e dinamizando as lutas.”(Livro As Romarias da Terra no Rio Grande do Sul-Um povo a caminho da “Terra Prometida” pg 198).
Um dos grandes refrões que a CPT no Brasil sempre reforça ao se referir da necessidade urgente da Reforma Agrária, “Repartir a Terra para Multiplicar o Pão”.
                                                                                
Pé na Terra – Este ano a CPT Diocesana está organizando o 13º Encontro Diocesano de Sementes Crioulas que irá acontecer no município de Cruzeiro do Sul dias 21 e 22/08/2013. Por que a CPT organiza estes encontros?
A CPT em todo o Brasil tem a consciência de que semente crioula é fundamental para as famílias da roça terem autonomia, alimentação saudável, soberania e segurança alimentar. A sobrevivência do camponês depende da preservação destas sementes e a sociedade como um todo precisa apoiar esta luta pois é o alimento, verdadeiro que está em jogo. É a possibilidade de ter comida saudável que está em jogo.
Quando organizamos o 1ºEncontro Diocesano de Sementes Crioulas, no ano de 2001 em Santa Cruz do Sul reunimos mais de 160 agricultores e agricultoras e de lá prá cá cada vez mais agricultores participam demonstrando o sucesso que é os Encontros Diocesanos de Sementes Crioulas.

Pé na Terra- Oldi por favor, deixe aqui a sua mensagem aos agricultores e agricultoras.
É com muita alegria que convido você agricultor, você agricultora e jovens da roça, lideranças e apoiadores desta causa, para participarem do 13º Encontro Diocesano de Sementes Crioulas.
Vamos multiplicar as sementes, produzir alimentos saudáveis e fazer acontecer a agroecologia!!!
Viva as sementes crioulas!!!!